Na rinha
Wilson Correia
Sabe rinha? De briga de galos. Crime. Dá multa e até um ano de prisão? Pois é. Chiquito ia. Apreciava mais a reação de vencedores e perdedores. Humanos por trás de galos. De galo mesmo ele até tinha dó. Preferia encher o prato com a carne dele. Mas sempre batia ponto.
Estava calejado de sair da rocinha onde morava, no interior mineiro, andar meia légua e chegar ao palco onde galo e homem se misturavam em um evento prá lá de mórbido. Se fosse letrado, talvez tentasse compreender sua tara, a qual mantinha em secreto apenas para a polícia. Amigos e familiares sabiam daquilo.
Certa vez, o neto de Dona Filomena voltou da cidade grande, na pele do verdadeiro almofadinha. Também um aficionado no jogo e em taras atravessadas.
Foi logo reparando em Chiquito: cigarrinho de palha na mão, chapéu de abas curvadas ao céu, bigode amarelecido pela nicotina.
– O senhor vem sempre aqui?
– Se Deus guarnece, a gente aparece.
– Conhece bem o “gado” que passa por aqui?
– Cunhecê, cunhecê, não. Ariscamo uns parpite.
– Hum.... Daqueles dois ali, o vermelho ou o branco é o bom?
– O bão achu o vermei.
– Toma cem pila pela informação.
– Num carecia, moçu...
Enquanto ouvia o agradecimento do mineiro, o posudinho apostou cinco mil no vermelho. E acompanhou todo o espetáculo que enfureceria a Sociedade Protetora dos Animais.
Ao fim e ao cabo, o galo rubro quedou desfalecido. Perdera até a última gota de sangue. Nem para encher o prato de Chiquito ele serviria.
O playboyzinho partiu para cima do mineirinho:
– Seu bunda mole... não me disse que o bom era o vermelho? Devolve minha grana!!!
Ao que, mineiramente, Chiquito devolveu:
– Devorvo nada! Cê perguntô quar era o bão. O bão era o vermei. O branco é qui é do mar.
Agradeço ao Eldinho pela pérola.