Nossa Língua Portuguesa - Parte II

NOSSA LÍNGUA PORTUGUESA COM UMA PITADA DE HUMOR - PARTE II

(Autora: Elian Bantim)

O menino, metediço por natureza, chegou para a mãe e perguntou:

- Mãe, qual o significado da palavra facécia?

A mãe, sem nada entender, respondeu:

- Ora, menino, eu aqui ocupada, aprontando o almoço e você me vem com uma doideira dessas.

- Não é doideira, mãe. Eu ouvi minha professora dizer para uma amiga dela, lá na escola. Ela disse também que essa palavra era uma dose certa de remédio contra o mau humor.

- Então pergunte para ela – respondeu a mãe quase impaciente, sem querer demonstrar que não sabia o significado daquele termo.

- Eu só queria ajudar, já que a senhora anda tão mal humorada ultimamente. Achei que ia solucionar seu problema.

O menino, cabisbaixo, retirou-se para o quarto e a mãe ficou na cozinha a pensar. A coitada não aguentou tanta curiosidade, deixou a comida no fogo e foi à casa da dona Mariquinha, sua comadre de longos anos. Comadre mesmo de fogueira, não de batismo. Chegando lá entrou e sem pestanejar, perguntou:

- Comadre, a senhora conhece algum remédio chamado facécia?

- Não, comadre, nunca ouvir falar. Mas para que serve?

- concluiu a amiga.

- Olha comadre – respondeu a mãe do menino - meu filho ouviu dizer que serve para curar o mau humor, e a senhora sabe, às vezes eu solto as bruxas mesmo

- Às vezes? Desculpe-me, comadre, mas não é só às vezes que você fica carrancuda, não. Isso acontece com frequência.

- Comadre, eu não vim aqui para me aborrecer, eu só achava que a senhora conhecia esse medicamento – disse a mãe do menino quase encolerizada.

Chegando em casa, sem lembrar-se do almoço no fogo, a mãe do garoto foi direto para o quarto. Pegou o telefone, ligou para a farmácia e disse:

- Moço aí tem um remédio chamado facécia?

- Facécia?! Disse o atendente – tenho que verificar. É líquido ou comprido?

- Isso eu não sei dizer. Só sei que é bom contra mau humor – concluiu ela.

- Está bem. Um momento que vou verificar.

Minutos depois o atendente retornou e proferiu:

- Não minha, senhora, não temos. Olhei aqui no sistema e ele nem reconheceu esse nome.

A mulher estava quase disposta a desistir da busca. Mesmo porque não sabia mexer em Internet. O dicionário ficava sempre com o marido e algumas vezes ele esquecia no trabalho.

Passou o dia e ela conseguiu evitar o garoto. Rezava para o tempo passar e ele esquecer aquela bendita expressão. Mãe é assim, quer sempre demonstrar para o filho que sabe tudo.

À noite, na cama, o marido percebeu a cara de zanga e o lábio torcido da mulher (como sempre) e, num tom brincalhão, perguntou:

- Meu amor, por que você não toma um chá de facécia para melhorar esse seu jeito ranzinza? Só vive aborrecida.

Ela, mais que depressa, sentou-se na cama e com cara de quem viu um fantasma, retrucou:

- Então, homem, você conhece esse remédio?

- Claro, querida, esse é um ótimo antídoto contra o mau humor. Facécia, mulher, quer dizer pilhéria, gracejo, chiste e por aí vai.

A coitada deitou-se novamente e dormiu tranquila, pois agora sabia o que dizer ao filho.

Na manhã seguinte a mulher levantou bem disposta, segura de si. Fez o café e ficou à espera do filho, torcendo para que ele repetisse a pergunta. Quando ela menos esperava o garoto chegou com mais essa:

- Mãe, qual o significado da palavra missiva? Eu vi no filme ontem. O garoto entregou um buquê de flores para a menina e disse assim: “minha princesa, entre as flores está uma missiva.”

A mãe ergueu as mãos para os céus e esbravejou:

- Valei-me, meu Deus!

Elian Bantim
Enviado por Elian Bantim em 18/06/2013
Reeditado em 19/06/2013
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