O ARMADOR

- Amor..., viu o casal que se mudou aí para o 204?

- Ah, vi sim, dei com eles hoje no elevador.

Ele, pela manhã com o vizinho:

- Bom dia vizinho, vocês são os novos moradores do 204, certo?

- Bom dia, meu nome é Ricardo. Sim, chegamos há dois meses.

- Sou o Gerson, sejam bem vindos, moro no 306, gostaria de falar com você um assunto particular...sabe, é uma coisa chata e não sei como começar, ainda mais que não nos conhecemos. Pra mim é constrangedor e gostaria que você me entendesse.

- Bem, estou de saída amigo, sinceramente não faço idéia do que seja, mas hoje a noite vou buscar meu carro na oficina do “Vado” aqui perto, quem sabe não podemos conversar?

Ele (Gerson) para a esposa:

- Bem, encontrei com o nosso vizinho, gente boa, mas fiquei sabendo que tem um sério problema.

- Que problema Gerson?

- O cara não bate bem da cuca. Acha que tudo que é mulher está dando em cima dele. É inofensivo, mas acredita mesmo que todas as mulheres caem de amor por ele.

- Que papo maluco Gerson, quem foi que te falou isso?

- Foi o Pedro, ele já namorou a irmã do cara. Ela disse que ele até procura as mulheres para desencorajá-las (risos), é mole?

- Eu hem, se fosse comigo eu mandaria ele a merda.

- Não, ele fala e depois esquece e nunca mais importuna a tal mulher. É doença, parece até que está em tratamento. Pedro me falou que a pessoa se quiser ajudar, deve levar o papo numa boa, e até concordar, dizendo que não vai mais pensar nele (gargalhadas).

- Sei não, papo mais besta, isso é coisa pra hospício.

À noite com o Ricardo:

- Oi Ricardo, obrigado por arrumar um tempo para conversar comigo.

- Olha Gerson, fiquei até preocupado, a gente nem se conhece direito e você com essa coisa de constrangimento...

- Bem Ricardo, eu não sei nem como começar. Sabe, estou casado há mais de oito anos com a Cleide e de umas duas semanas para cá, tenho notado umas atitudes estranhas na minha mulher.

- Sei, mas...

- Calma, eu te explico.Outro dia, peguei minha mulher escondida na janela olhando você no Play.

- Ih cara, não estou gostando desse papo...

- Peraí meu amigo, você não tem nada a ver com isso. Comecei a ficar desconfiado e fui olhar nos e-mails dela. Descobri uma troca de confidências dela com uma amiga. Ela fala em você o tempo todo, diz que acha que está apaixonada por você...

- Qual é, eu nunca falei com tua mulher!

- Eu sei que você não tem culpa. Eu só queria te pedir uma ajuda. Eu amo minha mulher, e sei que isso é coisa de momento. A gente entra numa rotina e acaba não dando a devida atenção à mulher da gente. Ela está apenas confusa, você é novo, bem apessoado, sabe como são essas coisas.

- Mas o que eu posso fazer?

- Falar com ela

- Nem pensar meu amigo.

- Por favor, ouça o que eu tenho a lhe dizer. Não é nada de mais. Sabe, ela é gerente do Unibanco lá da praça da matriz, perto da central, sabe onde fica?

- Sei sim, mas e daí?

- Pois é, todo santo dia, ela para naquele bar ao lado daquele motel todo de preto, o BLACK MOTEL, para tomar uma cerveja, é mania dela. Todo santo dia lá pelas dezoito horas é batata, toma uma cerveja e vem para casa. Você poderia chegar lá um pouco depois, como quem não quer nada e conversar com ela. Falar da sua vida com sua esposa, que você ama, essas coisas..., cara eu não te pediria isso não amasse tanto minha mulher. Por favor, eu te peço de joelhos se você quiser.

- Hei cara, sei lá, é muito estranho isso, mas não precisa se humilhar, vou conversar com minha esposa sobre o assunto.

- Não faça isso, ai você estaria arrumando problemas para você. Vai lá, conversa rapidamente, ninguém precisa saber. O importante é que eu sei que você vai estar me ajudando.

- Sei não amigo, vou pensar no assunto.

- Mas me avisa se você for, às vezes passo por lá para nós voltarmos juntos e se você chega e me pegar com ela, de nada adiantaria.

- Tá bom Gerson, se eu for eu aviso.

- Por favor Ricardo, ela é minha vida.

No outro dia pela manhã.

- Olá Gerson, pensei bem no que você me falou e resolvi te ajudar.

- Ô Ricardo, só Deus pra te agradecer.

- Bem, amanha vou sair mais cedo e vou passar lá no tal bar, disse pra minha mulher que iria a uma reunião com uns colegas de São Paulo.

Dia que segue:

- Boa tarde , sou seu vizinho do 306, você é a mulher do Ricardo, certo?

- Sim, sou eu por que?

- Bem, eu poderia chegar aqui gritando, mas você não tem culpa. Seu marido e minha mulher estão saindo algum tempo.

- Você é maluco?

- Calma, minha mulher saiu hoje dizendo que iria chegar mais tarde porque vai a um seminário de trabalho.Muito provavelmente seu marido também vai algum lugar hoje. Mas eu sei exatamente para onde, ambos irão.

- Chega, vou falar com meu marido, a gente vai processar o senhor por calúnia.

- Bem, se não acredita, porque não vem comigo ao barzinho bem ao lado do Motel BLACK, posso apostar minha vida que vamos encontrar os dois lá, bebendo umas cervejas antes da sacanagem.

- Você é ridículo!

- Não precisa acreditar em mim, por que não olha com seus próprios olhos?

- Olha cara, eu vou lá com você e depois direto a polícia.

- Pois muito bem, vamos lá e você vai conferir pessoalmente.

- Filho da puta!

- Calma, não deixe que eles percebam a gente. O que você vai fazer, aprontar um barraco?

- É isso mesmo?

- Pra que, eles irão inventar uma desculpa qualquer. Melhor seria que a gente fizesse com eles o mesmo que estão fazendo com a gente. Por mim, boto um bom par de chifres naquela galinha.

- Sabe de uma coisa, você tem razão, aquele corno vai ter o que merece e pode deixar que eu mesma pago o motel.

Jose Carlos Cavalcante
Enviado por Jose Carlos Cavalcante em 30/08/2005
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