SUA MAJESTADE O PENICO

Se numa lista de objetos ou artefatos mais interessantes ou de maior utilidade em tempos de outrora; num desses simpósios de doutas cabeças, alguém me pedisse para indicar por ordem de importância, para o ser humano, o nome de um artefato, eu colocaria sem pestanejar em primeiro lugar, o penico.

Antevejo nas caras daquele seleto grupo a estupefação, o espanto, e os mais estapafúrdios comentários: - Ora, esse aí só pode estar a gozar com nossa cara... Logo o penico, essa coisa abjeta, que felizmente não faz mais parte de nosso vocabulário moderno, quando muito ainda existirá por aí algum vaso desta categoria, mas chamado urinol, mas penico? –Pura descriminação ao bom penico, eu lhes garanto. Parece até que as pessoas sentem como se fora um despudor pronunciar o nome, do serviçal penico.

Vamos analisar friamente a questão que por falta de coisa melhor eu chamaria de questão penical, e não penicada, fique isso bem claro, não quero criar confusões com estas coisas da língua.

O penico também chamado de bacio e bispote, este nome, sim é de lascar. Bispote. Ainda bem que tal nome é de origem desconhecida. O penico quer queiram ou não é nome emblemático, majestático, é só observar a sua forma, apesar de sua origem plebeia.

Já imaginaram nos tempos das calendas gregas, em noites de frio de regelar ossos, as pessoas premidas pelas necessidades urgentes terem de andar lá pelos quintais, à procura de um lugar para se aliviar? Vejam bem até que ponto chega o cinismo do ser humano, terem vergonha de pronunciar o nome penico. Agora, que há confortáveis e coloridos vasos, a que chamam de sanitários, ou popularmente chamados de sanitas, ficam esnobando o velho amigo e serviçal penico. Chamam-no até de urinol, esse sim é nome feio... Pura ingratidão, essa é que é a verdade.

É por estas e outras, que às vezes me dá vontade de me armar de “cavaleiro da triste figura” e brandir minha espada aos quatro ventos já que, D. Quixote derrubou todos os moinhos de vento.

E mais, quantas foram as vezes que, honrados e zelosos pais das doces donzelas, importunados pelos vagabundos seresteiros fizeram acontecer grandes penicadas, para afastar tão nefastos casa novas, que se ficavam por ali debaixo das suas janelas, hem, hem?!

Para terminar e não dizer que não disse, acho até que toda a cidade que se preze deveria erguer na sua praça central um monumento à sua majestade o penico.

Eduardo de Almeida Farias
Enviado por Eduardo de Almeida Farias em 09/05/2014
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