Divina Comédia de Rui Barbosa (II)

Continuando a tentativa de esclarecer gastos da Marinha, rotulados como “despesas reservadas”, Rui Barbosa, na sessão do Senado de 15 de dezembro de 1914 em determinado momento de seu discurso, assim se manifestou:

“Depois do Degas, o Frou-Frou. Já ouviram falar os nobres Senadores no Frou-Frou. Eu, que, apesar da idade adiantada (já me aborrece ouvir-me tanto chamar velho), eu, que, apesar dos anos, ainda não tenho embotado o olfato, nem o ouvido, senti, a esse nome de Frou-Frou, um aroma, um rugir de saias, umas cousas, que me não lembram nada as emanações e os rumores da imprensa. Frou-Frou, dizia eu entre mim, Frou-Frou há de ser uma rapariga de trus, alguma menina da fina roda, uma dessas divas cintilantes que estonteiam a rapaziada, um exemplar de graça, travessura e bem-vestir.

Pois, Senhores, ainda aqui me enganei eu outra vez. Frou-Frou não era nenhuma formosura vertiginosa, nenhuma estrela do alto damaísmo, nenhuma dessas celebridades do grande mundo, do meio mundo ou de todo o mundo. Era, simplesmente, o que me afirmam, uma revista do luxo feminino, uma galeria jornalística de bordados, sedas e modas. . . freqüentado, nas horas vagas, pelo Almirante Ministro da Marinha.”

Apesar de uma possível falha de caráter, sugerida por Rui Barbosa, o Almirante Alexandrino de Alencar era do agrado geral, pois foi ministro da Marinha sucessivamente nos governos Afonso Pena, Nilo Peçanha, Hermes da Fonseca, Venceslau Brás e Artur Bernardes.

Como se vê, o Brasil foi, é e sempre será Brasil, para alegria de poucos e tristeza de muito poucos, porque para a maioria tanto faz se o rio desce para cima ou sobe para baixo.

Fonte - OBRAS COMPLETAS DE RUI BARBOSA VOL. XLI. 1914 TOMO III - pag. 41

Argonio de Alexandria
Enviado por Argonio de Alexandria em 21/06/2017
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