DUAS COINCIDÊNCIAS

A primeira eu garanto, até porque os personagens estão vivos e aparecem vez por outra aqui em Baguaçu; a segunda coincidência sei de ouvir dizer.

Tenho um amigo que era vendedor de pintos.

Um dia ...

Como minha senhora? Que pintos?

Pintos de granja; de galinha poedeira ou frango de corte.

Mas que diacho de pinto a senhora imaginou?

Pois bem, um dia esse meu amigo, que é excelente vendedor se ajeitou numa empresa americana multinacional, de produtos veterinários; apesar de não saber nada de inglês.

O importante é vender !

Foi tão bem no primeiro ano que ganhou da empresa uma viagem à Nova York; para conhecer a sede, os diretores, indústria, etc e tal.

Coisa de americano...

Arrumou as malas, pegou o avião, chegou a Nova York, foi ao hotel reservado, acomodou-se e deitou-se na cama e ficou a olhar para o teto.

Era cedo para dormir; pelo final da tarde.

Resolveu esticar as pernas dando umas voltas ao redor do hotel, conhecer o ambiente.

Vai dai que ele, todo interessado na cidade, logo chegou a uma faixa de pedestre onde o sinal estava vermelho.

Parou junto aos transeuntes, para aguardar educadamente o momento de atravessar a rua.

Ao seu lado estava um sujeito alto, meio careca, meio gordo e de rosto vermelho.

Imediatamente, veio-lhe a mente:

"Conheço esse cara".

Mas antes, devo voltar ao tempo para explicar uma questão.

Quando ele parou de vende pinto... sim, pintos de granja !; ele ficou sem receber algumas contas de antigos compradores.

Naquele momento, quando na Big Apple ele parou no farol vermelho para pedestre, o sujeito grandalhão que estava ao seu lado, era nada mais, nada menos que seu devedor.

Ou parecia ser.

Para não passar vergonha, cobrando pessoa errada, resolveu arriscar.

Fixou os olhos diretamente no farol vermelho, entortou a boca e disse em voz suficientemente alta, não direcionada a ninguém em especial:

____ Valdomiro, é você ?

Esperou um pouco e olhou para cima, para ver se o grandalhão se manifestava.

Esse estava a olhar para baixo, diretamente nos olhos do credor baixinho:

_____ Cacete ! Sei que todos os cobradores são uns grandessissimos filhos da puta! Mas você... seu pulha.... canalha! passou dos limite ! Me seguiu até aqui?

O baixinho não respondeu a pergunta, foi direto ao cerne da questão:

_____ Pague já o que você me deve !

Brasileiro no exterior, em geral, esquecem as diferenças.

Foram a um bar explicarem o inexplicável.

O grandalhão devedor disse que estava na cidade para visitar a filha e um neto que havia nascido recentemente.

A passagem, (e a estadia), estavam sendo bancadas pelo genro, e acrescentou com certa tristeza: "Ele comprou passagens de ida e volta, com dia e hora marcados no momento da compra. Malandro o gringo !"

A segunda coincidência se deu com um sujeito ai, que nem conheço. Um bacana frequentador do Salão do Kalu.

Ele esteve em Buenos Aires e (acho que por frescura), foi a um salão de lá cortar o cabelo.

De volta aqui para nosso Baguaçu pegou a mulher, novas malas, e embarcou com uma excursão da igreja católica para o Vaticano.

Iria assistir uma missa celebrada pelo Papa Francisco.

Lá, sentou-se no canto do banco, ao lado do corredor, (aqui a gente diz carreador), por onde passaria o Sumo Pontificie.

Terminada a missa, o Papa veio andando, junto ao séquito de bispos, benzendo as pessoas.

Como o Papa passaria ao seu lado, nosso amigo respeitosamente ajoelhou-se e abaixou a cabeça em gesto de constrição e respeito.

Foi o bastante para o Papa parar ao seu lado, passar as mãos pela sua cabeça, virar ela para lá, para cá, examinar-lhe os cabelos, pegar-lhe pelas mãos, colocá-lo de pé e perguntar:

"?Ustede cortó el pelo con Arthuro en Buenos Aires, en la calle Florida, no?"

Nosso amigo gaguejou um: "Sin, Exccelência".

"No, Excelência no! Diga Santíssimo Padre!"

"Sin, Santíssimo Padre".

"? Vas a volver un dia a Buenos Aires?"

"Sin, Excel... Santíssimo Padre".

"Dígale a Arthuro que hoy soy un ciudadano del mundo, conozco todos los lugares y puedo afirmar que él, Arthuro, es el peor peluquero del mundo!"

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Obrigado pela leitura.

Fiquem com Deus.

Sajob, 2015 + 3

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