45min do Segundo Tempo (Zero a Zero)
Por favor, Recantista, caso saia gol do Brasil, peço encarecidamente que relate o gol no comentários. Pois, já quebrei o radinho Evadin de pilha, mandei os sapatos na televisão, arranquei os cabos telefônicos, tomei dois litros de pitú. Estou desorientado e antes que cometa suicídio, tomando a caixinha de chumbinho para matar rato,
prefiro enfiar a cabeça debaixo do fio de água da bica que desce da montanha.
Insuportável não ver o Neymar em campo, mas ver o dedo dele quando pisam em cima, e o nobre, a joia de jogador levanta o pé e mostra para as câmeras. Outra hora, esquece que a bola está em seu poder e arruma, joga o cabelo loiro oxigenado de lado. Tá mais para calopsita espigada, que jogador de futebol.
Como em tudo, até na guerra, o lado bom é que ninguém morre em tiroteio na Rocinha. Zero atentado; zero arrastão; paz total!
Bons tempos quando gritava: "Vaaaai Curintiá". O timão ia feito rolo compressor pra cima da defesa, esmagava o adversário; e o Galvião berrava: "olha o gol; olha o gol; olha o gol! Gooooooooooool! É do timão".
Sei plenamente que enquanto estou aparando as unhas dos pés com os dentes, que tem muita gente por aí sorrindo com o ataque cardíaco da seleção europeia brasileira. Esses malditos torcem contra; não é seu caso, ou é, nobre leitor? Por favor, não me decepcione.
São 40 milhões de reais, uma singela boladinha mercenária mínima, que está em jogo; e poderá render para cada pobre e solidário jogador, 1 milhão de reais. Isso sem levar em conta o choro, as lágrimas de crocodilo?
Servos ou não Sérvios?
Jogavam Brasil e Sérvia valendo a classificação para a copa da Rússia 2018. Jogo duro, disputado, enfurecido, ríspido. Marrentos e flutuando entre os tempos de Pelé até a seleção do baixinho Romário, mesclada com Branco e Bebeto, o ninador de criança, os brasileiros contavam gabolices e diziam ser os melhores do mundo.
Eis que de repente chega um senhor com a camisa da seleção da Argentina escrita Maradona 10 atrás, trocando as pernas, meio lá, meio cá, entra que não entra e num impulso dado pelas mãos pregadas no batente da porta, se jogou para dentro, indo encostar no balcão.
O jogo seguia difícil, tal qual contra a Costa que é tida com Rica, mas o país da A. Central é pobre. Zero a Zero. A algazarra seguia. E o senhor trôpego ouvindo as lorotas que o Brasil é o melhor, dos melhores. Trocando as palavras, conseguiu dizer: "a seleção do Brasil, melhor em tudo, está Rússia; e nem o Panamá, que não sabe quantos lados tem a bola, tomou de sete em copa. O troféu de maior goleada em todas as copas ainda é do Brasil. - e frisou: "Alemanha 7, Brasil 1". Prosseguiu: "Maradona e Canighia, varriam, passavam o rodo em Alemão, Elzo, Cerezzo, Dunga e quem mais viesse. Maradona era o cara; e detonava mesmo"!
Um fulano que estava em pé ao lado, ouviu e não gostou da sentença do bêbado. Roendo as unhas, retrucou qualquer coisa. No lance seguinte, um UuuuuuH, ensurdecedor. Gaguejando, o bêbado perguntou: "foi gol"? Ao que a plateia enfurecida respondeu: "claro que não seu seca pimenteira".
Dessa vez foi o bêbado que retrucou: "cla, cla, claro que num foi gol. Ocês gritam, berram antes do jogador chutar. O berro assusta ele e chuta para fora. Ocês num sabe nem torcer". - provocou.
45 min do segundo tempo. Zero a zero. Pênalti para a Sérvia. O bêbado gritou: "Sérvia mais uma dose aí, seu dono do bar. Sérvia, serve sim".
Foi a gota d`água. A brasileirada avançou, flechou em cima do coitado, feito abelha no lombo de asno. O dono do bar pulou no meio para acudir. O bêbado atacado por todos os lados dizia: "valha me, salve-me Deus, salve um Sérvio de Deus. Eles também são Sérvios e Sérvias e servem Deus".
Nisto deram uma trégua: o centro-avante da Sérvia perdera o pênalti. A brasileirada não deixou por menos: "Vai embora seu Sérvio de Deus. Grita, berra antes do batedor cobrar o pênalti. Tai, errou. Milagre de quem é servo de Deus".
49 min. Pênalti para o Brasil. A brasileirada vai a loucura. Sopram cornetas, berram, pedem mais uma ao dono do bar. Consultado o árbitro de vídeo, o juiz invalidada o pênalti. O bêbado pergunta da praça, onde estava sentado: "foi, foi, foi gol de pênalti do Brasil". - Não; responderam.
- O juiz de vi, de vi, de vídeo também é Sérvio de Deus e invali, invalida toda e qualquer infração contra o Criador.
Excluindo os contra, em uníssono, a brasileirada cristã berrou: "Amém, que Deus e seus Sérvios sejam louvados". E se retiraram do bar. O bêbado os abençoou: "Sérvios e não serve, vão em paz e o senhor nosso Deus que acompanhe os seus servos".
Em uníssono, ouviu-se: "Amém, que a paz esteja com o irmão, Sérvio de Deus, também".
A partida terminara com a Sérvia vencedora. Aos 51 min, outro pênalti; dessa vem confirmado pelo árbitro de vídeo e convertido pelo batedor. O bêbado concluiu: "não falei, o árbitro de vídeo é servo de Deus, é Sérvio do Criador e anula o que é contrário e aprova tudo que é a favor de suas leis. De seu humildade Sérvio, Deus seja louvado!