O CAIPIRA E O VÉIO MAL HUMORADO

Quinzinho do Gamelão e mais um de seus causos:

-Gente eu tinha um vizinho, um véio duns oitenta ano, João Venanço, que trabaiava que nem uma mula. Num tinha rapaiz ninhum que acumpanhava ele numa tirada de lenha. Era bruto no machado. Era um sujeito de cor, hoje num pode chamá os oto de nego nem de preto, né? Era muito bão de sirviço, todos fazendero chamava ele mode trabaiá, mas tinha um defeito: Era muito franco, as veiz até mar inducado, vivia mal himorado.

-Eu cumo já cunhicia ele, a rabugiça dele, quando eu via ele com o beiço caído, cascava fora dele, era só bom dia, boa tarde, ou boa noite, num puxava prosa com ele não...

-Uma veiz meu patrão mandô eu pricurá um dos pião que morava perto da fazenda, mode tratá cum ele um sirviço de capiná uma roça de mio...Ingraçado, né? A gente falá capiná uma roça... A gente capina é o mato da roça...

--Amuntei no cavalo e fui na casa do pião, cumbinei cum ele o sirviço e fiquei sentado num banco prusiano cum ele. O rancho ficava na beira do triero, na istradinha de roça. Era de tardinha. De repente ví chegano perto do rancho, o João Venanço, que tava ino pra casa depois do sirviço. Vinha cum o machado no ombro e com o beiço caído.

Comentei com o pião:

-Ih, oia lá: O João Venanço manheceu com o pé dento do pinico, oia o beiço dele, dá até pra pindurá arreio...

-Credo im cruiz, dexa ele prá lá, mexe cum ele não...Falou o pião.

-O véio passô pur nois, rismungô um boa tarde cum muita má vontade. A patroa do pião tava recoieno uma roupa que tava no arame e cumprimentou o véio que respondeu cum um rismungo quarquê.

-Tava um calorão dos inferno, e tinha umas nuve iscura amiaçano chuvê. A muié falô cu véio:

-E aí, sô João, vai chuvê hoje?

O véio sem oiá pra traiz rismungô:

-Sei lá, eu tô vino é do Cerrado, num é do céu não...

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HERCULANO VANDERLI DE SOUSA
Enviado por HERCULANO VANDERLI DE SOUSA em 06/02/2019
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