ARTISTAS NATOS EM AÇÃO
 
 Como de costume, Seu Zé Velho foi visitar seu compadre Zezinho e, em chegando lá, após os cumprimentos de praxe, resolveu mostrar a obra-prima artesanal que o seu genro tinha feito na marcenaria dele. Meio ofegante, mas sem querer perder tempo, retirou de sua bolsa a tiracolo uma pequena cruz de madeira e disse:
- Compadre Zezinho, olha que beleza de trabalho artesanal meu genro Juquinha fez para eu usar, colocando-a em seguida, cuidadosamente, sobre um dos cantos da mesa da sala de estar do seu amigo e compadre.
Seu compadre Zezinho não se fez de rogado, pegou a cruz, olhou bem seus detalhes para ver se estava, pelo menos, bem polida (ele também era marceneiro) e falou:
- Compadre, eu gostei da cruzinha que seu genro fez. Ela é muito consistente, mas eu já fiz uma maior e mais cheia de detalhes, como um verdadeiro crucifixo requer. O senhor quer vê-la?
Antes que seu compadre Zezinho se levantasse para ir buscar sua obra-prima e certamente, a seguir, lhe serviria uma xícara de café com leite e um bom pedaço de mandioca cozida, Seu Zé Velho, meio enciumado que ficou naquela hora, levantou-se e disse:
- Compadre, deixe como está, não precisa me mostrar nada, não. Eu já estou indo embora; quando eu chegar lá em minha casa vou pedir para meu genro fazer outra cruz maior e mais bem aparelhada que essa que eu lhe mostrei; pedirei para ele dar o nome de "crucifixo" para ela também, como o senhor o fez com a que não esperarei mostrá-la para mim  - replicou.
Balançando os braços, em sinal de reprovação, como um verdadeiro boneco de Olinda em ação nos dias de festa, Seu Zé Velho saiu dali, cuspindo marimbondos-caboclos.
Germano Correia da Silva
Enviado por Germano Correia da Silva em 05/05/2019
Reeditado em 12/06/2020
Código do texto: T6639480
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