Originalidade: onde, como, por quê?

Por que exigem do poeta que escreva algo original
Se milhões já tudo escreveram, tornando a poesia banal?
E quando me pedem algo novo e bonito
Ironizo um sarcasmo até sobre ovo frito

Dizem para não sermos cliché
E acho que só me falta poetar sobre guichê
Aonde vai ou entra o meu dinheirinho
Tentando gastá-lo sorrateiro e devagarzinho

É isso o que dá: começo a escrever besteira
De tanto que pedem algo, vira tudo asneira
Não querem que eu chame a rosa de vermelha
Tenho que mudar a direção até da trepadeira

Me dizem: ganhe experiência antes de tudo
Como se eu tivesse o tempo todo do mundo
Para ficar esperando a experiência chegar
Ao invés de brincar de encher o saco e poetar

Outro me disse para sair da caixinha ou do quadrado
Até agora estou pensando e ainda parado
Porque comentam muito e sugerem nada
E ainda querem poesia padronizada

Vão se catar antes que eu esqueça
Não te querem são, querem que tu enlouqueças
Para que dominem sobre ti e o teu pensar
Dizendo que é clichê achar rimas para o verbo amar

Um me advertiu: não diga: “Ela está feliz”
Achei a sugestão um tanto quanto infeliz
“O sorriso dela se abriu como lírio na primavera”, sugeriu
O sorriso dela é meu e eu coloco onde eu quiser, vá “ppqtp”

Uma espertinha me advertiu: minha poesia eu sempre revisar
Não tenho tempo de nada, nem mesmo de me coçar
Posso deixar para outro dia quando eu estiver mais à vontade?
Um dia sem nada para fazer, além de pensar na opinião da beldade?

“Você usa muita coisa sem necessidade, muito emocional”
Não diz coisa com coisa, faz questão do banal
Ora chora como uma criança boba que ainda não cresceu
Ora pensa que já é adulto porque já envelheceu

O problema é meu se eu disser que amor é sofrimento
O teclado também é meu se eu digitar que é um tormento
As “véia” do RECANTO ao invés de irem para cama mais cedo
Ficam dando pitacos querendo me por medo

Esses dias um poeta lá da casa do chapéu onde se fala inglês
Quis colocar o dedinho dele até no meu português
E lhe dei uma aula de verbos no particípio passado
Que o gringo revirou os zóios de tão abestado

E me defendo que sou simples e não quero complicar
Porque me basta achar a rima para o verbo amar
Clichê ou guichê não estou aqui para te responder
Não nasci ontem e não quero nem saber

Quero mais é contra tudo e todos me rebelar
E de propósito achar a rima para o verbo amar
Somente para te deixar irritadinho e nervosa, santa!
Quem se meta na poesia dos outros não passa de uma anta

Escrevo o que eu quero e to nem aí
Você que fique lá e eu aqui
Com a minha pena escrevo e vou lendo
Porque nem poeta sou e nem pretendo!

Saco!
Paulo Eduardo Cardoso Pereira
Enviado por Paulo Eduardo Cardoso Pereira em 31/05/2021
Reeditado em 31/05/2021
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