O VELÓRIO SOBRENATURAL

Em volta da fogueira, empregados da fazenda comemoravam os festejos juninos, levantando poeira com os pés descalços, dançavam animados com o batuque do caxambu, alguns visivelmente alcoolizados.

Clemência, a mestra da cultura, balançou a cabeça afirmando que tudo estava em ordem, é que não havia mais visitantes, motivado pelo frio intenso e uma garoa muito fina que estava prestes a começar.

De repente o evento perde seu brilho: “O Zé pica fumo morreu” Era a voz do delegado, Dominguinhos, o qual já estava bêbado que nem um gambá. Clemência, prima do morto começou a gritar aos berros: “Não é possível, outra vez não” mais o delegado continuava a firmar: “O Leonidio já foi à cidade comprar o caixão”.

Leonidio era o proprietário do único carro existente na vila, uma camionete bem antiga, só pegava empurrando, o percurso era de 18 Km, estrada de chão batido, muito escorregadia por causa do tempo chuvoso.

De volta, encontrou com Pedrão. Esse ao reconhecer o carro, gritou: “ Oi, Leonidio, dei-me uma carona”. Estavam na cabine da camionete mais duas pessoas, Leonidio reduziu a marcha e disse: “Suba, o enterro do homem será amanhã, ás 10 horas. Tem um caixão ai cima, quer ir assim mesmo?”

“Claro, está muito frio, e estou um pouco gripado”

A viagem continuou. Pedrão deu uma mirada para o caixão, a chuva aumentou e fazia bastante frio, ele não quis nem saber, levantou a tampa do caixão e entrou, tampando-o novamente.

E a velha camionete parecia estar recebendo ajuda divina. Saia e entrava novamente na estrada escorregadia, deslizava na lama misturada com areia.

Quarenta minutos depois, quase chegando á vila. Leonidio, ascende um palito de fósforo e consulta a hora, 21 horas.. Nesse exato momento encontrou com várias pessoas que com certeza iria para o velório. Reconheceu a voz de seu compadre, mais uma vez reduziu a marcha da camionete.

“Oi compadre, suba com todo o pessoal, desculpa-me, só não posso desligar o carro, se não...

“Vai se até muito bão cumpadi, pois a sua cumadi ta buxuda, pois daqui treis minutinho nois chega lá”.

Nessas alturas, a chuva tinha parado, e a velha camionete seguia seu rumo. Chegando à vila, Leonidio ia freá-la. Como por encanto, Pedrão que estava escondido da chuva dentro do caixão, abre-o, perguntando:

“A chuva já parou?” Foi um corre-corre, dentro do velho carro, um garoto de 8 anos, salta e quebra um braço. A mulher grávida, puxa seus cabelos e exclama: “Meu Deus, o que é isso?”. Após tudo esclarecido, levam o caixão na casa do defunto. Ele estava coberto com um lençol, estirado sobre um banco de madeira no meio da sala, com flores, e velas acesas. Puxei o lençol,, meu Deus que defunto mais feio, tinha uma cara achatada, uma cor morena pálida, um bigode sem tamanho, mais uma vez olhei para o desgraçado, ele parecia a rir. Sua mãe chorava desconsolada; uma coisa que me lembro é que ela não gostava que as pessoas tratassem o seu filho pelo apelido. Recriminava brutalmente quem assim o fizessem.

Chegou o dono do cartório, e dava para perceber que ele estava um pouco ébrio, e logo foi falando: “Ai, meu amigo, você morreu mesmo, Zé pica fumo?” Sua mãe, que estava sentada ao lado do corpo rebateu: “Zé pica fumo, é a p. que p...” Alguns amigos foram acalmar os ânimos do dono do cartório. Lá por volta das três horas da manhã, acabara de chegar Clemência, prima do morto, estava com uma vontade danada de fazer “xixi”. Foi até o quarto, arrastou um velho penico de alumínio e... O dono do cartório que estava meio cochilando despertou com um ruído, pensando ser o café que estavam coando na cozinha, grita: “Guarda o mais forte prá mim”.

Foi uma tremenda gargalhada de todos os presentes que participavam do velório. Mais que de repente:

“Veja! O morto, inacreditável!”

Acordou dentro do caixão, em seu próprio velório;

- CATALEPSIA.