Profissão: Pastor Emigrante Transmontano.

 
“Issos do Ofócio”… este seria o meu anagrama de autor escritor poeta e, a mais das vezes, um simples prosador que, por não ter como ocupar as horas do intervalo entrementes a cada nova tarefa do dia-a-dia, eu me tornei só mais um trovador amador quando, ao escrever as minhas Crônicas da Emigração eu vos mostro a minha inspiração!
E é, justamente  naquela exaltação das muitas e muitas “Catramonzeladas Literárias” que a vida de Emigrante me ensinou,  já desde antes dos 13 anos de idade. E, isso me formatou a inspiração literária de a ter por companheira como norma criativa dos meus  “Ossos do Ofício” na situação de Emigrante até quando Deus quiser!  
Logo no primeiro dia eu tive que driblar a emoção de aceitar uma imensa angústia e a tristeza de,  ao ver, da janela do comboio, o Meu Velho Pai que ali ficou na plataforma de embarque na Estação do “Pocinho” a dar voltas ao chapéu e, eu até acho que, quando ele viu o comboio se afastar, ele nem sequer teve força para o levantar o chapéu acima da cabeça e me acenar ao menos para me dizer “adeus”!
Quem parte leva saudades,
Quem fica saudades tem.
Quando eu partir de verdade,
Eu não direi Adeus a ninguém!
Quantos anos mais tarde me surgiu esta trova eu não sei!?
-  Todavia é fácil entender que esse sentimento se instalaria no mais íntimo do meu âmago  eternamente. E desde aquele momento em diante enquanto vida eu tiver para sobreviver.
A experiência de vida me mostrou sempre que,  nos momentos de maiores dificuldades é quando a fé interior se manifesta e nos inspira na sua pujança plena ,que é latente e sempre se encontra escondida no seio do mais íntimo sentimento do Espírito e da Alma de cada um de nós.
-  Penso que foi  daí que me surgiram mil pensamentos e outros tantos ensinamentos que eu mesmo guardo em molduras. São ténues estas lembranças muito antigas, mas são registros que eu guardo como forma de legado do meu projecto de vida desde então!
A vontade de vencer, o desejo de ter sucesso, a ansiedade em alcançar o meu pleno potencial de sobrevivência, estas foram sem dúvida as chaves que me abriram as portas para os muitos ofícios que eu já tive.
Muitas chaves desconhecidas eu busquei por necessidade e outras (muito poucas) eu as usei para me animar e continuar a sonhar! Pois como dizem os filósofos o ser humano não morre quando termina de criar e sim quando deixa de sonhar.
Sonhar sim!,… porque sonhar é a única coisa unipessoal que Deus nos dá logo na Pia Baptismal;  
Eu não tenho curso superior,
Nem entrei em nenhuma faculdade!
Porém, hoje,  com a minha idade,
Todo o dia eu me sinto um Doutor.
Porque a vida assim o quiz,
Fazer de mim,  o próprio Doutor Juiz!
 
Eu Nasci e fui Baptizado na Igreja de uma Aldeia Transmontana a qual era o meu Mundo de Criança, e por condão ou fatalismo, eu fui lá apenas mais um Pastor Peregrino. Guardei cabras e ovelhas, e conheci cada pedra do caminho, das veredas, das giestas e das estevas, da urze e das arçãs espalhadas por entre fragas erguidas aos “Deuses Celtas” de outras eras. Eram sim, outros os tempos que tudo isso eu tive por ofício, mas também a natural necessidade de proteger o rebanho.
Dormir ao relento em noites quentes de verão, por cima de um monte de feno, ou tendo por travesseiro a lã de um cordeiro depois de farto, era algo raro mas possível de sonhar!, e eu sonhei… sonhei e adormeci várias vezes!
Vi estrelas ao luar, vi fogos de artifício em noites de Festa,  mas também vi Lobos e Raposas, vi cobras e lagartos, vi coelhos e lebres, perdizes e passarinhos, Melros, Piscos, Tralhões e Andorinhas todos em busca da sobrevivência.
 
Fui Pastor sim!...
De mim mesmo, e do grande amor,
Aquele que eu nunca tive!
Aquele sentimento profundo,
Que invade os sonhos de todo Mundo.
 
Quando me pergunto a mim mesmo quantos ofícios eu já tive?!
- Eu devo dizer honestamente; não sei!
O meu primeiro ofício na Capital, e porque lá não tinham cabras nem ovelhas para guardar, foi na profissão de Marçano.
Não, não fui “marceneiro”! e sim apenas “Marçano”.
As freguesas faziam as compras na Mercearia,  e eu as carregava em cestos às costas para as suas residências. - Uma vez por mês, aos domingos, eu tinha a minha sonhada folga semanal porque, éramos 4 empregados e não havia tempo para sonhar... às vezes nem ao Domingo!
Porém,  não tem mal que nunca se acabe, e também não tem bem que sempre dure,  por isso ao domingo quando eu passava em frente do nicho do Senhor Roubado eu rezava assim:
Dos tempos que eu não tinha dono!.
 
Ali, na Póvoa de Santo Adrião, 
- à entrada p'ra Odivelas.
Parei na berma da estrada,
- e encontrei o Senhor Roubado! 
De Carriche eu subi a Calçada,
A que me lembrava a Aldeia de Caravelas.
A Rosélia mora lá, em endereço não encontrado.  
Qual "Malhoa" ali pintado,
- Era igual aos quadros das "Alminhas"
Da minha terra que eu ali vi!
Era o Nosso Senhor Roubado - a guardar o nosso sono… 
Hoje em dia da rima eu já estou divorciado.
- E deste poema enjeitado eu me sinto,  
Tal e qual como o Senhor Roubado,
Que
Está lá na Póvoa de Santo Adrião!  
(in: “Poesias Soltas”  De:- Silvino Potêncio )

Emigrante Transmontano em Natal/Brasil

 Nota de Rodapé: o poema completo foi publicado nesta minha página literária. Oportunamente na TV Odivelas  foi declamado pelo meu Saudoso Amigo Poeta Madeirense, Coronel Joaquim Evônio que Deus já lá tem.  

 
Silvino Potêncio
Enviado por Silvino Potêncio em 10/05/2019
Reeditado em 05/07/2020
Código do texto: T6643955
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