UM RAIO CAIU SOBRE A MESA

Tudo parecia muito tranqüilo naquela manhã. Dona Porca estava no jardim da sua casa dando adeus a Senhor Porco que saía para trabalhar na fábrica do senhor Camelo. Lá se fabricavam potes de barro que serviam para encher de água e carregar por muito tempo geladinha, nos caminhos do deserto. Dona Porca estava ainda enxugando as mãos no seu avental quando chegou o senhor Coelho. Seu Coelho era o carteiro daquela floresta. Acontece que naquele dia ele tinha uma carta para dona Porca. Ela então, muito curiosa e contente disse:

-Quem será que escreveu para mim?

Seu Coelho falou:

-Acho que é um convite para a festa de dona Tartaruga.

dona Porca falou:

- Como você sabe disso?

Ao que seu Coelho explicou:

-Dona Tartaruga está fazendo aniversário, e ela resolveu fazer uma festa para todos os bichos que moram nesta floresta. Sabe quantos anos ela está fazendo? Cento e cinqüenta aninhos.

-Tudo isto? – admirou-se dona Porca.

Enquanto dona Porca entrava na sua casa para pegar os óculos e ler a carta Seu Coelho já estava longe distribuindo a correspondência daquele dia. Todos os bichos receberam o convite para a festa de dona Tartaruga.

Finalmente chegou o dia da festa.

O alvoroço era geral em toda a floresta. Todos os bichos se prepararam desde cedo para o acontecimento. Todos passaram os últimos dias providenciando roupas novas, sapatos e o presente para dona Tartaruga.

A festa seria numa parte da floresta que por ser muito bonita, com um gramado muito verdinho e fofinho, com árvores grandes cujos galhos faziam sombra na mesa de doces e salgados e do bolo enorme com cento e cinqüenta velinhas. Também ficava bem pertinho do rio e isso era importante, pois dona Tartaruga havia convidado todos os peixinhos para participar de sua festa.

Bem cedinho começaram a chegar os convidados. O Coelho, sempre apressadinho, foi o primeiro a chegar. Ele levou de presente um boné muito bonito. Depois chegou seu Elefante, balançando a tromba todo contente por ter sido convidado, pois os outros bichos não gostavam de convidá-lo porque ele era muito trapalhão, esbarrava nas coisas e derrubava tudo. Veio também a Girafa muito elegante com uma enorme gravata borboleta no seu pescoço comprido. Chegou o Urso que foi logo se encostando à mesa de doces. Dona Cobra muito tímida chegou se arrastando toda cerimoniosa pois sabia que os convidados tinham com relação a ela muito preconceito. Na verdade sentiam medo. Mas logo, como de costume ela se entrosava com muitos dos bichos, porque apesar de tudo era muito comunicativa quando conseguia fazer amizades. Nem todos os bichos são maus, apenas sofrem preconceitos. Igual aos humanos. Dona Cobra balançando a cauda fazia um barulhinho muito engraçado. Os convidados todos olhavam curiosos. Então, ela aproveitou para falar:

-Um momento meus amigos, gostaria de dizer umas palavrinhas a respeito desta festa. A nossa amiga dona Tartaruga ao nos convidar para esta reunião além de mostrar que é muito educada e boa amiga provou que é muito querida por todos os habitantes da floresta. E como ela conseguiu isso? Simplesmente porque sempre tratou a todos os bichos com educação e respeito. Muitas vezes eu a vi aconselhando outros bichos a não destruir uma árvore inteira só para comer um pouco de frutos gostosos que estavam mais alto.(O seu Urso ficou encabulado, pois sempre que descobria uma colméia cheia de mel num lugar mais alto da árvore, ao subir, quebrava muitos galhos e derrubava muitos ninhos de passarinhos e muitas frutas.). O senhor Leão sempre muito preguiçoso ficou balançando a cabeça como se não concordasse. Na verdade ele estava é chamando a atenção do senhor Urso. A girafa soltou uma gargalhada só de imaginar a bronca que todos iriam dar no senhor Urso se soubessem que estava dona Cobra a falar dele. Mas, como toda cobra tem a capacidade de se referir a algo que não parece ser aquilo de que realmente deseja atingir, não citou ninguém. As cobras são sempre muito dissimuladas. E ela continuou: por isso eu queria pedir para todos cantarem parabéns para dona Tartaruga e desejar muito mais anos de vida e que ela consiga finalmente arranjar um casamento e seja muito feliz.

Todos cantaram e aplaudiram com entusiasmo.Os peixinhos pulavam contentes no rio. Seu Bagre que era um peixe muito mal humorado também se dignou a espirrar água para todos os lados de tão feliz que estava.

De repente ouviu-se um grito:

-Amiguinhos e amiguinhas, prestem atenção, eu com meu super poder de observação devo avisar a todos que uma tempestade está para chegar e é das mais brabas que já se viu.

Era a dona Coruja que do alto de uma árvore bem alta avistava o céu e com sua sabedoria proverbial advertia a todos que o céu escurecia rapidamente, e de tão negro até o sol se assustou e bem ligeirinho tratou de se esconder lá na terra das estrelas. As nuvens brancas e alegres se espalharam pelo céu que escurecia. Ligeirinhas se enfiaram num pacote de algodão. O dia ficou noite. Uma noite sem estrelas, sem lua, só escuridão.

Os bichos todos assustados, sem poder voltar para as suas casas, ficaram todos juntinhos esperando pelo o que iria acontecer. O Bagre e os peixinhos rapidinho foram para o fundo do rio. O Senhor Leão tentou mostrar que era muito valente, mas quando um raio enorme caiu bem pertinho da bicharada ele se assustou e correu para junto dos outros bichos. Dona Tartaruga coitada tremia sem parar. A escuridão era completa. De repente um raio poderoso caiu sobre a mesa. Iluminou, mas não apagou como todos os raios. Por milagre ele ficou encravado na mesa e era tão brilhante que os nossos bichinhos não conseguiam olhar. De repente, como se fosse a felicidade, do meio do raio começou a aparecer uma fada tão bonita e bondosa que todos os bichos começaram a gritar de surpresa. Eles estavam felizes novamente. A fada foi lentamente se mostrando, o sol voltou a brilhar com força, o céu ficou azul e a fada vendo todos os bichos encolhidos, todos juntinhos de medo, falou:

- Meus amiguinhos, sou a Fada da Felicidade e vim aqui para que todos soubessem que eu ainda existo. Os bichos e as pessoas têm esquecido muito de mim e fazem coisas que parecem gostar mais da Bruxa do Egoísmo, da Bruxa da Falta de Piedade, e da Bruxa Malvadeza. Tudo que precisa existir entre as pessoas e os bichos é viver em paz, com respeito e amizade. A Bruxa da Soberba vive me dizendo que todos gostam de pensar só em si e não ajudam os mais pobres e humildes. È por isso que vim aqui falar com vocês nesta festa tão bonita da dona Tartaruga para que vocês se lembrem sempre de respeitar, ajudar e trabalhar, nas suas profissões, para que um dia todas as pessoas e bichos tenham a mesma oportunidade que vocês tem de estarem felizes nesta festa. Por isso eu vim aqui.

Com a presença da Fada da Felicidade o senhor Leão se animou e decretou:

- Vamos todos dançar!

- Isso mesmo.- disse a fada.

E todos os bichos procuraram os seus pares, enquanto a orquestra de grilos e cigarras, tocava alegremente. Os peixinhos saltavam eufóricos. O senhor Bagre ainda meio desconfiado encostou-se na margem do rio e deu uma piscadela para dona Tartaruga que toda encabulada sorriu e suspirou.

Muitos e muitos anos depois os filhos de dona Tartaruga contavam esta estória para as pessoas e para os bichos, em todas as escolas e teatros, pois todos se tornaram amigos e se respeitavam. As árvores esticavam seus galhos para melhor ouvir. As formigas disputavam lugar sempre tomado por coelhinhos com uniformes de carteiros. O vento entrava e saia refrescando o ambiente. O sol e a chuva não brigavam mais. A natureza em festa, amiga e solidária, cumpria o seu papel de unir tudo que existe como sendo o sentido verdadeiro da vida. Dona Coruja do alto de sua sabedoria ensinava:

-Tudo que existe sobre a terra e sob o céu precisa estar em harmonia para que exista a felicidade e se usufrua o verdadeiro sentido da vida.

Mas, em algum lugar ainda deve existir um Bagre mal humorado, coçando a barriga, descansando à beira do rio e reclamando de tanta felicidade. Ao lado dele peixinhos coloridos saltitantes fazem sorrir a mamãe Natureza que do alto da sua grandeza observa contente nascer mais um dia.

Humberto Bley Menezes
Enviado por Humberto Bley Menezes em 30/03/2006
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