Nunca Ria do X

O meu coelhinho tinha torcido o pé. Minha mãe disse que precisava do raio X pra saber se havia fratura. Nunca ri do X. Nem de letra nenhuma. Então elas não poderiam ser malvadas comigo. Meu coelhinho não podia estar com o pezinho quebrado. Tava ali o pobrezinho com o pé um pouco inchado dormindo ao meu lado na caixinha acolchoada que improvisei pra ele. Devia esta doendo muito. Teríamos que esperar até o dia seguinte.

Dei uma última olhada. Tudo normal. Finalmente adormeci. Veio uma bruxa feia, o retrato do mal, cara de maluca. Eu ia com meu coelhinho por uma rua chuvosa, protegendo-o com meu casaco de lã sobre a caixinha de papelão.

- Ei, menina! Sei muito bem o que você tem nessa caixinha: um coelhinho assustado.

Assustada quem estava era eu. Não dei bola. Continuei andando, agora mais apressadamente.

- Foi uma torçãozinha meio braba. Mas eu posso dar um jeito. Vamos lá em casa. Só que você nunca mais vai poder rir do X. Nem quando for tirar retrato.

- Nunca ri do X. E nem de letra nenhuma. Minha mãe é que falou que seria preciso um raio X pra gente saber se houve fratura...

- Fratura coisa nenhuma. Vamos lá em casa. Sou feia, mas sei apreciar um coelhinho muito bonito e reconhecer o carinho de sua dona.

Era feia, sim. Mas a voz era bonita. Senti-me atraída pelo convite. Faria tudo pra ver o meu coelhinho bom de novo.

Cheguei na casa da bruxa e logo fui convidada para ficar num quarto menor enquanto ela na sala cuidava do coelhinho. Parecia um quarto de menina. Talvez da filha dela. Quis perguntar, mas não me atrevi. Várias bonecas lindas sobre prateleiras. Uma cama espaçosa com mate lassê, uma parede toda pintada de árvores frondosas e frutíferas, tudo na tonalidade rosa.

Adormeci na casa da bruxa. Quando acordei de manhã, estava no meu quarto com o coelhinho no meu colo. Havia pulado da caixinha de papelão para a cama. Estava totalmente curado. E minha mãe ao meu lado.

- É, acho que não vai ser preciso o raio X.

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 24/10/2010
Reeditado em 24/10/2010
Código do texto: T2575986
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