Gatão

Gatão

Maria Inês era uma menina de 6 anos com lindos olhos azuis, muito vivos. Tinha entrado há um mês para o 1º ano de uma escola no meio da serra. Não tinha muitos colegas na pequena escola. Eram apenas 15 alunos ao todo. Mas ... como eram amigos! De manhã, a caminho das aulas, passavam pelas casas uns dos outros e lá se iam juntando num pequeno bando barulhento. Apanhavam flores silvestres pelo campo fora para, chegados à escola, as entregarem à professora. E como ela fazia lindos arranjos com as queirós, as pinhas e os ramos de carvalho, no Outono! Para tudo o que eles levavam se arranjava uma utilidade.

Um dia, o Manuel do 4º ano encontrou uma pedra oval, muito branca, muito polida. Entrada nas mãos da professora, transformou-se, imaginem, num lindo peixe de fantasia, claro! Ela desenhara-lhe uns olhos, umas lindas escamas e o Manuel, todo contente, dera-lhe uma camada de verniz. Que lindo ficou o peixe!

Outro dia...bem, num outro dia, encontraram algo bem mais sério. Perto da casa do Simão, outro menino do 4º ano, aperceberam-se de um leve gemido que parecia vir de trás da parede do quintal. Que estranho! O que seria aquilo? O Manuel saltou o muro para ver se descobria o que gemia daquela forma tão dolorosa. Não foi difícil. Logo ali atrás do muro, um pobre cãozinho, todo encolhido, gemia com uma perna partida. O rapaz, um pouco receoso, aproximou-se do indefeso animalzinho e, com muito cuidado, pegou-lhe ao colo. O bichinho, muito encolhido, nem ofereceu resistência. Voltou a saltar a vedação do quintal para junto dos companheiros e lá ficou com o cão nos braços, sem saber o que fazer. Foi Maria Inês quem resolveu:

- Levamo-lo para a escola. Pode ser que a professora saiba curá-lo.

E logo o Manuel:

- Tu ‘stás doida! Vamos agora levar o cão p’ra escola! A professora não vai querer lá o cão.

Porém, Maria Inês tanto insistiu que o Manuel acabou por lhe passar o cão para os braços e dizer que o levasse ela, então. E ela não se fez rogada. Lá seguiu, caminho fora, com o animal nos braços, à frente dos outros que, receosos, se foram deixando ficar para trás.

Quando chegaram à escola, a professora já os esperava, muito admirada com o atraso deles. Quando viu a menina com o bicharoco nos braços perguntou-lhe:

- Então tu tinhas em casa um cão e não me tinhas falado nele? Como é que ele se chama?

- Não sei! Ele não é meu. Encontrámo-lo pelo caminho e está aleijado numa pata.

A professora ficou preocupada e pediu-lhe para pôr o cão no chão.

- Ora deixa lá ver! Está muito sujo Inês. E tem uma pata partida!

E para os restantes alunos:

- Vamos lá, meninos. Todos vão ajudar! Tu, João, vai a minha casa, num instante e pede à D. Fátima que te dê sabão e o veneno para as pulgas que eu costumo usar no meu cão. Vá, depressa! Tu, Cristina, que moras aqui ao pé da escola, vai a casa e pede à tua mãe uma toalha velha. O resto que é preciso temos nós cá. Levem o cão lá para trás, para o átrio. Ah! É verdade! Tu, José, vai pedir à tua mãe um cobertor velho e um cesto, ou caixa, qualquer coisa que sirva para fazer uma cama para o cão. Eu vou pôr água a aquecer para darmos um banho ao nosso... como lhe vamos chamar, Inês?

- Gatão, senhora professora. Ele parece um gato grande!

- Muito bem, fica Gatão!

Quando o João chegou, a professora espalhou o desparasitante no cão. Depois da água aquecida deitou-a numa bacia velha e levou-a para o átrio. Pegou no cão com toda a cautela, por causa da pata ferida, e pô-lo dentro da água morna. Ele sentiu-se bem e deixou-se lavar bem lavado com sabão. Todos queriam ajudar, mas a professora não deixou e explicou:

- Quando ele estiver limpo podem brincar com ele, pegar-lhe ao colo e tudo. Sujo, não. Sabem, os cães podem transmitir doenças graves às pessoas se tiverem parasitas, especialmente carraças. A febre das carraças é transmitida às pessoas pelos cães que as têm e é uma doença grave. Por isso, vamos pô-lo, em primeiro lugar, limpo. E não devem andar por aí a pegar em cães vadios. Podem ficar doentes. Entendido?

Quando Gatão estava bem limpo, sem pulgas, e se tinha verificado que não tinha carraças, a professora deixou que Maria Inês o limpasse bem limpo com a toalha velha que a Cristina tinha trazido. A menina preparou, ainda, o cesto com o cobertor velho e pô-lo ao canto da sala. Trouxeram o cão para o calor que lá se fazia sentir. Aí, em cima de um plástico, limparam a ferida do cão com água oxigenada. A professora pôs-lhe mercurocromo e uma pomada cicatrizante. Cobriu-lhe a ferida com um penso e ligou-lhe muito bem a pata para que o osso soldasse mais ou menos direito. Claro que num meio mais desenvolvido podiam ter levado o cão a um veterinário, mas ali isso não era possível. Também não teriam aprendido tão bem como cuidar de um cão! Tudo tem as suas compensações!

O tempo passou e o cão, já curado, tornou-se um grande amigo de toda a meninada. Traziam-lhe comida, davam-lhe banho e brincavam com ele. Tiveram que o tirar da sala, claro, porque ele queria brincar e saltava para cima das cadeiras e das mesas de trabalho distraindo as crianças e estragando os livros. Fizeram-lhe uma casota no exterior onde ele passou a dormir. No intervalo das aulas, Gatão brincava com os alunos, mas sabia que ao entrarem na sala acabava a brincadeira. Teria que esperar até à próxima oportunidade. E fazia-o à porta da sala. Ali ficava estendido à espera dos seus amiguinhos.

Sempre foi e será verdade que o cão é o melhor amigo do Homem. Que o contrário também seja verdade!

goretidias
Enviado por goretidias em 04/09/2013
Código do texto: T4466084
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