(24/40) Numa noite de luar

Uma calmaria exagerada. Jocilei começa a cantar baixinho como para preencher os lugares onde o silêncio teimava em ocupar.
       - “Tomo um banho de lua, fico branco como a neve, se o luar é meu amigo, censurar ninguém se atreve, como é bom sonhar contigo...”.
       - Ih! Será que o Joci está apaixonado? - pergunta Dora, a doméstica da família, para Mose.
       - Só porque ele esta cantando? Hoje, o luar pede uma cantoria.
Nisso vai chegando Ari em sua caminhonete para visitar a família de Alice.
       - Fui vê-la lá no “Amor-perfeito” e me disseram que estava aqui. O que você está trazendo nesta gaiola? - pergunta Alice antes mesmo de cumprimentá-lo.
       - Presente pra você. Comprei de uma cliente que tem uma veterinária.
       - Pra mim? - pergunta já abrindo - Que lindo é muito fofinho! É um poodle. Tem cara de Binho, é isso aí, ele se chamará Binho.
       - Alice, hoje a lua está tão bonita, vamos dar uma volta pela fazenda, quero conversar com você.
Ari pede Alice em casamento, e ela aceita. Selam o compromisso com um beijo.
Amanheceu.
Binho inicia o dia fazendo o reconhecimento da área. Tor se apresenta com seu latido dando a entender quem é o dono do pedaço.
       - Mais outra raça esquisita de ovelha! - comenta Beto, o carneiro com Rod.
       - Nada disso amigo Beto, é um cachorro, não é ovelha.
       - É mais um carneiro esquisito, desses miniatura, você também é diferente; agora olha só o pelo dele?
       - Ovelha bali, cachorro late, ele está latindo, logo ele é cachorro.
       - Não tem um “passarão” que fala? Esse carneiro late. Há! Há! Há!
Cida, correndo feito uma desesperada, se aproxima...
       - Essa bichinha só vive correndo, já reparou? - comenta Rod
       - Que foi desta vez? - indaga para Cida.
       - É o vô Tonho. É o vô Tonho. Vocês têm que vir comigo.
       - Calma, o que houve com vô Tonho? - pergunta sua mãe Rubenita.
       - Fui, como sempre, dar minha voltinha e pedir a bênção ao vô Tonho, aí, ele queria me contar uma coisa, mas deu um negócio nele que parecia tosse-espirro...
       - Tosse-espirro? Que negócio é esse? Fala logo o que aconteceu com ele.
       - Vocês não deixam eu falar, que coisa!
       - Fala.
       - Olhei pra boca do vô Tonho, porque ele não podia falar direito, aí... Eu... Vi. Os dentes dele estavam no chão, ele ficou esquisito, banguela, banguela. Quando fica velhinho caí os dentes?
       - Também! - bem humorado diz Beto, o carneiro.
       - Vocês vão ver o vô Tonho, que eu e Rod vamos falar com Alice para tomar as providências.
No escritório, Alice tenta convencer Lolla e Rod que veterinário nenhum colocaria dentes em um carneiro. Lolla não se conforma, diz que já viu na TV que o homem coloca órgão de animal em gente, por que não colocaria dente em um carneiro idoso?
       - Só conheço um que faria qualquer coisa por dinheiro. - fala Ari para eles. - Não vai me dizer que...
       - Ele mesmo, Dr. Ri-ba-leu-za. Vamos ligar pra ele.
No aprisco, as ovelhas assistem o atendimento de vô Tonho pelo Dr. Ribaleuza e sua assistente Beth.
       - Não vai doer nada Tonho. - e virando-se para Alice pergunta:
       - Faço os dentes de acrílico ou de porcelana?
Três dias depois, ainda numa noite de luar, estão todos reunidos para um bate-papo informal: cantoria, contagem de histórias, quando, de repente vem chegando, imagine quem?
       - Vô Tonho! De dentes novos... Está todo reluzente.
       - O cara é maluco, mas que trabalha bem, trabalha, não é Ari? – referindo-se ao dentista.
       - Agora vocês vão ouvir as minhas histórias. - fala vô Tonho todo satisfeito.
       - As histórias dele são muito compridas. - fala Rubenita.
       - Calem a boca, vocês vão ter que me engolir. - rebate vô Tonho.
Rod Mel comenta no ouvido de Lolla.
       - Será que fizemos à coisa certa? Não era melhor ele ter ficado banguela? Há! Há! Há!


Continua amanhã...