(29/40) Um ano depois

As coisas estavam acontecendo nas Fazendas Reunidas.
Agora era assim que se chamavam as três fazendas juntas. Não havia mais cercas separando-as. De um lado, a residência de Ari e Alice, que também funcionava a Allegrartte. A sede principal, onde vivia Seu José com Lúcia e os funcionários e a Clínica de Emagrecimento Sueli Megahinne, vulgo Spêra. Unindo todas elas, o rebanho de ovelhas mais famoso. Entre as ovelhas o destaque para uma família especial: Rod Mel, Lolla e seus filhotes Rodolfo e Jully.
Rodolfo é um jovem carneiro muito interessante. Observador por excelência das coisas que o cercam, também aficionado por leitura e pesquisa vive procurando a razão de tudo. Usa óculos. É um sabe tudo. Tem dúvida, pergunte ao Rodolfo?
Jully é uma tremenda flu-flu. Só quer saber de aparecer, viver na moda. Ela tem estilo. Adotou um arco na cabeça com parte se sua personalidade. Com certeza, mania de rainha. Seu pai Rod vive fazendo todas as suas vontades e como admirador não vê nela nenhum defeito.
Os irmãos se gostam, na mesma proporção que brigam.
Lolla é feliz. Adora tudo que vê e que faz. Continua se preocupando com os outros, não perde os acontecimentos da família e... Sonha em achar seu casaco de raposa.
       - Mãe eu preciso de um arco novo. Quero aparecer bem bonita nas fotos para o book. - pede Jully à Lolla.
       - Fale com Alice. Pode ser que algum artista da Allegrartte tenha feito tiaras, aí você usa.
Lá na casa de Alice eu vi uma foto sua com o casaco de pele. Você estava com uma mulher, aí ela me disse que era Sueli, e foi ela quem deixou toda herança pra você... Por que você usava um casaco?
       - Ora, Jully eu pensei que você quisesse saber de Sueli?
       - De Sueli eu sei que era destrambelhada. Do casaco é que quero saber, conta vai.
       - Era um casaco que comprei e que sumiu quando vocês nasceram. Só.
       - Eu não acredito que é só isso, alguém deu pra você.
Silêncio. Jully vendo que não arrancaria mais nada de sua mãe tratou de voltar ao seu mundinho.
Todo o rebanho já havia se deliciado com as pastagens tenras das primeiras horas da manhã; menos Rodolfo que não se movia, agachado num lugar lá na colina. Mose já estava se preocupando, era muito tempo na mesma posição. Será que esse carneirinho não sentia fome? Foi caminhando para lá, bem devagar.
        - Rodolfo, que está acontecendo? Deu algum mau jeito na perna?
        - Pssiiiu! Estou observando as formigas. Elas estão decidindo algo muito importante para o formigueiro.
        - Como você sabe disso?
        - É porque estão todas do lado de fora. Aconteceu algo lá dentro. Ou alguém muito importante morreu e precisa de nova liderança, ou tudo desabou e elas precisam buscar outro lugar.
        - Que idéia? Formigueiro são como colméia, as coisas acontecem por instinto e não por política. Vamos pro pasto, você tem de comer, senão, como seus neurônios vão funcionar?
É, com certeza pastor tem que ter muita sabedoria!
A Clínica “Spêra” estava lindamente decorada com obras de arte de artistas revelados na Semana de Arte Allegrartte. Hoje, chegaria para uma semana de repouso, nada mais, nada menos que Patty Richard, atriz americana que ficou sabendo do “Spêra” pela internet. O lugar era como a fazenda de sua infância e isso fez com que ela ficasse maravilhada.
Ubiratan “Bira”, administrador da Clínica, está aflito porque receberá a primeira cliente de importância internacional. Não se cansa de recomendar a sua gerente Beth, que tenha todos os cuidados para a estadia da Patty ser perfeita. Com tantas recomendações, Beth murmura:
        - Livrei-me do Ribaleuza e arranjei um Bira, é mole?!
Na semana que Patty Richard se hospedou no Spêra, além de repousar, ela conheceu tudo das Fazendas Reunidas. Fez amizade com Ari e Alice. Ouviu a história da Lolla, ficou tão interessada que assistiu ao filme várias vezes. Conheceu a família da Lolla e seus amigos, achando todos divertidíssimos. Achou muito interessante ter uma escola de arte tão boa, e ali, numa fazenda, provando que talento existe em qualquer lugar. Numa dessas visitas à Lolla, ficou sabendo da perda de seu casaco de raposa.
       - Lolla já fiz muitos filmes de suspense, e os roteiristas sempre dizem que os culpados são os que têm motivos, mesmo que sejam idiotas. Quem teria motivo para roubar seu casaco? Pelo visto você ficou com ele um bom tempo, certo? Então não era um caso de cobiça. Poderia ser para magoar você?
       - Ninguém iria querer magoar Lolla. - diz Rod Mel.
       - Será?! - deixa Patty a pergunta no ar.


Continua amanhã...