CRIANÇA MALTRATADA

Sonhava ser uma graciosa bailarina.

Sapatilhas coloridas, cabelos com gel,

Arrumadinhos como se fosse uma princesa,

Sobrancelhas levantadas, olhos pintados,

E para completar, um leve rubor na face.

Imaginava deslizando num palco iluminado,

Ao som de uma orquestra toda engalanada,

E as bailarinas que também compunham o cenário,

Rodavam uma valsa como se fossem fadinhas,

Todas graciosas tirando aplausos da platéia.

Despertava esfregando os olhinhos bem abertos,

E como se estivesse não acreditando no que via,

Pisou descalça no chão frio da madrugada gelada,

Que o pequeno cobertor nem um pouco lhe esquentou,

E sua triste realidade se descortinou quando o sol brilhou.

Não via pássaros cantando nem árvores carregadas de flores,

E o córrego que trazia mau cheiro corria preguiçoso,

Trazendo todas as impurezas dos barracos vizinhos,

Pendurados nos barrancos por falta de espaços,

E a pequena garotinha não tinha nem onde correr.

Seu mundo pequeno tinha somente pequena trilha,

Onde os moradores transitavam sem ao menos sorrir,

Não existindo espaços para deslizar seu corpinho gracioso,

Imaginando ser uma bailarina deslizando suave num palco,

Mas o cenário era cruel e seus sonhos então se apagavam.

Triste destino de muitas crianças que vivem esses sonhos,

Mas as condições de misérias impedem sejam realizadas,

E quando perguntava à mamãe porque não poderia dançar,

Lágrimas de tristeza via naquele rosto crispado de dor,

Por não poder ver realizado o sonho da filhinha,

Que queria apenas deslizar seus pezinhos num palco colorido,

Como suas amiguinhas que eram graciosas bailarinas

Jairo Valio

05-02-2018