OS BICHOS BACANAS DO BOSQUE BORÉ

Nossa história tem início já quase no fim do dia, numa tarde de verão, naquele bosque bem sossegado onde muitos bichos viviam.

Tinha Cobra e Jacaré, Bem-Te-Vi e Gavião. Tinha Mico com Preguiça, Sapo tinha e até Pavão. Bicho bonito, bicho esquisito, tinha de tudo quanto é tipo! Tinha Paca, tinha Tatu, mas Cotia não tinha não!

Era o lar da bicharada toda e mesmo sendo muito diferentes, eles viviam numa boa. Um lugar encantador com um cristalino ribeirão e, para completar, no meio desse bosque havia uma linda lagoa.

E bem ali, sentado em uma pedra, estava o simpático Sapo Lelé, assobiando uma linda canção enquanto lavava o pé. Tinha orgulho de ser o bicho mais limpinho de toda a mata. Ao contrário do que os outros diziam, ele não tinha nem chulé.

Foi quando surgiu um bicho gigante das profundezas do lago, fazendo o Sapo cair – TIBUM – dentro d’água fria. Pulou de volta para sua pedra depois daquele susto danado, enquanto olhava a criatura que se debatia.

Era o José Adalgamir Baruel de Itaparica Boré Militão Precioso Verde Musgo Tucunduvá Urdangarin Frôscolo Jovino Aimbaré Caiman Açu de Oliveira Reptiliano, mais conhecido como: Zé, o Jacaré.

O coitado se debatia pra lá e pra cá, com sua boca enorme aberta e lá no fundo, bem na sua goela, um saco plástico enroscado. Por ter as patas curtinhas ele não conseguia tirar e já estava ficando roxo, sufocando quase sem ar.

O Sapo Lelé ficou a pensar: “será que esse doido do Zé tentou comer biscoito com embalagem e tudo?”

— Socorro, Lelé! Me ajude! — gritou o Jacaré.

Mais que depressa, Lelé pulou pra dentro da boca do amigo Zé, é claro, tomando muito cuidado com os dentes enormes e afiados.

— Calminha, meu chapa! Vou dar um jeito. Só não feche a boca, que não quero ser jantado.

— Não é hora de fazer gracinha, Lelé! — resmungou Zé, já quase sem ar.

E com toda sua força, que não era muita, o Sapo Lelé deu um puxão saindo — ele e o plástico — pela boca do Jacaré. Caiu bem na margem do lago e ficou todo sujo de lama, mas sem nenhum arranhão. Era só tomar outro banho e tudo estava resolvido.

— Puxa! Obrigado, meu amigo. Sem você, não sei que fim teria esta história! — foi dizendo o Zé, todo comovido.

— Ainda bem que você não engoliu — disse o Sapo, olhando para o plástico e pensando divertido: — Queria ver para sair depois...

Enquanto o Lelé se banhava novamente na lagoa lavando muito bem os pés, ficaram se perguntando como aquilo foi acontecer. Nem Zé, que quase morreu engasgado, sabia explicar.

Disse que estava tirando uma soneca na outra margem, de papo pro ar, e o saco plástico deve ter entrado em sua boca quando foi bocejar.

Outro mistério que tinham que desvendar: como será que aquele saco plástico foi parar ali, se o lago sempre foi tão limpinho...

— Vamos ter que investigar! — disse o sapinho. — E descobrir quem está sujando o lago.

Na mesma hora, concordou o Jacaré. A ideia era boa, mas por onde começar?

E pensa daqui, pensa dali, pensa de lá e pensa de cá, decidiram começar... Pelo começo! Resolveram que cada um iria pra um lado para investigar, mas quando se preparavam para sair ouviram um bater de asas e folhas caindo sem parar.

Olharam para o alto e lá estava, num galho da goiabeira, Fifi, a Bem-Te-Vi. Também conhecida como Fifi, a fofoqueira.

— Olá, Fifi! — disseram os dois amigos.

— Bem-te-vi, meus amigos. Para onde vão?

— Vamos procurar pistas! — disse o Jacaré.

Lelé e Zé narraram toda a história para Fifi, tudo o que tinha acontecido até ali. Depois, um pouco triste, a simpática ave exclamou:

— Bem-que-vi! Tinha medo que chegasse esse dia...

— Como assim? — o Sapo Lelé perguntou.

— Você sabe quem está sujando nosso lago? — indagou Zé, o Jacaré.

Fifi, a Bem-Te-Vi, então começou a fofocar. Ou melhor, cantar. Ou melhor, contar. Já fazia um tempo que prestava atenção em tudo o que acontecia. E agora que até o lago do bosque estava sujo, sabia — mais do que o Sabiá que sabia assobiar — que um enorme perigo estava prestes a chegar.

Disse ainda, com muita tristeza, que sempre voava pela cidade e descobriu que os humanos não têm muito carinho pela Mãe Natureza. Contou que o “bicho homem” joga lixo nas ruas, poluem rios e das florestas, desmatam o pouco que restou.

Com essa história tão triste o Sapo Lelé quase chorou. A Fifi sabia que aquele plástico foi jogado na cidade e a água da chuva para o lago o levou.

— Mas que falta de respeito com a natureza — o Zé resmungou.

— E com nós, os animais! — o Sapo Lelé completou.

Fifi estava preocupada, pois nem fazia ideia do que mais poderia acontecer. Assustado, o Jacaré pensou em se mandar. Pegar suas coisas e dar no pé! Seguir rio acima, para longe dali.

— Não vai adiantar — comentou a Fifi.

A Bem-Te-Vi ainda contou que muitos rios e riachos são poluídos justamente onde deveriam ser mais protegidos: nas nascentes! Por conta de empresas e muitas casas que despejam ali seus esgotos com todo tipo de sujeira. Assim poluem e matam as fontes de água, prejudicando uma cidade inteira.

Os amigos já estavam desesperados, sem saber o que fazer. Fugir e tentar se salvar? Ou ficar para morrer? Mas a sabida Bem-Te-Vi tratou logo de acalmar os coitados, dizendo que ainda havia esperança:

— Ouvi dizer que ainda tem muitas pessoas com bom coração e que cuidam da Mãe Natureza. Assim como nós.

— Mas isso é uma beleza! — disse o Sapo. E logo quis saber: — São super-heróis?

— Não! — respondeu a ave. — São chamadas de crianças!

Ela bem-que-via e acreditava que elas seriam a salvação de todo o planeta. Preservando, cuidando e consertando tudo o que foi feito de errado. Pois respeitando e protegendo o meio ambiente hoje, a natureza se recupera de tudo o que já foi devastado.

Assim os dois bichos respiraram mais aliviados e puderam até relaxar. Ufa! Mas sabiam também que não poderiam ficar de braços cruzados, pois de alguma forma deveriam ajudar. Então, outra ideia supimpa teve o Lelé: convocar uma reunião com todos os bichos do Bosque Boré.

— Os bichos, unidos, jamais serão vencidos! — disse Zé, o Jacaré, todo animado.

A Fifi fofoqueira seria a porta-voz, aquela que anuncia a novidade. Avisaria todos os pássaros da região, que avisariam todos seus parentes, que avisariam todos os seus amigos, que avisariam todos os seus conhecidos até todas as aves dos céus do mundo inteiro saberem.

O Sapo Lelé e o Jacaré Zé correriam pelas matas e rios avisando todos os bichos da terra e das águas, que avisariam seus parentes, que avisariam seus amigos, que avisariam os conhecidos, que avisariam os desconhecidos dos mares e todos os continentes, até todos os bichos do mundo inteiro saberem.

Saberem que o planeta Terra é a casa de todos, por isso todos devem cuidar. Protegendo uns aos outros, é a melhor maneira de ensinar aos humanos o que é amar.

Trataram logo de avisar os bichos do bosque e mais que depressa começaram a trabalhar. Limparam o rio e a lagoa, as trilhas e o jardim. De um lado a outro, por todo lugar, tudo ficou perfeito. Do brejo até o pomar.

Mestre Pica-Pau, escultor de primeira, escreveu uma bela frase em um pedaço velho de madeira, que os Micos Tonico e Birico trataram logo de pendurar em um enorme pé de Jacarandá.

O horizonte dourado anunciava o fim do dia, enquanto os bichos todos abraçados numa cena comovente e que para sempre vai ficar, admiravam aquela placa que dizia:

“BEM VINDOS AO BOSQUE BORÉ.

NESSE PEDACINHO DO MEIO AMBIENTE,

FIZEMOS O NOSSO LAR!”

Ale Silva
Enviado por Ale Silva em 12/03/2018
Código do texto: T6277897
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.