Nem tudo que Corina viu viveu e aprendeu, veio das cercanias da fazenda Campo Grande, ou  dos almanaques que lia. Tinha impressões de viagem do Rio de Janeiro à Bahia, fuxicando com a neta também o  Norte de Minas, para recontar sua história. Aprendera muito com o marido. Ele trouxera do Nordeste uma bagagem de cultura regional, sabedoria popular,  e um baú de lendas e fatos com o matiz das cores do Brasil. A carimbamba,  por exemplo, Corina achava que era invenção de Generoso Batista. Generoso contava que ninguém do sertão ou do mar, jamais viu a carimbamba. Só à noite se ouvia seu lamento triste, semelhante ao clangor da acauã, canglorando, canglorando, agourando morte na aldeia. Dizem que  a carimbamba que há três mil anos canta, tem cabeça de gente e asas que não voam. E é igual em malvadeza ao Cabeça de Cuia, que, ‘Sete Marias  precisava tragar. Sete virgens comer pro encanto acabar...'  Já estava escuro, quando Maryula ouviu a carimbamba cantar: “amanhã eu vou... amanhã eu vou...amanhã eu vou... amanhã eu vou.” Curiosa, a menina adentrou a mata, e ao pisar o junco, na beira do brejo, a vegetação se abriu e a lagoa encantada apareceu. Maryula não voltou para casa. E até hoje, corre o boato, que uma velha encurvada, grasna, em noites de lua cheia, na lagoa que não é mais encantada.
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Adalberto Lima, trecho de "Sete Faces Congeladas." Título anteriormente cogitado para "Estrada sem fim..." 
 Adalberto Lima. Foto do Monumento em homenagem à lenda do Piauí: Cabeça de Cuia.