Meninos caçadores

Certa vez, lá nos cafundós do Barro Preto, onde fica a fazenda do avô do Samuel, o senhor José do Patrocínio, apareceram dois meninos encapetados. Ninguém soube ao certo como foi que eles chegaram por lá. Estavam bem vestidos e diziam ser moradores da capital e que foram lá para caçar onça. Todos os moradores da fazenda ficaram intrigados com aquela história, pois que, por lá não haviam animais que pudessem ser caçados e abatidos por dois meninos estranhos e bonitos.

Sem saber o que fazer, o senhor Patrocínio perguntou para o mais velho:

__ Qual é o seu nome?

Ele olhou para o mais novo como se combinassem uma senha.

__ Meu nome é Sabugo.

Enquanto o mais novo disse:

__ E eu sou o Cavaco, em carne e osso.

O avô muito brincalhão disse:

__ Gostei... o meu é Espiga de Milho.

__ O quê?!

__ Isso mesmo, Espiga de Milho. Pois bem! Quer dizer que vocês vieram aqui para caçar onça.

__ Sim, isso mesmo!

__ Pode ser pintada? Perguntou o avô do Samuel.

__ Claro e quanto maior melhor!

__ Quando é que vocês gostariam de sair para caça-las?

__ Pode ser amanhã de madrugada.

__ Muito bem, vocês podem dormir por aqui, não se preocupem, vou arrumar duas camas para vocês passarem a noite. Quando chegar a hora acordo vocês.

__ Combinado.

Responderam em uníssono.

As camas foram arrumadas no maior capricho. Logo em seguida, o anfitrião ofereceu um belo jantar para os caçadores que não rejeitaram nada do que foi colocado à mesa. Quando o relógio cravou onze horas eles resolveram que iriam dormir. Foi quando o avô de Samuel perguntou pelas armas e as munições, no que eles disseram firmimente:

__ Não se preocupe, temos bala pra mais de uma dúzia de onças. Mas se for preciso, podemos abatê-las até no muque.

Assim foram dormir sossegados e de barriga cheia. O senhor Patrocínio era mais moleque do que menino de rua, serelepe, resolveu pregar uma peça naqueles dois farofeiros metidos a caçadores de onça.

Quando eles dormiram, o senhor Patrocínio levantou sorrateiramente e os carregou para a sala de troféus, sala de que cuidava com muito carinho. Lá haviam cabeças de tudo quanto é bicho. Aquilo parecia um velho zoológico de tanta tranqueira esquisita e desusada. A onça pintada que ele havia comprado de um museu, estava com a cabeça dependurada por um fio.

Os meninos foram acomodados de tal modo que, quando acordassem, dessem de cara com os bichos mais horripilantes. Para piorar a situação foi colocado um barbante no meio do salão para que, quando o primeiro menino levantasse, tropeçasse na armadilha e disparasse o alarme da casa, dito e feito! A sirene disparou as quatro da madrugada. O susto foi tão grande que um dos meninos fez xixi na roupa. O outro ficou que nem uma estátua de cera com as mãos tampando os ouvidos.

O velho Patrocínio por pouco não perdeu a fala. Nunca imaginou que aquilo pudesse acontecer com tanta intensidade, acreditava que os meninos fossem um pouco mais acostumados com fazendas antigas e cheias de bugigangas como era a casa dele. Sem saber o que fazer, pediu desculpas para os meninos e disse que nunca mais faria uma traquinagem como aquela.

Ao amanhecer, mortos de vergonha, os meninos voltaram para as suas casas.

Dias depois os moradores da fazenda ficaram sabendo que eles haviam fugido de casa.

Depois dessa experiência assustadora, acredito que eles aprenderam que fugir de casa pode ser uma péssima ideia.

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 14/08/2018
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