Matilda em: como queria ter conhecido Lili

Não posso negar que gosto da vida que tenho levado aqui no sítio em Águas Claras-RS, mas por vezes me sinto sozinha. Queria muito ter alguém pra brincar, correr pelo pátio, disputar um ossinho, rolar na areia e na grama. Com os bichanos, nem pensar, esses só querem dormir o dia todo, detestam uma aventura.

Dia desses, a minha humana me contou a história da cadelinha Lili, que viveu um tempinho com eles aqui. Querem ouvir?

Certo dia o humano-mor foi levar o gato chamado Deim na veterinária, que aprendi, com a bicharada daqui, a chamar de tia Margarida. Eis que logo que ele entra, uma cadelinha branca, com manchas pretas no focinho e dorso, se gruda nos seus tênis, fica mordiscando a barra das calças, fazendo aquilo que, nós cães, somos "experts", encantar humanos de coração mole.

E deu certo, o homem chegou em casa e disse pra humana que havia se apaixonado por uma cadelinha que tinha sido deixada pra adoção na clínica e, que já havia até escolhido o nome - Lili. A humana disse que não queria saber de outro cão em casa enquanto a velha cadela Zefa fosse viva, pois queria que ela vivesse seus últimos dias em paz.

Mas o humano-mor, no dia seguinte foi levar o gato Deim pra nova consulta e a tal Lili saltou nos seus tênis, fazendo a maior festa, dai ele não resistiu, e trouxe a Lili pra casa. Pois não é que a humana se apaixonou, assim, de cara pela cadelinha - nessa hora fiquei até com um ciuminho da Lili!

A cadelinha, muito esperta, começou a mostrar seus dotes, correndo, pulando, mordiscando a velha Zefa, fazendo o maior fuzue, tudo devidamente registrado em vários click-click , que foram repassados aos outros membros da família por este tal de watsap (parece que os humanos formam matilhas...quer dizer grupos, dentro desta maquininha).

E a Lili ficou-ficando. Encantou os humanos-donos, a tia Lúcia, que trabalha aqui (também gosto muito dela) e, acreditam que a "bonitinha" foi até fazer viagem ao exterior? É, uma das irmãs humana, Elúsia, levou a dona Lili para passear no Uruguai. Não sei bem se ela voltou latindo algo em espanhol.

Depois ainda foi pra Santa Catarina conhecer ao vivo e a cores, os irmãos humanos Liziane e Lucas. Todos, absolutamente todos, se apaixonaram pela cadelinha Lili, disse a minha humana. Ela me falou que era como se a Lili tivesse chegado na família, para trazer harmonia e alegria, parecia até mágica (ui fiquei com ciuminho outra vez).

Mas a estada da Lili foi por estas bandas foi curta. Esta parte minha humana conta com os olhos cheio d'água (humano também chora). A Lili ficou doente, lá em Santa Catarina, muito doente mesmo e o tio veterinário de lá, logo que a examinou já foi dizendo que era uma doença grave. Minha humana nem quis me dizer, com muitos detalhes, o que era, só sei que a Lili não está mais aqui e nem em Santa Catarina pois estive lá e não vi nenhuma cadelinha chamada Lili.

Tentei latir pra minha humana, dizendo que a vida é assim, cheia de encontros felizes e desencontros que nos deixam tristes, mas a vida precisa seguir. No meu latido ainda disse que tenho certeza da felicidade da Lili, no tempo que ficou por aqui, com toda família França. Sei disso, porque me sinto feliz aqui. Tá certo que as vezes faço umas artes e levo uns carões, mas ainda sou cão-criança e logo cresço e fico mais comportada.

Fico triste de não ter conhecido a Lili! Acho que a gente ia se dar tri bem, brincar muito e fazer muita arte juntas, mas é vida que segue, então vou ficar tentando convenser os felinos a brincarem comigo - tá difícil!

Tânia França
Enviado por Tânia França em 11/03/2019
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