A mosca da sopa

Meu nome é Zurieta, sou uma mosca que fica voando pelo restaurante mais requintado e social da cidade o Paladino Galvanês. Me chamam de mosca da sopa mas eu não gosto de sopa, prefiro os outros pratos que eles servem, tem uma aparência melhor.

Meu maior sonho é ser um humano e poder sentar sobre uma mesa desse restaurante e me fartar dos melhores e melhores pratos além das bebidas que enfeitam as taças.

Para não correr o risco de ser morta por um inseticida ou raquete elétrica eu fico pousada entre as lâmpadas e assim me contento apenas com o cheiro das comidas.

Sei de cor e salteado as pessoas que mais frequentam esse lugar e até fico preocupada quando dão falta.

Se eu fosse uma humana poderia até escrever um diário cotidiano sobre todas as pessoas que aqui entram e saem, os pratos de costume que comem e algumas que até repetem o mesmo visual.

Lembro-me bem de um casal muito, mais muito bonito que veio para o jantar.

A mulher foi a primeira a chegar, cabelos compridos e castanhos como amêndoa e um vestido vermelho de cetim, parecia que sangrava no meio de todos. O batom fazia combinação e os seus olhos como de um felino intimidava os homens ali dentro.

Chegou na porta, se identificou e já foi sentando na mesa. Ela olhava o celular incessantemente e já estava com as bochechas rubras de vergonha.

Coitada da moça! Pensará que foi abandonada.

Então chegou um homem alto, num terno bem alinhado, cabelos penteados pra trás e sapatos brilhantes como bola de bilhar.

Ela abriu os lábios e sorriu:

- Oh George pensei que não viria!

- Milady eu enfrentei um trânsito,peço desculpas - beijou a mão dela e se sentou.

Eu toda curiosa, voei de mansinho até o lustre que ficava em cima da mesa deles para observar mais de perto. Ah eu queria ser ela nem que fosse por uma noite!

Após os tilintares de taças e os camarões fritos com uma sopa que não comeria nem amarrada, o homem pediu licença e saiu para fora. A moça ficou toda desesperada achando que tivesse errado na ocasião, quase levantou para ir atrás mas achou ser falta de elegância e esperou.

Então o garçom chegou com uma bandeja coberta, o homem voltou e pegou a bandeja da mão do garçom que foi se afastando.

A moça sem entender nada corou o rosto de vergonha.

Então ele descobriu a bandeja e entregou uma taça que de propósito tinha um anel muito brilhoso.

Ela emocionada começou a chorar e imediatamente disse sim. Eu não entendi nada.

Então voei para a mesa para saber mais, o garçom começou a abanar a mesa para que eu saísse e trombou em um outro que estava atrás dele.

Este caiu no colo de uma senhora que lançou um tapa em seu rosto e a sopa que estava na sua bandeja foi parar no rosto do marido dela.

A moça com seu vestido cor de sangue, pisou na barra e acabou rasgando o tecido deixando todos ver sua calcinha.

Ela correu para fora chorando e o homem a seguiu.

No fim da noite, o casal foi embora em carros diferentes e não disse nada, os dois garçons foram dispensados e eu no meio daquela confusão voei tanto que cai na telha de uma aranha debaixo da mesa no fundo do salão.