PEDRO PEDRA E A BRUXA (cordel infantil)

No tempo da carochinha

Morava em uma vilazinha

Um menino muito valente

Que de um fato era ciente

 

Que na mata vivia uma bruxa

Feia, malvada e gorducha

Que tinha o mau costume

De afiar do facão o gume

 

Para assustar os meninos.

Um dia, evitando os felinos,

O menino que era valente

Mas também inconsequente

 

Entrou na mata sem se dar conta

Da seta que a estrada aponta

Levava o incauto caminhante

À casa da bruxa Violante.

 

Feliz, o menino de nome Pedro

Correu e subiu em um cedro

Desceu ao ver uma goiabeira,

Cheia de frutos em uma clareira.

 

Para ela correu todo lampeiro

Sentindo no ar o doce cheiro

Daquelas goiabas amarelinhas.

E gritando são todas minhas

 

Subiu, sentando-se em um galho

Recolhendo as frutas sem atrapalho

Quando ouviu um som rouquenho

Que dizia: Pedro fome eu tenho

 

Desça e me dê uma frutinha

Pois sou uma fada boazinha.

Pedro tremendo de medo

Respondeu: o fruto é azedo.

 

Mas a bruxa malvada Violante

Tinha na cabeça a ideia brilhante

De pegar o menino de surpresa

E levar amarrada a sua presa

 

Lá para as bandas do ribeirão

Onde fervia o enorme caldeirão

Na fogueira feita no chão.

Pedro pensou: é uma aberração

 

Preciso de ideia, uma solução

Para sair dessa grande armação.

Lembrou-se que Violante dizia

Ser bruxa versada em poesia

 

E que não existia ninguém capaz

De vencê-la, passa-la para trás.

Então Pedro disse em alto tom:

Você diz que tem um dom

 

De compor versos, que é poetisa

E que nem de inspiração precisa.

Levará as frutas que peguei

Se fizer versos com a palavra lei.

 

A bruxa pensou e deu uma risada

Ajeitando a velha saia amassada.

Começando uma rouca ladainha

Violante disse tanta abobrinha

 

Igual a quem de poesia nada sabe.

Pedro ria dizendo: que o céu desabe.

A bruxa repetiu o pedido infame:

Dê-me um fruto, pois tenho fome.

 

A promessa não foi cumprida

Não recitou a poesia prometida

Se eu descer você me pega

E para o caldeirão me carrega.

 

Mas como sou um menino esperto

Quero propor-lhe em campo aberto:

Feche os olhos e fique parada

Repetindo sem parar, sem errar

 

A cantilena que vou lhe ensinar

Para ganhar as frutas que desejar.

Percebendo êxito nesta proposta

De pegar o menino ela aposta

 

Que fará tudo que ele mandar.

Fechando os olhos pôs-se a cantar

Pensando no velho caldeirão

Cozinhando o menino Pedrão.

 

Então repita rápido sem parar:

Quebra pedra Pedro Pedra

Se pedra Pedro não quebrar

Quem pedra quebrará?

 

Violante iniciou a lengalenga

Muito atrapalhada e capenga.

Errando tudo estava temerosa

Da fuga da presa ao fim da prosa.

 

Violante, repetindo sem parar,

A cantilena pôs-se a rodopiar.

Pedro aproveitou o momento

Para terminar seu tormento.

 

Desceu da árvore rapidamente

E caminhando cautelosamente

Afastou-se daquele espetáculo

Antes que surgisse um obstáculo.

 

Ao longe olhou para trás e viu

Que a bruxa numa nuvem sumiu

Furiosa por ter sido enganada

E não ter a grande fome saciada.

 

23/02/22

 

(Maria Hilda de J. Alão)

(Histórias que contava para o meu neto)

https://hildaalao.blogspot.com