BETINHO E LUÍSA NO MARAVILHOSO MUNDO DA MÚSICA

Betinho não para nunca. Está sempre aprontando alguma das suas. Das suas descobertas. Ele leva muito a sério o apelido que sua mãe lhe colocou: pequeno Albert, numa referência ao maior físico de todos os tempos, Albert Einstein.

Ele comprou até um jaleco branco, com o qual vai às aulas no laboratório de Física. Acaba sofrendo um pouco de bullying dos outros colegas. Menos da amiga Luísa, que também quer ser cientista. Ela normalmente zomba dele por prazer, por outros motivos.

Eles combinaram de ir à loja de instrumentos musicais. Iriam se encontrar às 10 horas. Betinho é muito pontual, não atrasa nunca. Luísa faz o tipo mais brasileira mesmo, daquelas que sempre dá um jeitinho de atrasar uns minutos. Para desespero de Betinho.

Mas desta vez Luísa já estava na loja esperando por ele. Talvez só para jogar na cara dele que ela consegue ser pontual quando quer. E se não é pontual é por livre escolha. Que faz isso só para implicar mesmo. Para gerar algum atrito, que sempre termina em boas risadas.

- Olá, pequeno Alberto! – saudou ela, acrescentando um “o”, exatamente para testar a reação do amigo.

- Não é Alberto, é Albert, de Albert Einstein!

- Besteira, você é brasileiro. Então vamos combinar que fica melhor Alberto Einstein. E cá entre nós, você precisa comer muito feijão ainda para ser um cientista – brincou Luísa, com um humor bem afiado.

- Quando eu ganhar o Nobel quero ver como vai me chamar! – sonhou o garoto, para encerrar a discussão.

- Betinho, o sonhador! E se eu ganhar primeiro? – provocou Luísa.

- Estarei lá para te aplaudir, na primeira fila. Sem nenhuma ponta de inveja – disse, de forma irônica Betinho, cruzando os dedos.

Após um pouco mais dessa prosa, os dois entram na loja e começam a olhar os instrumentos. Se maravilham diante de tantas opções de aparelhos musicais.

O moço da loja, de nome Raul, fala para eles ficarem à vontade e que podem chama-lo caso precisem de algo.

Betinho e Luísa começam a explorar a seção das guitarras e violões. Cada instrumento mais bonito e mais caro que o outro. Os olhos ficam faiscando, mas por enquanto é só um sonho de criança. São brinquedos muito além da mesada que recebem e o pior: muito além da média de presentes que recebem no natal.

- Fecha os olhos e faz um pedido, Betinho, vai que o Papai Noel te dá uma guitarra dessas do natal...

- Acho que uma guitarra dessas não cabe na mochila do Papai Noel – brincou Betinho.

- Betinho, você sabe que o som de música tem a ver com Física? – perguntou Luísa.

- Li algo a respeito. Não cheguei a aprofundar, mas estou curioso para saber.

- Vou explicar para você, pequeno Alberto – zombou ela.

- É mais ou menos assim: quando batemos o dedo numa corda, ou tocamos com a baqueta na bateria, por exemplo, o som que faz é um tipo de ressonância dos átomos. Eles produzem um tipo de vibração, o que gera o som. Loucura né? – ensinou Luísa.

- Nossa, falando assim nem parece que é uma arte – lamentou Betinho.

- É a arte da Física! Fica ainda mais interessante porque se junta ciência e arte e faz um som maneiro! – eis a bela sacada de Luísa.

- Nunca tinha pensado por esse lado, Luísa. Bonito isso que você falou.

- Claro que é bonito, pois foi dito por mim! – se gabou a pequena cientista.

- Não precisa ficar mais empolgada do que já é, hein?!

- Falar a verdade não é ser empolgada, meu caro! – disse a empoderada Luísa.

- Vou fingir que não estamos tendo essa conversa. Vou fingir que estou em Nárnia agora, tocando guitarra numa banda de garagem que vai ficar famosa! – brincou Betinho.

Luísa aproveitou que sabia muito do assunto e não perdeu a oportunidade de dar umas aulinhas para o colega.

- Vou te explicar, Betinho, como se você fosse uma criança de dez anos.

- Mas eu sou uma criança de dez anos... – respondeu ele.

- Às vezes eu esqueço desse detalhe, pequenino Albert. O som, inclusive o da música, é um tipo de onda mecânica. Ele precisa de um meio material para ser transmitido, tipo a mão batendo no pandeiro, por exemplo.

- Prefiro que você use um piano como exemplo – provocou Betinho.

- Engraçadinho você. Vai dizer que sabe tocar alguma coisa...

- Gaita conta? – perguntou ele.

- Contar conta, mas conta pouco. E só soprar não é tocar. Assim como qualquer som não é música. A Física explica isso também.

- A Física explica tudo. Só não explica por que você é exibida quando descobre alguma coisa – zombou Betinho, com uma pontinha de inveja dela.

Luísa adora fazer esse papel. A de mais inteligente. Ou pelo menos a que sabe coisas que Betinho ainda não sabe. Gosta de bancar a professora, ensinar para ele em detalhes alguma coisa de Física. Para o pequeno Albert, como ele gosta de ser chamado.

Betinho, por sua vez, não se sente muito confortável no papel de aluno de Luísa. Ele gosta quando as novidades do fantástico mundo da Física aparecem pela sua boca. Ele gosta mesmo é de ser o porta-voz das grandes descobertas. Mas isso serve como incentivo para que eles possam cada vez mais pesquisar e exibir seus conhecimentos.

Betinho pegou uma guitarra de madeira muito bonita. Colocou ela ao seu corpo e começou a tirar dela sons imaginários. Como se estivesse numa banda e o público estivesse indo ao delírio.

Luísa se limitou a sorrir, desta vez sem zombar dele. Apenas achou engraçada a imagem. Um garoto que com cara de nerd, com todo o perfil de um futuro pesquisador de laboratório tentando ser um astro da música, um rei dos festivais.

- Não acho que combine muito, Betinho. Acho que você combina mais com um telescópio, olhando as estrelas. Não sendo uma estrela do rock – disse ela, para desaprovação dele.

Betinho, no entanto, continuou empolgado, fazendo seu som ilusório. O instrumento não era tão leve. Ele não tinha muito domínio e nunca havia tocado um de verdade.

O que poderia acontecer de ruim? Quase nada. Mas aconteceu! Ele se desequilibrou e caiu de costas no chão, com a guitarra por cima, fazendo um barulho bem grande.

Por sorte não se machucou. E por mais sorte ainda, não estragou a guitarra cara que estava nas mãos. Mas a sorte parou por aí. O atendente chegou e colocou fim naquele passeio à loja.

- Que bagunça vocês estão aprontando, meninos! – bradou Raul, com cara de poucos amigos.

- Desculpa, me desequilibrei, mas não estragou nada, pode ficar tranquilo – respondeu Betinho.

- Por sorte, por sorte. E ainda por cima, poderiam ter se ferido. Já pensou? Vão brincar em outro lugar, aqui não! – respondeu Raul.

- Não estávamos brincando, estávamos fazendo ciência, moço – foi a vez de Luísa, com sua confiança elevada, dar uma resposta ao atendente, para ilustrar a saída triunfal da dupla daquela loja.

Os dois meninos saíram correndo da loja, como se estivessem correndo de um vilão, como nos filmes que gostavam de assistir na televisão. Era uma dose de aventura, o que para eles era o máximo.

Queriam ser cientistas, mas queriam também ser aventureiros, daqueles que se arriscam para descobrir uma coisa importante. Raul, o atendente da loja de instrumentos musicais, fazia o papel de monstro, de vilão, o cara do mau. Eles, claro, eram os mocinhos, os heróis da história, a dupla que estava tentando salvar o mundo com suas descobertas.

Após percorrerem duas esquinas, sentaram no banco da praça e ficaram lá por um tempo, recuperando o fôlego.

- Que aventura, hein? – se gabou Betinho.

- Teria sido ainda maior se você tivesse quebrado a guitarra e nossos pais tivessem que pagar por isso – acrescentou Luísa.

- Deus me livre e guarde! – respondeu Betinho.

- Mas acho que para a aventura ficar completa temos que investigar mais sobre a relação entre a música e a Física. E, claro, medir nossa corrida, na relação tempo e espaço – disse Luísa, caindo na gargalhada.

- Acho que podemos gravar um vídeo, mostrando um pouco como os instrumentos funcionam pela visão da Física, que acha? – propôs Luísa.

- Acho uma boa ideia, acho que podemos começar pela guitarra – brincou Betinho.

- Não só a guitarra, como os outros instrumentos que usam cordas, como violão violino. O som sai porque quando as cordas são tocadas provocam algumas compressões e efeitos no ar. Nós, cientistas, chamamos de ondas sonoras – exibiu-se Luísa.

- Deve ter um ramo da Física que estuda isso... – pensou em voz alta Betinho.

- Claro que tem. Se chama acústica – respondeu a sábia garota.

- Sério? Que nome interessante. Tipo um show acústico. Gostei!

- Pelo que li é uma área que estuda todos os aspectos das ondas sonoras, incluindo o som e como ela propaga. Falei bonito né? – concluiu Luísa.

- Falou como uma cientista que aparece na televisão – elogiou Betinho.

Entusiasmados com o projeto, Luísa e Betinho começaram a desenvolver algumas ideias.

- Não temos nenhum instrumento musical, seria bom explicar usando um, que acha? – questionou Betinho.

- E não podemos voltar naquela loja, porque você fez papelão lá, né Betinho?

- Foi sem querer, querendo, como diz o Chaves – brincou Betinho.

- Acabo de me lembrar: tenho uma tia que trabalha em uma escola de música. Posso falar com ela para nos ajudar – disse Luísa.

- Seria perfeito. Prometo não derrubar nenhuma guitarra... – brincou Betinho.

- Desta vez você não vai tocar em sua banda imaginária. Vai só imaginar sem pegar em nada, combinado? – propôs Luísa.

- Sua estraga prazeres!

- Estou é resolvendo os problemas. Pode me chamar de senhorita Solução!

- Vou te chamar de senhorita Confusão, isso sim! – provocou Betinho.

- Olha a dor de cotovelo, Betinho!

- Nunca precisou, Luísa, nunca precisou. Mas no fundo você sabe que te respeito como mulher da ciência, digo, menina da ciência. E talvez até goste de você como pessoa! – brincou ele.

- Mentira! Eu sou seu ídolo, você me idolatra e sabe que ser minha amiga vai te render uma menção quando eu for famosa no mundo todo como cientista – disse Luísa.

Enquanto ficavam nesse duelo mental, os dois meninos iam definindo como iriam fazer o projeto de falar sobre Física usando a música como fonte de inspiração e referência.

Chegaram à conclusão que iriam fazer assim: Luísa seria a apresentadora e Betinho o demonstrador. Ela seria a teoria, ele a prática. Enquanto ele explicaria, ele mostraria usando o instrumento.

- Mas vê se não deixa cair desta vez, Betinho. Não vai querer ser famoso como um trapalhão né? Porque os vídeos vão viralizar no mundo todo – disse Luísa.

Definiram alguns detalhes, trocaram mais algumas alfinetadas e por fim apertaram as mãos.

- Então, até amanhã na escola de música – disse Luísa.

- Minha bicicleta estragou, vou precisar de carona – explicou Betinho.

- Vai de ônibus. Ou melhor, faz uma caminhada, bem longa, bom que vai te ajudar a pensar num jeito de não derrubar o violão lá da minha tia – brincou Luísa.

- Você não esquece né? – ele cobrou.

- Nunquinha!

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 10/04/2022
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