A preocupação de Estela.

A preocupação de Estela.

maria da graça almeida

Estela acordou-se inda cedo,

pulou da cama sem medo

do frio que fazia lá fora.

Os pés miúdos, descalços,

folgados dos velhos sapatos,

correram o quintal sem demora.

Estela na horta adentrou,

abriu depressa o portão,

que rangeu sem má intenção.

O portão deu-lhe bom dia,

porém sua sintonia

denotou preocupação.

Estela olhou as verduras

com muito amor e doçura

e afagou-as com as mãos.

Julgou que a alface tão crespa,

mais ficara arrepiada,

por temer o vôo das vespas.

Acenou para os legumes,

que, revelando ciúme,

cobravam sua atenção.

Preocupou-se com o tomate,

julgando que a face corada

queimara-se na madrugada.

Achegou-se à berinjela,

que roxa pareceu a ela

ter a cor da aflição!

Jurou que um certo duende

houvesse pintado listrinhas

no corpo da abobrinha.

Isso assim era demais!

Voltou pra casa, correndo,

nem sequer olhou pra trás.

Na sala entrou sem demora.

Pediu à mãe nessa hora

de presente uma porta.

E durante a madrugada,

pelos amigos da horta,

trocou o portão pela porta.

maria da graça almeida
Enviado por maria da graça almeida em 30/03/2005
Reeditado em 30/10/2005
Código do texto: T8710
Classificação de conteúdo: seguro