Os Pequenos Grandes Guerreiros e o Cayman

1, 2, 3 indiozinhos...

4, 5, 6 indiozinhos...

7, 8, 9 indiozinhos... 10 num pequeno bote...

O pequeno barco descia o rio em direção a tribo dos pequenos indiozinhos.

Margeava oscilante ao longo de seu caminho, pois eram 10 os pequenos guerreiros que brincavam de ‘ser adultos’, como tantas outras crianças em qualquer outra parte do Mundo.

Quando se é ainda uma criança, brinca-se de ser adulto. Quando adulto, lamenta-se a perdida infância.

Entoavam cantigas de batalha e apontavam os pássaros uns para aos outros.

- Guyrá! – Gritavam ao avistar as cores vibrantes dos pássaros e ao imaginarem-se enfeitados nas grandes festas da tribo. Cada um se dizia mais digno do que o outro, mas riam-se ao mesmo tempo em que percebiam que suas vestes eram as mesmas de sempre. Surradas e, aos olhos de um homem sem entendimento, maltrapilhas. Mas eram as vestes de uma criança feliz. Liberta.

Iam navegando rio abaixo quando perceberam um movimento estranho na água, próximo ao pequeno bote, recheado de pequenos guerreiros sonhadores. Por instinto, logo fizeram silêncio e apuraram os ouvidos já treinados aos sons da natureza.

Algumas cigarras emitiam o característico som de dentro da mata fechada que bordeava o rio que os conduzia.

O menor de todos os indiozinhos ofegava. Sentia a tensão dos outros e, como se sabe, o medo nos ensurdece e grita num mesmo átimo.

O mais velho dentre todos, e por isso, o responsável pela pequena expedição, tinha a expressão dura. Como a de seu pai e de seus tios quando adentravam a mata atrás de um animal feroz que estivesse a ameaçar a sua comunidade.

Um segundo depois gritou a todos o jovem líder.

- CAYMAN!!! - Foi quando o jacaré se aproximou, balançando fortemente o pequeno bote dos indiozinhos.

Seus pequenos corpos dançavam num só bloco. Uma turbação, mas que duraria uns poucos minutos. Antevendo os perigos característicos da natureza, os pequenos eram preparados pelos mais velhos e sábios a permanecerem calmos tanto quanto pudessem em momentos de perigo.

Ao mesmo tempo, e sem trocar palavra, todos firmaram as pernas como puderam a fim de estabilizar o movimento desordenado da jangada. Agiam feito aracaés pela sua sobrevivência, não individual, mas como grupo e como grupo todos sendo um. Aresqui, Deus da Guerra.

Armaram-se com uns pedaços de sapucaia que lhes prestavam serviço como remos e no mesmo instante em que o cayman, como diziam, voltou a investir contra o bote, a direita da pequena embarcação. Cinco dos pequenos valentes reagiram contra a besta que agia de acordo com sua natureza. O bote dos indiozinhos quase (quase) virou, mas um dos pequenos bravos teve a mira certeira atingindo próximo a bocarra o velho jacaré que partiu em retirada com um ferimento externo e outro interno, como dizendo a si e ás cigarras que pareciam gargalhar do velho caçador “Tiveram sorte hoje, amanhã posso ser eu a desferir o golpe certeiro”.

Ao perceberem que o animal se afastava magoado, os pequenos bradaram ao rio, as matas, aos guyrás e a tudo o que lhes cercasse. Eram vencedores.

Eram vencedores. Eram guerreiros, ainda que meninos em seu tamanho e idade, homens feitos dentro de seus corações.

- Guarini... Guarini... Guarini...

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Tupi/Guarani

Guirá - Pássaro

Cayman - Jacaré

Aracaé - Pássaro briguento

Sapucaia - Árvore de mata nativa pertencente à família do jequitibá.

Guarini - Guerreiro, lutador.