VIVER

Que tortura saudável

Que dor agradável

Viva ! eu vivo

A doida passeia com calma pelo jardim dos mortos

Lavem as víceras

Morcegos amáveis chupam meu sangue

Frio e tépido á jorrar

Eu sou um abismo repleto de espelhos

Que enganam a queda

Eu quero gritar meu ódio em silêncio

Morrendo, moerrendo

Meus ombros cansados arrastam um peso

Pesadas torturas

Eu amo a solidão

Nem ao menos existir

Persistir em ser Mongo

Versos livres do terror do veneno, açúcar

Cutucar tubarões

Minhas assas são falsas, nem pernas eu tenho

Quebraram meu braço, mentira sôfrega

Minh’alma sôfrega pediu-lhe arrego

A arte despontou-se com ares de arcada

Abandonou-se a certeza

Abotoaram meu vestido preto estirado num caixão bem moldado

No formato da esfera quero ser alimento

De algum animal selvagem

Meu sangue é nutritivo, ma´s os ossos são fracos

Queimem meus restos e joguem no ar na boca de urubus

Bocejam a ausência perto de mim

Não respire veja a tua morte

A minha vem em sonhos

Sonhei entre outros morrer escalpelada

Sarcófagos de esperança eu deposito na alma

Que sangrando espera

Espere um pouco que vou lhe mostrar

O gosto da morte não fale comigo

Não ouça... não compreenda

Quero silêncio

A solidão é amante de um mundo escrito

Vingaram minha morte

Me trazendo a vida

Me fazendo viver.

PANDORA AEDO
Enviado por PANDORA AEDO em 06/05/2006
Código do texto: T151432