AS AVENTURAS DE DUDU E A SEITA DO DIABO PARTE 5

9

O luar continuava iluminando os passos de Dudu, na sua louca corrida pelo bosque. O terror fez com que ele se perdesse da trilha original. Para fugir das pessoas que Dudu julgava estarem no seu encalço, ele rezou para que as nuvens voltassem a cobrir a lua, nem que para isto ficasse novamente na escuridão. Com certeza seria sacrificado no próximo encontro da seita. Colocariam-no em algum altar e sangraria até a morte. Ou coisa pior.

Mas a escuridão não veio. Dudu continuou a correr, ansiando em sair do bosque o mais depressa possível e se refugiar no seu quarto. No entanto, a impressão que tinha era de que se afastava mais e mais da fazenda. Era possível que estivesse indo na direção contrária. Também era possível que passasse a noite correndo em círculos pelo bosque. E era mais possível ainda que Dudu fosse pego pelos adoradores do demo.

De repente, Dudu tropeçou em alguma coisa e caiu, soltando um enorme de um “ai” sem querer. Ele olhou em volta, apavorado. Eles poderiam aparecer a qualquer momento. O silêncio, apesar das batidas do coração de Dudu parecerem ser ouvidas por todo o bosque, imperava. Ele se permitiu ficar sentado mais alguns segundos, respirando fundo. Seu fôlego já ameaçava faltar. O garoto se apoiou em uma pedra fria e fechou os olhos. Estava muito cansado. Sentia falta de casa. E o pior de tudo é que não sabia se veria sua família outra vez.

Aquele pensamento fez com que ele abrisse os olhos novamente, disposto a lutar pela sua vida. Antes que se levantasse com algum esforço, pois o joelho sangrava, Dudu, sem querer, olhou para onde havia se apoiado. Era uma laje fria. Olhando ao redor, ele percebeu que existiam várias lajes iguais, próximas umas das outras, algumas tortas, outras caídas. A que Dudu se apoiara já estava querendo desabar no chão. O garoto sentiu um aperto no peito. Aquele lugar era um cemitério abandonado.

“O que mais falta me acontecer?”, perguntou-se ele, sem poder acreditar. Então Dudu viu a foto. Alguém havia sido enterrado bem onde Dudu estava sentado e na laje havia uma foto do defunto. Curioso, ele se aproximou para ver quem era.

O grito que Dudu deu acordou todos os mortos do cemitério. Ele se jogou para trás. O jantar começou a subir-lhe pela garganta e por pouco Dudu não vomitou sobre o túmulo de Fanny. Não restavam dúvidas. A foto no túmulo daquele cemitério abandonado era dela! Fanny estava morta havia mais de vinte anos!

Dudu arrastou-se sentado, até ter forças suficientes para levantar e novamente iniciar sua corrida. Com as pernas bambas e horrorizado com tudo aquilo, ele correu por mais cinco minutos, em pânico, até encontrar a trilha original. Depois, foi só segui-la e dentro em pouco já estava do lado de fora do bosque. Dudu rezava para que vovó Joana e Fanny ainda não houvessem chegado. E elas deveriam estar armando alguma vingança, pois era muito provável que Dudu houvesse estragado o encontro deles, na clareira.

Correndo muito, Dudu entrou na casa, subiu as escadas e se trancou no quarto. Seu medo era de que Fanny e vovó Joana o estivessem esperando ali. Mas tudo estava calmo. Talvez as duas ainda não houvessem chegado. Sentado em frente à penteadeira, Dudu não se surpreendeu com a sua expressão de terror e nem a sujeira com que se encontrava. Todo ele tremia. E se vovó Joana também não estivesse viva? Aquela era uma casa mal assombrada. Possivelmente a única pessoa viva naquela casa fosse ele próprio.

10

Ele não se deu conta quando dormiu. Acordou com uma batida na porta, suave. Dudu sentou na cama e lembrou da sua aventura macabra na madrugada passada e rezou para que tudo tivesse sido apenas um sonho. Mas ao ver seus braços sujos e o cabelo todo emaranhado, deduziu que aquele horror tinha sido verdadeiro.

Alguém bateu na porta, novamente. Dudu tremeu.

- Dudu... está acordado? Não vai tomar café?

A voz era de Fanny.

- Eu… - Dudu engoliu em seco. A voz dela estava calma, diferente da arrogância habitual. Algo estava fora do lugar – Acordei… ago… agora.

- Vai tomar café?

- Vou… vou… sim, vou – gaguejou ele – Vou… tomar… tomar banho.

- Está certo.

Dudu escutou os passos de Fanny se afastando pelo corredor e se jogou na cama, outra vez. Teria que mostrar naturalidade. E depois, quando surgisse alguma oportunidade, fugiria dali. Dudu estava decidido a não ficar mais nenhum dia naquela fazenda assombrada.

... CONTINUA ...

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 05/03/2010
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