Nem era Noite de Natal

Aos catorze anos, Gê, um menino que morava na calçada do bar, não podia acreditar em Papai Noel.

Não tinha cama, casa, ninguém para presenteá-lo.

A lei da rua é dura.

Dormia aos sobressaltos: um olho aberto e outro fechado, com medo. Sempre com medo!

Já haviam lhe roubado as roupas que ganhara, um bom cobertor. Quase nada sobrara, mas eram seus pertences.

No último dia de aula antes do Natal, alguns estudantes o viram sentado na calçada. Eles estavam reunidos para comemorar o término do ano escolar.

Gê, arrumava papelões que tinha por colchão. Tudo o que queria era dormir para esquecer. Esquecer que tinha fome, que passaria mais uma noite de frio.

Os estudantes da engenharia olharam para ele.

Ester uma das meninas do grupo, sugeriu darem ao menino uma boa refeição.

Pediram um frango assado com arroz, farofa, dois ovos estrelados.

Ela apanhou o prato e levou até o menino, com um copo de refrigerante.

Ele olhava assustado.

Nem se lembrava bem, de quando havia sido bem tratado. Sempre escurraçado por sua aparência suja e maltrapilha.

Ester disse ao menino: é para você de todos nós ali daquela mesa.

Ele perguntou o nome dela. Ester ela disse.

Ele disse então: Ester você é uma boa estrela, como aquela que vejo no céu todas as noites, brilhando mais que as outras.

Ester apenas sorriu, desejando ao menino um Feliz Natal, antecipado.

O menino sorriu, e devorava a refeição como se fosse a última.

Quando Gê acordou no dia seguinte, havia um embrulho bonito embaixo de sua coberta: uma camiseta e um short, novinhos.

Ele olhou para o céu e agradeceu a Ester, sua estrela mágica, que já se escondia entre as nuvens pela força do nascer do sol.