A Jovem Viúva

A Jovem Viúva.

Me chavo Malvina. Sou do Piauí, Dom Expedito Lopes-Pi.

Há três dias fiquei viúva. Pode-se pensar que eu sou uma daquelas senhoras que muito já viveu, mas na verdade, tenho apenas 19 anos.

Apesar do meu declínio físico e psicológico terem se iniciado há três dias -quando meu marido morreu- eu já fui feliz por um mês.

Nunca fui dessas que vivem na balada, andam toda arrumadinha, com coisas caras e de marca... sempre fui mais timidazinha, no meu canto, na minha.

A vida na casa dos meus pais era um caos: meus dois irmãos mais novos apesar de se gostarem muito, viviam em pé de guerra. Discutiam por tudo e quando não tinham motivos, davam um incrível jeito de discutir também por isso.

Eu havia ido ao cemitério em um sábado a tarde, visitar o túmulo da minha falecida avó, então vi quando uma voz disse atrás de mim: -Tudo bem?

A verdade é que eu não estava bem. Eu desmoronava em lágrimas. Sempre que eu ia visitar o túmulo da minha avó isso acontecia. A falta que ela faz na minha vida é inquestionável. Ela me ouvia, me ajudava, me incentivava de um modo que só ela conseguia fazer.

-Sim, tudo. -Menti.

-Não parece.

-Mas está tudo ótimo, obrigado.

Ele veio mesmo sem me conhecer e me abraçou. Ninguém nunca tinha feito aquilo comigo. Naquele momento ele estava abraçando não apenas meu corpo, mas também meu coração.

Demos uma volta por entre os túmulos e contei sobre mim para ele -assim como ele me pediu.

Uma semana após, nos vemos novamente, no mesmo lugar. Foi surreal como eu não havia prestado atenção na beleza dele: pele clara, cabelos pretos, olhos castanhos. Ele tinha 1.81 de altura. Sempre muito bem vestido, sempre sorridente.

Não namoramos inicialmente. Ele me pediu para ir em minha casa e eu disse que "tudo bem, OK". Quase morri de vergonha por conta dos meus irmãos que travaram no tapa discutindo por causa de uma periguete chamada Ângela.

Gabriel me pediu em noivado -ah, já falei que ele se chamava Gabriel?- ele chegou aos meus pais e apenas pediu. Eles concederam e no período de um mês, todo dia ela vinha me vê.

Nos casamos na igreja, foi tudo muito simples, mas eu estava vestida de noiva. Eu estava feliz.

Tinhamos planos de ter filhos no ano seguinte, mas quando saímos da igreja, minutos após nos casarmos, uma bala perdida acertou Gabriel na nuca. Ele morreu.

Apesar da minha tristeza, sou feliz por ter conhecido ele. Sou feliz por ter sentido o doce beijo dele. Sou feliz por ter sido a namorada dele. Sou feliz por ser a esposa dele, pois embora ele tenha sido chamado primeiro, eu sei que ainda vamos nos reencontrar e viver o nosso amor.

Agora tenho um motivo a mais para ir ao cemitério: vou visitar meu amor.

Francisco Manoel
Enviado por Francisco Manoel em 28/12/2017
Reeditado em 31/12/2017
Código do texto: T6210483
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