O Som do Violino

A Revolução Industrial, ocorrida na Inglaterra por volta do século XVIII, nos anos de 1760 até 1840, teve grande impacto não só em manufaturas, mas, como também em um êxodo imigratório ocorrido na Europa perante a essa revolução. Cidadãos de diversos países veriam a chance de sair dos campos para tentar um crescimento em sua renda familiar. Sendo influenciados por esse processo, eles lotaram Londres com suas famílias vindas da Irlanda, Espanha, Escócia, Holanda dentre outros que fazem divisão com o país.

Contudo, no Leste Europeu, especificamente na Hungria, um grupo de pessoas peculiares em seus estilos de viverem, estavam enfrentando uma crise a qual eles e seus ancestrais nunca presenciaram. Não era uma crise econômica, e sim uma crise alimentar, de sobrevivência. Esse povo estava morrendo de fome. O gado e outros animais já não sustentavam a grande demanda de fome que essas pessoas precisavam, e os poucos moradores que restavam já estavam desconfiados que havia um mau naquelas terras, onde o sol não brilhava; os animais amanheciam mortos, abatidos; boatos rondavam os condados os quais foram vistas pessoas caminhando durante a noite nas florestas, nos bosques e que as cavernas também já não eram seguras. Muitos moradores diziam escutar uma música vinda de dentro da floresta em noites muito frias. Era um som melancólico, triste, desafinado, o qual rasgava o vento com uma melodia fina e agonizante. O vento fazia o som viajar pelas brisas gélidas através das árvores, diversos pinheiros eram os condutores para que as músicas chegassem aos condados. Quando os moradores se davam conta de que algo estava ocorrendo na floresta, corriam para suas janelas ouvir o canto fúnebre, e imediatamente assustados, as fechavam com rapidez. Apagavam as velas, deitavam em suas camas todos juntos, rezavam para que nada de mal acontecesse á aquelas famílias. Já que quando escutavam o som vindo da floresta, era um presságio ruim, pois no final da noite, alguém perderia a vida. Era o som da morte o qual as pessoas passavam a chamar a música que vinha das planícies.

No interior de uma floresta perto do condado de Tolna, uma fogueira estava acesa, não muito alta e nem baixa, o fogo queimava madeira de pinheiro, as fagulhas iam acima da copa das árvores, as chamas bruxuleantes davam contraste a criatura que tocava o instrumento deitado, com o pescoço escorado em uma tora de madeira. Sua fisionomia era das mais caricatas. Era magro, um pouco alto, sua pele era cinza, parecia que estava doente e que não se alimentava há dias, seu cabelo era longo e branco, estava vestindo um terno todo branco, parecia um maestro em um dia ruim, os olhos eram negros da cor da noite, boca pequena e nariz fino, no peito estava o instrumento o qual tocava, um violino velho. Seu nome era Demyan. Era um vampiro.

Um vampiro russo em terras húngaras. Sua família, descendia de um clã denominado Os descendentes de Chernobog; um deus eslavo relacionado á morte e á escuridão. Não se sabe de onde esse clã se originou, Demyan apenas sabia que nasceu no Sul da Rússia por volta de 300 anos atrás. Mudou-se com sua família para a Hungria, porque a Rússia se tornou muito fria para cultivar alimentos e, que cada vez mais pessoas se deslocavam para a Alemanha, França, Itália; em busca de trabalho e terras férteis.

Seu clã era como uma praga de gafanhotos. Partiam para outros lugares em busca de comida quando já tinham usurpado o lugar e as pessoas. Nos últimos tempos, os humanos estavam escassos na Hungria, a Revolução Industrial tinha levado boa parte dos moradores dos condados para a cidade. Demyan se desgarrou de seu clã fazia tempo, preferiu a floresta perto do condado de Tolna, para se deliciar com as filhas dos fazendeiros da região. O som de seu violino era o chamado da morte, um aviso, um sinal que outra donzela seria sua presa esta noite.

Restava apenas a bela Morgana. Filha do Sr. Ivar. Era uma ruiva muito bonita, corpulenta de seios fartos e lábios carnudos. O que mais fascinava o vampiro albino eram os olhos das mulheres, quanto mais vibrantes, mais era a atração por elas, queria saber de imediato o gosto de seu sangue. Naquela noite, ao acabar de toca o violino, se levantou, deixou a fogueira e desceu a colina em sua última cruzada na Hungria.

Ao chegar na casa da família de Morgana, Demyen matou com suas mãos enormes com unhas compridas, os dois cachorros da família para que eles não alertassem os resto dos moradores com seus latidos intermitentes da sangria que estava por vir naquela casa. Sr. Ivar, ao notar o silêncio dos cães, abriu a porta para averiguar a calmaria que de repente caiu ao redor da casa. Ao abrir a porta de madeira de sua choupana, vira apenas um vulto correndo em sua direção, uma sombra que ao chegar perto presenciou os olhos negros do vampiro parado na sua frente, Demyen sem perder tempo, arrancou a cabeça do velho com apenas um golpe com a mão direita, como se fosse uma bofetada com as costas da mão em seu rosto. A cabeça caiu no interior da residência, ao lado da fogueira, onde estava sua esposa Sra. Sigfrid, que ao ver a cabeça do marido com a expressão de pavor começou a querer gritar, mas nem isso dera tempo, a criatura já estava com suas garras cravadas na garganta da anfitriã, fazendo a engasgar com o próprio sangue. Impaciente com a agonia da vítima, o vampiro virou e consequentemente quebrou seu pescoço, a qual a última imagem que ela avistara fora o homem magro de cabelos brancos sem expressão alguma na face. Diante disso, ele estava livre para subir as escadas e tomar Morgana em seus braços.

Morgana se encontrava dormindo. Ela não estava nua. Usava um vestido que ia até os tornozelos, era feita de pano branco e de linho. Antes de abater sua presa, ele ficara observando-a dormir, tão profunda, tão inocente, tão suculenta. Sem perder mais tempo ele chegou sua boca perto de seu pescoço quente e sentiu a pulsação do sangue, sem mais delongas, a mordeu com muita vontade, estava faminto há dias, Morgana acordou com a mordida, mas não gritou, apenas virou para olhar o homem que sugava sua vida. Depois fixou seus olhos no teto, e começou a sorrir. Sua vida definhava nas presas do vampiro.

No dia seguinte, a casa fora queimada. Os moradores tinham receio de que as vítimas voltassem dos mortos para trabalhar para o Diabo

Demyen por sua vez, nunca pôs seus pés na Hungria novamente. Já havia escolhido o lugar para passar seus próximos anos. Era o local mais agitado da Europa no momento. Lá teria muito mais deleites e opções de cardápio do que um simples condado. Ele estava indo para a Inglaterra.

O ano é de 1800. O apogeu da Rovolução Industrial. A capital inglesa está repleta de trabalhadores de todos os cantos do continente europeu. Londres evolui seus produtos químicos, há uma nova produção de ferro, a madeira fora substituída pelo carvão no uso crescente da energia a vapor, dentre outros avanços. Porém, com isso, veio também uma insustentabilidade populacional, pois a cidade não estava prepara para centenas de pessoas de uma só vez. Assim as ruas de Londres eram sujas, ainda não havia um sistema de saneamento básico a altura na época. Como consequência muitas famílias passaram a viver em péssimas condições de habitação, fazendo surgir várias doenças, como a cólera, que era transmitida pela água.

Porém, ultimamente os moradores estavam mais preocupados com um fato muito curioso e apavorante que ocorria nas noites do centro da cidade.

Havia uma fábrica de carvão e outra de ferro no centro da cidade. Elas eram separadas apenas por um beco estreito e escuro. Os trabalhadores no final do expediente, saiam do trabalho e passavam nos bares antes de irem para casa. Diziam que o beco habitava uma criatura medonha, que devorava gente, que era capaz de matar 10 homens de uma vez. Alguns homens contam casos do monstro do beco para seus familiares no intuito de desencorajarem a não andar pelo centro da cidade a noite até o raiar do dia, principalmente suas filhas moças, já que a relatos comprovados pela polícia que um número de prostitutas estão desaparecidas, e as testemunhas alegam que o último lugar que as viam era perto deste beco.

A criatura do beco ganhou diversos nomes; monstro do beco, demônio da Rua 15, e o que se tornou popular depois de um homem ouvir uma mulher gritar no fundo do beco, chamando pelo seu marido que saíra correndo ao invés de ajudá-la, o nome do covarde era Jack. A mulher gritava pelo seu Jack até sua voz se silenciar na escuridão e na névoa do beco. Com esse relato nascia Jack o Estripador.

Sempre na manhã, as vítimas eram encontradas mutiladas, estripadas, degoladas. Mas nunca aparecia sinal da criatura quando o sol fraco de Londres iluminava o tal beco. Apenas morte é que se via.

A certeza de que a criatura iria atacar era marcada pelo som do violino desafinado que vinha de dentro da rua estreita. Todas as noites de melodia era um sinal de que morte seria a cena da manhã seguinte.

O segredo de Demyen tinha encontrado para viver assim em um lugar tão enclausurado era que durante o dia ele se escondia em um canto de forno gigante da fábrica ao lado, onde era quente e escuro, se passava por trabalhador ás vezes para não chamar muita atenção. Quando a noite caía, ele apenas saia da fábrica e entrava discretamente no beco, esperando mulheres, jovens, donzelas e até crianças. Uma vez, uma criança de 10 anos fora encontrada sem os membros superiores, inferiores, e também sem a cabeça, estavam apenas o tronco da menina desavisada que desgarrou de sua mãe e entrou no beco. A cabeça nunca fora encontrada.

Com o passar dos anos, Jack o Estripador virou lenda. A época Vitoriana se encheu de luzes pela cidade. Demyen fora saindo do beco rumo a outros lugares para atrair suas vítimas, mas era complicado, ele não era o único vampiro que existia em Londres. Logo, cada vampiro tinha seu território, ficando mais acirrado conseguir sangue para sua sobrevivência. Pensou muitas vezes em ir para a cidade Luz, mas mudava de ideia sempre que pensava em fazer outra cruzada em busca de alimento. Fora fincando em solo inglês mesmo. Decepando cabeças, sugando o sangue das mulheres mais belas que olhavam para ele quando se apresentavam em praças no centro da cidade com seu violino, ora era convidado a se juntar a alguma orquestra. Depois dos concertos, flertavam com as damas mais influentes da cidade. Conseguiu convencê-las de levá-lo para seus aposentos quando os maridos não estavam, e assim, fazia sexo com elas e no ápice de tudo, ele roubava suas vidas com as presas que escorriam o sangue no seu corpo frio e anêmico. Os assassinatos eram sempre retratados nas primeiras páginas dos jornais. Demyen os lia no quarto de um cortiço o qual não saia de dia.

As décadas foram se passando e as mortes foram aumentando. Até que uma noite, Demyen havia sugado todo o sangue de uma prostituta pelo seu seio. A meretriz não sabia se gritava de dor ou de prazer, contudo seu fim fora silencioso e mortal, como muitas outras. Entretanto, naqueles tempos o vampiro albino já não se sentia bem. Não tinha o vigor da matança, até sua virilidade estava definhando. Ficara assim durante sete anos que nem um moribundo. O cortiço o qual morava havia sido destruído para construção de prédios. Como não podia trabalhar por causa de seu estado físico e nem tinha aprendido a trabalhar, voltou a residir no mesmo beco que morava quando veio para a Inglaterra. Fora encontrado morto um dia por um morador de rua, em óbito. O morador de rua arrancou a roupa do vampiro e a vestiu.

Feito isso, o colocou dentro de uma lata de lixo, que o caminhão levou para o aterro sanitário da cidade. O corpo do albino de cabelos brancos ficara entre os sacos de lixo por dois dias, até um cachorro o encontrar e confundir seu braço com um osso. Quando seu corpo entrou em contato com o sol, imediatamente surgira chamas em todo o seu ser, fazendo daquele pedaço do aterro um foco de incêndio, o qual pegou fogo até sobras apenas as cinzas de uma vida amaldiçoada.

Provavelmente, Demyen morrera de AIDS, por se envolver muito com prostitutas depois que veio para a Inglaterra. Porém a outros de sua espécie por aí, nos becos, nas florestas, nas cidades, nas vielas. Mas desta vez, não há som de violino.

Samyr Freitas
Enviado por Samyr Freitas em 13/02/2018
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