A Força do amor

CAPÍTULO UM

Nos campos verdes de Goiânia uma pequena menina de seis anos brincava perto do rio que cortava o campo. Era um rio de águas cristalinas que corria sem parar, parecia até mesmo querer acompanhar o vento que lambia os longos cabelos loiros de Alice, a menina o tempo todo tinha que tirar as mechas que entravam esvoaçadas da boca e do rosto, mas o vento nunca tivera sido um empecilho para a pequena brincar com suas bonecas, as lindas bebês que Alice amava, as quais seu pai sempre trazia quando viajava para resolver alguns negócios da família na cidade.

O tempo estava quente e ensolarado, o vento que soprava as folhas e arrancava as flores de seus cachos estava forte, fazia as árvores grandes balançarem de um lado para o outro. Alice penteava os cabelos das bonecas que estavam na mão dela, e conversava sozinha, quando de repente no rio uma tartaruga apareceu na frente dela, coma a cabeça do lado de fora, mostrando apenas o casco.

- Olá senhora tartaruga, como vai você?

O bicho obviamente não respondeu, mas a imaginação de uma criança vai muito além da realidade em que ela vive.

- Eu estou penteando os cabelos das minhas bonecas, elas estão muito sujas, agorinha eu vou dar um banho nelas, aqui mesmo nesse rio, onde você mora, eu sei que aqui é a sua casa, mas será que você poderia me emprestar elas só um pouquinho para eu banhá-las? – Alice arregalou os olhos quando olhou para a tartaruga, ela jurou vê-la concordar com a cabeça.

- Ok então! – Alice sorriu alegremente. – Agora vou banhar elas. – Alice ficou de joelhos diante do rio que refletia sua imagem e rapidamente a tartaruga enfiou a cabeça novamente nas águas do rio e desapareceu viajando pela correnteza, Alice acenou com a mão dando tchau para a tartaruga. –

- Espero te ver aqui de nova senhora tartaruga, tchau, tchau!

Quando Alice voltou a atenção para as bonecas de novo, havia uma nova pessoa ali, que chegou de surpresa sem avisar, estava atrás dela, ela podia sentir a respiração ofegante em suas costas, mas antes que ela pudesse virá-lo para vê-lo, ele tapou a visão cobrindo os olhos dela com as mãos dele.

- Quem é? Advinha só?

Alice amava a presença dele, Félix, seu melhor amigo e por quem ela sentia um forte sentimento. Quando ela ouviu o som da voz dele em seus ouvidos, saberia que aquela era voz de Félix e nunca erraria aquela voz.

- É você Félix. – Afirmou ela sorrindo, depois com as mãos dela tirou lentamente as mãos dele de seus olhos, virou-se e o abraçou com toda a força do mundo, que eles chegaram a tropeçar e cair um por cima do outro dando muitas gargalhadas. Até que eles sentaram-se um do lado do outro e Félix perguntou, olhando para Alice:

- Você é maluquinha é?

- Por que você diz isso Félix?

- Por que eu vi você conversando com a tartaruga. Foi muito engraçado você se despedindo dela.

- Ei, seu moleque enxerido, então quer dizer que você estava me observando esse tempo todo e eu não vi? Ah eu vou te pegar Félix.

- Se você conseguir, você é menina, eu sou menino e por isso eu corro muito mais rápido do que você. – Félix levantou-se colocou os polegares nas bochechas e deixou a língua para, provocando Alice. Quando ela levantou para bater nele, Félix começou a correr em direção as montanhas o mais rápido que pode.

- Eu vou te pegar Félix!- Gritava Alice correndo atrás dele segurando pela perna de uma boneca de pano que ela usava como arma para rebater as provocações de seu melhor amigo.

- Você nunca vai conseguir me alcançar, você nunca vai conseguir me alcançar. – Félix começou a correr de braços abertos e olhos fechados não percebeu quando uma pedra grande estava no meio do caminho.

- Félix para, para, para, uma pedra. – Gritou Alice, ela parou de correr imediatamente.

- Ah tá mentirosa, você só tá dizendo isso pra eu parar e você me... – Ele não chegou nem ao menos a terminar a frase, tropeçou na pedra e saiu rolando igual uma bola de futebol pelo campo.

- Ai meu Deus! – Alice colocou a mão na boca e correu até onde estava Félix.

- Meu Deus, Félix, Félix você está bem? – Perguntou a menina quando conseguiu alcança-lo, Alice ajoelhou-se ao lado dele, que estava com a boca toda suja de terra.

- Eu comi terra, ai, ai, ai! – Gemia Félix enquanto tentava levantar e se sentar.

- Bem eu avisei, mas você não quis me obedecer?

- Eu sou o homem, é você quem tem que me obedecer.

- Ai Félix eu odeio quando você fala desse jeito.

- Mas é verdade?

- Não é verdade não, não estamos mais na idade da pedra seu moleque machista.

- Não sou moleque.

- Você é sim.

- Não, não sou não!

- Toma limpa com isso. – Alice estava usando um vestido rosa florido, ela pegou a barra do vestido e ofereceu para Félix limpar a boca.

- Obrigado. – Ele respondeu e limpou a boca.

- Você é lindo Félix.

- Você também é muito linda Alice.

- Se meus pais me pegarem aqui com você eu tô frita.

- Não tô nem aí.

- Bem, nem eu.

Os dois sorriram um para o outro e depois como um ímã, foram unidos pela força do amor e beijarem-se sem parar.

De repente Alice para e empurra Félix.

- Eu não podia ter feito isso.

- Por quê?

- Por que o meu pai não vai gostar Félix, ah meu Deus eu... Tenho que ir... Preciso ir embora!

Alice saiu correndo em disparada e acabou esquecendo a boneca de pano na montanha ao lado de Félix.

- Ei espera Alice. Sua... – Félix não conseguiu terminar de falar a frase. – Boneca que você esqueceu. – Alice já estava bem longe dali.

Naquele momento Félix descobriu um amor por aquela garota que ele mesmo desconhecia. Tocou os lábios e sentiu-os ardendo, o primeiro beijo é sempre o melhor, o mais ardente, o mais puro, o mais sensível e inesquecível. Então, uma genial ideia acendeu como uma lâmpada na mente dele. Depois daquele beijo ele não poderia ficar sem vê-la o dia inteiro, à noite, Félix levaria a boneca de Alice apenas para poder olhar dentro dos olhos dela novamente.

O menino simples e pobre, que usava roupas rasgadas e tinha o cabelo loiro e olhos castanhos, sorriu para o mundo atrás dele, para o céu e para toda a natureza, as árvores, as folhas que balançavam levemente de um lado pro outro no campo e para as flores coloridas e belas que se estendiam a poucos metros da montanha. Félix desceu e foi até elas arrancou uma rosa amarela, cheirou-a e a flor tinha um perfume de amor e liberdade intenso e encantador. Guardou-a no bolso da calça branca de pano e foi embora para a sua casa de palha, onde sua mãe Diana o esperava com o almoço quase pronto.

Victor Lucas Oliveira
Enviado por Victor Lucas Oliveira em 31/05/2018
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