Contagiante Contagem de antes...

O ano de 1972, em que faleceu em Pitangui, MG, minha avó materna Ana Maria de Jesus, a dona Inhana, octogenária, pranteada em seu velório por seus sete filhos, Vicentina, Isabel, Rita, Conceição, Antônio, Maria, e Luiz, em tocante homenagem, de mãos dadas, em uníssono coro, tive houve também, digna de registro uma outra efeméride, três semanas depois: o Sesquicentenário de nossa Independência de Portugal - para cairmos nas malhas e manhas da influência do Império Britânico... - evento que foi prestigiado com todo o fervor cívico pelo Governo militar, justamente em sua fase mais dura de repressão, sob o jugo de Emílio Medici, empedernido defensor da ordem imposta pelas armas.

À época eu trabalhava no Colégio Municipal de Contagem, lecionando inglês e francês, e, feito um saltimbanco, pulava ainda entre as faculdades de Letras e a de Geografia, na UFMG, achando tudo um baita dum ócio de negócio...mas também tinha 22 anos e, na área afetiva, não mais que ticoticonofubeava...E o sonho de consumo de vida noturna, que frequente realizava era comer um americano, o sanduíche, no Ted´s da praça Sete quando voltava das lides contagenses para casa.

Um colega de magistério de que me lembro bem, novato e noviço também, era o Hamilton, professor de Química, o mais exímio trocadilhista que conheci - até reconhecer-me no espelho, espelho meu...

Pois bem, e naquele 1972, no bojo das festividades do Sesquicentenário,

realizou-se o épico traslado dos ossos de Dom Pedro I, para um périplo pela amada terra a que dera, num brado, a Independência...

Comentando o fato com o Hamilton, ele me veio com essa, que certamente teria provocado reação joicehasselmanníaca da Marquesa de Santos, suponho:

- Que coisa, heim...? Foi Imperador deste imenso país, bravo, tempestuoso e galanteador e agora quando volta, mostra o seu lado temeroso, a rigor, quase covarde...

E caí na asneira de perguntar:

- Como assim?

Ao que Hamilton respondeu:

- Pois é aquele herói de antes, de furtivas aventuras noturnas, agora, viagem só faz...de urna...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 08/01/2019
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