Brumas brumadenses

Naqueles animados anos cinquenta o povoado de São Gonçalo do Brumado não era o mundo. Era apenas o seu centro. Tudo ali chegava, pelo rádio que anunciava, pelo trem que passava, a jardineira que rodava, a "fapa" de tecidos que não parava - malgrado o bendito suor que cobrava.

O armazém do Zé Chave provia o sustento, o bar do Teco, a diversão, o açougue do Jirimia, a carne de um ou outro dia, e o grupo José Lima Guimarães, Dona Iria, que instruía...A capelinha, que era a antiga, as elevações, as comunhões, as coroações e até os perdões. E o campo, sempre gramado, além do espetáculo dominical, pro namoricos, o palco ideal...

E havia os quintais que iam frutificando à medida que cresciam as proles operárias, trazendo aquela sensação da mais valia a cada safra que se prometia, e que quase sempre se encolhia, com formiga e pragas a riviria. Mas se sonhava, se, ah, bem suava, se vivia.

Poucos se aventuravam a sair daquele paraíso, coisa de aventureiro, sem juízo. E se não faziam fortunas, como foi o caso do Zé Amaral que de repente se viu o influente representante da Vulcabrás, chegando de carro pra visitar família e freguesia, vinham remediados, a um mesmo tempo admirados e invejados. Tizé Velu foi um que tentou, foi pra São Paulo e, com seu violão, logo voltou. Jéso da Aurora foi ainda mais breve, mas ao regresso, de óculos escuro, chapéu de feltro, terno de linho, deu-se ainda à ousadia de, a desembarcar do trem, perguntar a uma moa de rapazes que fazia hora dominical, se por acaso poderiam informá-lo onde residia dona Aurora...

Brumado, "havera" de ter lugar mais abençoado...? E sabíamos, íamos aprendendo, remotamente, da existência de homonímias...um Brumado, cidade até, na Bahia, e um Brumadinho lá pros lados de Belorzonte, a já imponente e sempre crescente capital do Estado...

E agora chega essa notícia da tragédia que enlameou a tragou a alma de Brumadinho. O mundo lá acabou. E teve gente até que, de longe, lejos e de Londres, se inquietou quando a má nova se espalhou, querendo saber

do quanto foi afetado o nosso Brumado...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 28/01/2019
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