Capítulo 5 – Todas as razões para esquecer

 
- Eu não sei qual é o motivo da graça, Lexi.

“Eu não acredito que vocês transaram, Ander!”

Revirei os olhos ouvindo a risada alta de minha prima. Apoiei o celular, entre o ombro e a orelha, respondendo a um e-mail de trabalho.

- Pela manhã acordei com a conversa entre Lana e seu futuro marido. Não era nada romântico, mas ela pedia desculpas por ter sumido.

“E aí?”

- Bom, fui ao banheiro e voltei um tempo depois. Não sei o que me deu, mas aquilo me deixou profundamente irritado, principalmente por causa do que aconteceu na madrugada. Eu só queria provocá-la, mas ela ficou descontrolada e as coisas simplesmente aconteceram.

“E depois vocês falaram sobre essa história mal resolvida que vivem?”

- Não, Lexi. Você conhece a sua amiga, sabe como ela é teimosa, orgulhosa e difícil de lidar.

“Vocês se amam.”

- Eu sempre a amei, você sabe disso... Não preciso negar. Ela que não me ama.

“Ah, Ander! Qual é!”

- Eu estou falando sério. Ela foi embora me dizendo que não voltaria nunca mais.

“Ela me mandou mensagem hoje de manhã, acho que depois de ter ido embora da sua casa.”

- E o que ela disse?

“Bem, ela disse que não devia ter ido até a sua casa.”

- Incrível como ela é previsível.

“Sim, ela é. Você também é, mas agora está tentando esconder.”

- E como é que eu deveria agir, Lexi? Sério! A Lana parece um furacão. Vem, deixa minha vida de cabeça para baixo e depois vai embora! Ainda fica irritada, como se eu fosse o culpado pelos nossos problemas!

“É mais ou menos isso que ela acha.”

- É, ela acha que eu menti. É mais fácil achar isso.

“Acho que vocês nunca terão um fim, Ander. Não me parece algo que vai acabar. Bom, não até vocês conseguirem conversar.”

Conversamos por mais algum tempo, mas precisei desligar, pois Gabriela, minha nova colega de trabalho entrou na minha sala.

- Bem-vindo, Ander!

Eu já a conhecia de uma conferência que fizemos há 1 mês. Lembro que ela parecia, de alguma forma, estar flertando comigo, mas não levei a coisa por este lado.

Gabriela era linda. Negra, de altura mediana, tinha um sorriso confiante, cabelos castanhos e bastante cacheados, na altura dos ombros. Uma mulher de curvas bem feitas, que brilhavam junto com toda a sua presença vigorosa.

- E aí, Gabi!

- Tudo bem? – Trocamos um longo aperto de mãos.

- Tudo e você?

- Eu estou bem! Pronto para conhecer a empresa um pouco melhor?

- Já é!

- Putz! – Ela exclamou, sorrindo. Eu a olhei, sem entender. – O sotaque carioca é muito fofo!

- Para de ser boba!

A visita pelo prédio foi bem divertida. Gabriela me apresentou a todos os funcionários administrativos e operacionais. Ouvi muitas piadinhas sobre meu sotaque, sobre o Rio de Janeiro e claro, sobre o Flamengo. Levei tudo na esportiva e creio que agradei os meus novos colegas paulistanos. No fim da noite eu e Gabriela adiantávamos uma pauta da reunião e tudo parecia extremamente normal. Bom, mais ou menos.

- Imagino que sua namorada vai ficar chateada por você estar aqui até agora. – Eu a olhei, de cenho franzido. – Esposa?

- Eu sou solteiro.

- Mentira!

- É sério. – Sorri, sem jeito. Pensei em falar sobre Lana? Sim, pensei. Mas como é que eu explicaria que tenho uma coisa mal resolvida com meu primeiro amor que vai casar com outro? – E você?

- Estou solteira também!

Ela deu um sorriso de canto, parecendo satisfeita com a resposta e logo voltamos a trabalhar. Era extremamente confortável estar com Gabriela.

Alguns dias se passaram desde o meu reencontro com Lana. Confesso que de longe era mais fácil lidar com isso. Teve algumas vezes que o cheiro dela aparecia em meus lençóis e as lembranças me perturbavam a ponto de me fazer perder o ar. Nesses momentos precisei urgente me esforçar em lembrar da parte ruim de toda a nossa história.

 Lana me bloqueando de sua vida quando éramos adolescentes.

          Lana indo embora do Rio de Janeiro.

                    Lana indo e voltando.

Realmente achei estar livre dela, até que um dia, numa sexta à noite a encontrei no meu apartamento. O porteiro nem a barrou, já que sabia das habilidades femininas de fugir e com bastante facilidade.

Essa noite vai ser muito longa.

- Lana Hassenback... Boa noite! – Fechei a porta com um falso sorriso. Ela me olhou, chorosa. Me mantive impassível, mesmo sabendo que por dentro a minha vontade era abraçá-la.

- Eu estou aqui de novo, mesmo depois de prometer a mim mesma que nunca mais o veria. - Deixei a chave em cima da mesa central e me sentei ao seu lado no sofá. – Eu passei o dia inteiro chorando escondida no trabalho, acredita? Pensando em você me beijando, me tocando e me fazendo... – Ela escondeu o rosto entre as mãos e respirou fundo. – Me fazendo... Você sabe.

- Sei.

- Eu não posso, Ander. – Seu olhar encontrou o meu. E bem, foi uma coisa extremamente terna. Toquei seu rosto, abruptamente, mas ela não se afastou, apenas fechou os olhos novamente. Limpei suas lágrimas e deixei um beijo em sua testa. – Eu não posso...

- Eu não quero que você sofra, Lana. Eu nunca quis isso.

- Eu sei. – Ela repetiu, fungando alto e mexendo no cabelo preso em um coque. – Mas eu olho para você e tudo fica confuso.

- Confuso como?

- Você faz toda a minha vida ficar confusa. Tudo o que eu organizei se desorganiza perto de você. Todas as minhas certezas viram incertezas.

Foi a minha vez de balançar a cabeça, concordando. Ela deitou a cabeça em meu ombro e eu acabei a abraçando, mas de modo suave. Olhando assim parecia muito fácil nos resolvermos, muito simples, mas não era. Beijei o topo de sua cabeça e entrelacei os nossos dedos. “Você é um fraco.” – Pensei, enquanto a via sentar no meu colo.

- Lana. – Tentei chamá-la, mas não tive respostas. Ela encostou a testa sob a minha e nossos lábios se tocaram. Eu a segurei pela cintura, sentindo a maciez de sua pele mexer com todas as partículas do meu corpo. – Olha para mim.

Ela não obedeceu. Lógico que não obedeceria. Essa é Lana Hassenback.

Bastante tentadora, Lana soltou os longos cabelos e começou a rebolar lentamente, mantendo o controle de minhas mãos em sua cintura. Entre o desespero e a rendição, vi Lana abrir o zíper da minha calça jeans. A mão dela fazia suaves movimentos de vai-e-vem. Depois veio o beijo, muito mais urgente do que da outra vez. Tinha que ter beijo. Há coisa mais perigosa e intensa do que beijar alguém que você ama numa situação dessas?

Estava prestes a deixar aquela loucura ir até o fim quando o celular de Lana tocou. Nem precisei pensar muito para saber quem era. E bom, a expressão dela ao olhar a tela do aparelho também facilitou muito.

Ela saiu de cima de mim, em silêncio, depois ajeitou a roupa e atendeu a ligação.

- Oi, Bruno. - Soltei um risinho de escárnio. Ela me olhou, envergonhada. E novamente vi o olhar de quem parecia ter sido empurrada agressivamente para a realidade. A realidade é isso, as vezes te envergonha e outras vezes te ajuda a enxergar o óbvio.

Como eu fico puto quando ela me olha com vergonha da pessoa que é ao estar comigo.

– Eu precisei dar uma saída, mas volto para casa daqui a pouco. Desculpe por não avisar, amor. - Saltei do sofá, fui em sua direção e a agarrei por trás. Lana tentou me afastar, mas a joguei contra a parede, agressivamente.

- Você está louco? – Sussurrou, afastando o celular da orelha. Ergui seu vestido, tocando suas coxas e tomando caminho para o meio de suas pernas. – Sim, Bruno. Eu sei que prometi que almoçaríamos juntos. – Seu olhar implorava para que eu parasse. – Não faz isso! – Ela sibilou quando meus dedos entraram no meio de suas pernas. A umidade e o calor do seu corpo me fizeram perder o restante da minha sanidade. Os dedos entraram e saíram duas vezes, mas ainda era difícil contê-la.

Lana me empurrou com força e me deu um tapa no rosto.

- Eu também estou com saudades, Bruno. Até daqui a pouco! - Ela desligou o celular e jogou o aparelho no sofá. – Qual é a merda do seu problema?

- Nenhum! Eu só estou dando o que você quer de mim. – Respondi, com a voz transbordando de sarcasmo. – Não é sexo? Então, vamos transar!

No momento que dei um passo em sua direção, ela me deu outro tapa no rosto.  

- Você é doente!

- Ah, é claro! – Concordei, passando a mão na região do tapa. - É verdade. Sou doente mesmo, Lana! Desculpe, você está aqui por amor a mim, não é? Devo ter me enganado!

- Você nem sabe do que está falando, seu imbecil maluco!

- Ah, eu não sei?

- NÃO SABE!

- Você vem aqui, mexe com os meus sentimentos, me usa e agora vai embora atrás do seu futuro marido perfeito e o doente da história sou eu?

Lana pegou sua bolsa, guardou o celular e fez menção de ir embora, mas a adrenalina da briga não me permitiria acabar com as coisas acabassem daquele jeito.

Tirei a bolsa de sua mão e a joguei longe. Puxei Lana pela cintura, desviando de seus tapas. Com a outra mão, segurei seu rosto e a empurrei contra o sofá. O impacto a fez gemer de dor.

- ANDER! – Tentei rasgar seu vestido, descontrolado. Ela tentava fugir, mas não podia medir forças comigo. O ódio me cegou. – PARA COM ISSO!

Nessa briga de mãos e corpos, consegui rasgar a lateral do seu vestido. Ela colocou a mão no meu rosto, tentando me empurrar. Fora de mim, segurei sua mão e lambi seu dedo indicador e médio olhando no fundo dos seus olhos. O olhar dela rapidamente foi do horror ao prazer.

Suas pernas entrelaçaram em minha cintura e a ergui facilmente. Lan
a tocou meu rosto e me forçou a olhá-la. O olhar choroso deu espaço a um olhar mais cauteloso e toda a minha força e vontade de brigar foram se esvaindo conforme seus lábios encontravam os meus. Era um golpe baixo. O beijo foi sugando a minha raiva e transformando novamente tudo aquilo em algo muito íntimo, quente e apaixonante.


- Está mais calmo? – Perguntou, no pé do meu ouvido. Eu balancei a cabeça, assentindo. E mais uma vez ela venceu. – Que bom...

Como eu a odeio.

Lana se ajeitou nos meus braços assim que desabamos no sofá, na mesma posição que toda essa confusa noite começou.

- Eu não posso viver assim, Lana. – Sussurrei, de olhos fechados. Quando abri meus olhos, sabia que ia chorar. – Não dá para ser assim. Eu não posso.

- Eu sei... – Ela tinha compreendido, enfim, o quanto aquilo tudo mexia comigo.

- Com você é tudo muito profundo, mas deste jeito não dá. Está me fazendo mal... E eu não posso ficar mal por você mais uma vez.

Nós acabamos chorando juntos. Eu nem sabia o real motivo de estar chorando, mas era muito cansativo fingir não sentir nada a todo tempo.

- Eu vou ficar longe de você, Ander.

Ela selou os nossos lábios, entre o gosto salgado das lágrimas e o de uma paixão que era mais forte do que eu podia controlar.

- Fecha os olhos. – Obedeci. – Eu vou ficar longe de você... Prometo.

Quando ouvi o barulho da porta sendo fechada, abri os olhos e ela tinha ido embora mais uma vez. E junto dela, toda a defesa que criei para fugir justamente do meu amor por Lana Hassenback.

 

Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 08/03/2020
Reeditado em 18/01/2024
Código do texto: T6882830
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