Capítulo 38 – No fim, o céu e o amor de Mabel – Parte II

 
Lana levantou para beber um copo de água e viu quando Ander passou pelo corredor. O olhar dos dois se encontraram, mas ela desviou, muito cansada. Ander entrou, em silêncio. Ele e a tia se dividiam nos cuidados com Mabel.

- Oi.

- Oi. – Lana bebeu a água e jogou o copo de plástico no lixo. – Tudo bem? – Voltou a se sentar, mas não olhou para Ander. Ele sentou ao lado dela e não houve tempo para fugir.

- Estou bem, Lana. E você?

- Bem. Liguei para o Bruno. No dia que a Mabel nasceu, ele viajou a trabalho, mas está quase chegando. E a Mabel?

- Ela é linda! – Ele sorriu, maravilhado.

A bebê era robusta e saudável. Tinha os cabelos muito castanhos e lisos, com doces olhos cor de mel, uma mistura da cor de Lexi e Bruno. Os traços eram muito parecidos com o da mãe, mas a doçura no olhar, era uma herança do pai.

- Lexi vai ficar bem. – Lana murmurou, mas era como um mantra. Não tinha mais certeza, mas precisava acreditar. – Não vai?

- Vai sim! – Os dois se abraçaram. – Claro que vai. Ela é muito forte, Lana. – Ela procurou a mão de Ander e juntou seus dedos. Precisava dele naquele momento. – Pode ficar tranquila.

 
Mais tarde, Bruno chegou no hospital, completamente descontrolado e procurando notícias de Alexia. Foi Lana que sentou com ele para conversar num lugar mais reservado e também acalmá-lo. Ander aproveitou para buscar notícias de Alexia.

- Obrigado, Lana. – Bruno segurou a mão dela. – Obrigado por salvar minha filha e a Lexi. Eu não tenho palavras pra agradecer. Independente da nossa história, o que você fez por elas foi muito maior que qualquer mágoa.

- Eu faria tudo novamente. Lexi é mais que uma amiga, ela é uma irmã. Você viu a Mabel antes?

- Sim, ela é muito linda. Precisei da ajuda da dona Eleanor para segurá-la. Confesso que chorei demais quando a olhei nos olhos. É a cara da Alexia.

- Ela vai ficar bem.

Os dois se abraçaram e não havia nada além de um afeto genuíno. Um afeto que antes fora um amor muito especial, mas fora convertido em algo mais leve, fraternal. Do jeito que tinha que ser.

Eles voltaram para a sala de espera e Ander entrou algum tempo depois. Sua expressão era de surpresa, mas uma surpresa não muito grata. Bruno e Lana travaram, esperando que ele falasse alguma coisa.

- O que foi? – Perguntou Lana.

- O Lucas trabalha aqui. – Lana sentiu-se levemente desconfortável. Seu ex-noivo, seu ex-namorado da adolescência e seu quase namorado médico, todos no mesmo local. - Ele disse que Alexia está bem e não há motivo para nos preocuparmos. – O alívio foi geral. – Mas...

- Mas...? – Dessa vez era Bruno que perguntava.

- Nada, é coisa minha. Hã, como você chegou aqui, Bruno, vou para casa ver se minha tia precisa de alguma ajuda. Me acompanha, Lana?

Não era bem um convite e Lana percebeu isso.

- Sim.

- Eu dou notícias para você dois. – Bruno avisou, com um meio sorriso. – Valeu, gente!
 
No caminho, Lana tentou conversar com Ander, mas ele dirigia silencioso e não correspondeu as tentativas de conversa dela.

- Vou passar no meu apartamento, tomar um banho rápido e depois vamos para a minha tia ver a Mabel. O que acha?

- Acho bom, mas eu...

- Tem roupa sua no apartamento. Você pode tomar banho lá. – Lana balançou a cabeça, assentindo. Não queria ficar sozinha com Ander, mas não tinha forças para discutir.

Quando chegaram, Dinorá sentiu o cheiro de Lana de longe e miou incansavelmente para a dona. As duas brincaram por um tempo na sala, até que a voz de Ander chamou a atenção dela.

- Lana?

- O que?

- Pega uma toalha pra mim no meu quarto!

Como já conhecia todo o apartamento dele, foi direto na gaveta e tirou uma toalha azul. Entrou no banheiro, nervosa e encostou na pia do banheiro. Ander estava de costas para ela.

- Cadê?

- Aqui. – Ele se virou e achou graça do nervosismo dela. – Pega logo essa toalha.

- Para de ser boba, se aproxima.

- Não. – Ander deu um risinho malicioso. – Qual é a graça?

- A graça é você com medo de se aproximar de mim.

- Não estou, só quero voltar para a sala. - Ela estendeu a toalha no box e deu dois passos em direção a saída, mas Ander a agarrou por trás. – ME SOLTA! – Sob protestos, ele conseguiu colocá-la debaixo do chuveiro. – OLHA O QUE VOCÊ FEZ, IDIOTA!

Ander viu as formas de Lana se insinuarem para ele e precisou respirar muito fundo para se controlar. Ela se calou diante do olhar dele e deu um passo para trás, acuada. Já não sentia mais raiva, na verdade, tinha era medo do quanto os dois se amavam.

Ele deu o primeiro passo, confiante de quem era e do que tinham. Baixou uma alça do vestido dela, depois a outra, até que a água fez o restante do seu trabalho e Lana se viu completamente nua na frente do homem que amava. Tinha mil motivos para não estar ali, e todos muito plausíveis, mas o único motivo que a mantinha ali era maior que todos os outros.

- Ander, nós...

- Shh...

Eram devotos um do outro, se pertenciam e viviam uma história que era de outras vidas, afinal touro e escorpião nunca se perdem. Nunca se perdem.

 
Alexia despertou pela manhã, mas ficou de olhos fechados, ouvindo Bruno falar com ela.

- Você merece alguém melhor e todos sabemos disso, mas esse tempo que passamos juntos foi tão especial, Lexi. Me lembro de você equilibrando um boneco meu do Wolverine na sua barriga e como rimos daquilo, né? Eu nunca ri tanto como quando estou contigo. Você é a melhor companhia que já tive. Ou aquele dia que dormimos juntos e sentimos a Mabel se mexer... Lembra? Não quero ficar sem você... E nem a Mabel. Ela é tão linda. Tão doce. Eu nunca pensei que amaria tanto um bebê... O nosso bebê.

Bruno deixou um beijo na testa dela, que o segurou pelo pescoço e o surpreendeu com um beijo apaixonado.

- Ei! Lexi... – Ele equilibrou o peso dele em cima dela, enquanto ganhava uma linha de beijos no pescoço. – Pelo o amor de Deus mulher, nós acabamos de ter a Mabel, já quer dar um irmão para ela?

A pergunta fez Alexia rir. Ela tocou o rosto dele, depois seus cabelos.

- Cadê a nossa filha? Eu estou muito grogue de remédios, mas sabia que sou apaixonada por você?

- Está com sua mãe e muito bem. Os médicos a liberaram... E Sabia sim. E sabia que me apaixonei por você também?

Ela sorriu, assentindo com a cabeça enquanto fechava os olhos, muito sonolenta.

- Dona Eleanor? Oi, é o Bruno. – Ele desceu da cama. – Sua filha acordou, pode trazer a Mabelzinha, por favor? Avisa o Ander e a Lana? Ok, obrigado! Beijão!
 
 
(...)
 
O primeiro encontro de Mabel com Alexia fez Lana chorar copiosamente. Ela sorriu, e entrelaçando seus dedos aos de Ander, ao seu lado. Emocionada, lembrou de uma Lexi anos mais jovem dizendo que não tinha o menor jeito para ser mãe. Até podia não ter, mas aquela vida que segurava também era o renascimento de Alexia como mulher e agora mãe.

- Meu Deus, nem se eu nascesse de novo faria uma filha tão linda assim. Olha isso, mãe! – Eleanor limpou uma lágrima do rosto e concordou, muito emocionada para falar. – Gente, para de chorar, por favor! O leite vaza.

Todos os presentes no quarto – graças a autorização do Dr. Lucas – riram do bom humor de Alexia. Lana reparou no olhar cheio de amor de Bruno para as duas e soube naquele momento que ele não a amava mais. O que ela nunca pôde proporcionar a ele, Alexia daria sem pensar muito.

Lana pediu licença e saiu sem explicar o motivo. Não era muito boa com isso. Quando saiu, encontrou Lucas conversando com uma enfermeira.

- Olá! – Lucas se aproximou e deu um beijo na bochecha dela, educadamente. – A gravidez de sua amiga mexeu contigo.

- Oi, Lucas! É, mexeu demais. E junta isso a uma fase de cão que estou vivendo.

- Você é uma mulher forte.

Desde o dia que Lucas a ajudou a fugir de Ander no restaurante os dois não conversaram mais. E Lana, sem saber como finalizar aquilo, optou por ignorar todas as ligações e mensagens do médico.

- Lucas, espero que me desculpe por não ter retornado suas ligações e mensagens. Eu...

- Você ama o Ander.

- É. Eu amo ele. Tentei começar outra coisa, ficar longe, mas tudo me leva para ele. Se bem que agora acabou. Vou para fora do país e isso tudo virará uma lembrança. – Lucas abriu a boca duas vezes, mas manteve-se em silêncio. Era Ander que tinha que falar, não ele. – Bom, se perguntarem de mim, diga que mais tarde apareço para ver Mabel e a Alexia.

- Tudo bem. Descanse, Lana.

Lucas acompanhou Lana, até perdê-la de vista pelos corredores. Um tempo depois, Ander parou ao lado dele.

- Eu vou chama-la para ir até o meu apartamento hoje. Fico te aguardando, Lucas.

- Estarei lá. Ela pode ser perigosa, fique atento.

- Obrigado.

Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 07/03/2021
Reeditado em 31/07/2022
Código do texto: T7200798
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