Senhora das Tempestades
Senhora das Tempestades
(Manuel Alegre -1998)
Declamado por Maria Bethânia
Senhora das tempestades
e dos mistérios originais
Quando tu chegas,
a terra treme do lado esquerdo
Trazes a assombração
As conjunções fatais
E as vozes negras da noite
Senhora do meu espanto
e do meu medo
Senhora das marés vivas
e das praias batidas pelo vento
Senhora do vento norte
com teu manto de sal e espuma
Há uma lua do avesso quando chegas
Há um poema escrito
em página nenhuma
Quando caminhas sobre as águas
Senhora dos sete mares
Conjugação de fogo e luz
E no entando eclipse
Trazes a linha magnética da minha vida
Senhora da minha morte
Quando tu chegas, começa a música
Senhora dos cabelos de alga
Onde se escondem as divindades
Trazes o mar, a chuva, as procelas
Batem as sílabas da noite
Batem os sons, os signos, os sinais
E és tu a voz que dita
Trazes a festa e a despedida
Senhora dos instantes
com sua rosa dos ventos
E teu cruzeiro do sul
Senhora dos navegantes
Com teu astrolábio
e tua errância
Tudo em ti é partida
Tudo em ti é distância
Tudo em ti é retorno
Senhora do vento
Com teu cavalo cor de acaso
Teu chicote, tua ternura
Sobre a tristeza e a agonia
Galopas no meu sangue
com teu cateter chamado
Pégaso
Senhora dos teoremas
e dos relâmpagos marinhos
Senhora das tempestades
e dos líquidos caminhos
Quando tu chegas,
dançam as divindades
E tudo é uma alquimia
Tudo em ti é milagre
Senhora da energia!