Quarto dia

Os três dias de folia, de cachaça e poesia, já chegaram ao fim.

Olho em torno da Avenida e não vejo a bateria. O que restou pra mim?

Arquibancada está vazia, tudo é só melancolia. O sonho acabou.

E na passarela, nem Salgueiro, nem Portela, só você e eu.

Desfilei no carro chefe, muito luxo e confete, onde eu era um rei

Num castelo de diamantes, com mulatas provocantes, tudo o que sonhei.

Hoje volto ao meu barraco, lá no morro do Farrapo, o sonho acabou.

Quatro horas da matina a buzina lá na esquina me chama pra trabalhar.

Caminhão de bóia-fria, me traz pra realidade, não dá pra cantar.

Mais um dia angustiante, sob um sol estonteante, chega ao fim, vou descansar.

Chego em casa à noitinha, abro a porta da cozinha, você vem se lamentar:

“Falta leite pras crianças”, me falta até esperança. O sonho acabou.

E na passarela, nem Salgueiro, nem Portela, só você e eu.

Lembro o luxo e o confete, que no choro do pivete, desapareceram.

Assim vai o ano inteiro: vai dezembro... vem janeiro... minha escola a ensaiar.

Samba enredo, alegria, minha vida à fantasia, já dá pra cantar.

Deixo o choro no barraco, lá no morro do Farrapo, o sonho começou.

E na passarela, tem salgueiro, tem Portela, tem você e eu.

Délcio Mores
Enviado por Délcio Mores em 11/04/2007
Código do texto: T445626
Classificação de conteúdo: seguro