A CRISE

A crise instalou-se como uma grande nuvem que encobre o sol. A crise impediu os raios do sol. A crise sempre vem para retirar das plantas a sua capacidade de produzir seu próprio alimento. A crise retira o sustento. Não deixa nada nascer.

A crise é uma doença que pega qualquer um no meio da chuva. Ela engessa o corpo. Ela dói por todo corpo. Ela enruga.

Não suporto mais assistir a minha mente ter vida própria, pensando coisas que eu não quero.

Dentro de mim existe um cemitério, cheio de lápides com nomes de sentimentos "mal" sucedidos.

A crise está dentro de mim como um vestido, cobrindo o corpo cheio de lama, lodo e tramas de capim.

A crise instalou-se em mim, levando das minhas células o que eu preciso para viver. Ela não vai me vencer, pois já faz parte de mim.

A crise é um jardim cheio de formigueiros. É o gosto amargo do desassossego. Nasci chorando e vou morrer calado, pois a crise leva de mim bocados, como um facão, como um machado.

A crise retorna sempre que eu chego até a praia, após nadar léguas mar adentro. A crise é um tormento. É pior que lamento, de uma pessoa deprimida que não encontra ninguém na madrugada fria. A crise é uma epidemia. A crise é o ralo da pia que quer me engolir.

A crise é um discurso sobre mim. Ela é um arquivo de repartição de governo cheio de poeira. A crise é um monte de besteira que vejo na televisão.

A crise irrita. Mas seria bom que ela viesse como bala perdida, acertando, sem eu ver, a minha fonte.

A crise é desmonte, onde cada pedaço de mim derrete como vela. A crise também é bela, pois sem ela não escreveria esta canção.

LUCIANO DI MEDHEYROS
Enviado por LUCIANO DI MEDHEYROS em 14/12/2018
Reeditado em 29/04/2020
Código do texto: T6527204
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.