MINI CURSO DE REDAÇÃO

Método: (Re)Engenharia do Rock
Técnica: TEMPO - ESPAÇO - LUTA


PROF.LEONARDO DANIEL RIBEIRO BORGES



DISSERTAÇÃO:

1. INTRODUÇÃO = TEMPO


Este tempo não é necessariamente um apontamento exclusivo, não é pontual algo que acontece agora ou que aconteceu em tal época, num passado isolado, MAS, sobretudo este tempo é a referência do texto à contextualização histórica, portanto ele é uma evolução temporal, é um tempo circular e não somente linear as coisas se repetem no tapete da existência, perceber o mesmo e o diferente no tempo em que vivemos é mais do que entender o processo histórico é tomar consciência do sentido da sua própria vida, o que dará força e tranqüilidade para começarmos uma dissertação.
Uma introdução deve ter um parágrafo único, escrito em média em 5 ou 6 linhas (letra de tamanho “médio” e para uma redação com cerca de 30 linhas). Essa orientação vele para todo e qualquer tema apresentado no gênero dissertativo.


2. DESENVOLVIMENTO = ESPAÇO

O desenvolvimento de uma dissertação deve reportar o tema já apresentado numa evolução temporal a um ambiente físico específico, por isso, o desenvolvimento nada mais é do que uma contextualização espacial (portanto é sócio-econômica e cultural).
Assim sendo, o desenvolvimento é a descrição do que se vê em relação ao tema, o aluno deve estar atento para perceber como esse espaço determina o homem, e, como é determinado pelo homem. Tudo que acontece... Acontece num lugar, cada lugar é único, porém apresenta semelhanças com outros lugares, seja pela globalização, seja pelo etnocentrismo , porém perceba que essa semelhança é um artifício humano, pois cada região tem sua geografia distinta que muda principalmente por nossa intervenção. Sob essa ótica deve seguir seu texto, lembre-se que escrever sobre violência no Iraque de hoje é diferente de falar de violência no “mesmo” Iraque de 20 anos atrás, a violência no Iraque é diferente da violência na Colômbia, que é diferente da violência no Rio de Janeiro, etc.
No entanto, essa mesma violência tem características semelhantes... Tanto nas causas, como nas conseqüências.
Todos dizem que dissertação é argumentação, que dissertar é defender um ponto de vista, que precisamos ter uma opinião formada e idéias sobre o assunto, etc., etc. etc.
Porém, o que quase ninguém reconhece é que a própria palavra IDÉIA tem em sua origem grega, o sentido de FORMA, ou seja, quem teve uma idéia viu ou vislumbrou alguma coisa, idéia é visual, bem como percebeu a cultura pop ao mostrar a idéia como uma lâmpada acessa e a cultura erudita iluminista a ponto dos iluministas franceses dizerem que eles eram iluminados.
Defender um ponto de vista é mostrar o que está errado, feio, caótico, conturbado, para que algo possa ser feito, no mínimo é denunciar evidências perceber as suspeitas e sugerir alterações, isso são os EXEMPLOS necessários a uma dissertação.
No entanto, veja uma coisa: desenvolver é des-envolver, é o contrário do envolvimento é ver a feiúra sem se tornar feio, é ver o que há de errado sem que para isso se erre também, isso é que dá o tom assertivo do texto, isso é que garante a coerência e objetividade da dissertação, é um olhar clínico, científico.
Só que nem tudo é para ser cientificado, precisamos de emoção, então o que é a INSPIRAÇÃO? A inspiração em sua força motriz é um segredo que escapa às palavras, porém em sua constituição resultada em palavras ela é o contrário da INDIGNAÇÃO. Não pense, todavia que elas simplesmente se repelem, pois elas se complementam. A inspiração pode levar à indignação e na indignação pode despertar a inspiração. Os fatos que dirão tudo. Quando agimos indignados geralmente erramos, por isso, já disse o filósofo antigo Sêneca se não me engano que: “A indignação é indigna”, mas ela não deixa de ser um motor, e, além do mais, até mesmo diante da mais sublime, maravilhosa e inefável inspiração (e toda inspiração é assim) podemos perder nossa ação por duvidar daquilo que tínhamos que fazer, isso é muito estranho, mas acontece, A FALTA DE FÉ NÃO É DEIXAR DE VER LUZ NAS TREVAS, É MIRAR O SOL E NÃO VER O SOL...
Vamos então ter mais cuidado com nossa expressão e uso VERBAL. Não diga ACREDITO, pois se acredita é porque não viu, ninguém é louco de precisar de acreditar no que ver, até os loucos são loucos por declarar e atuar conforme a percepção do que não é visto pela norma. Para mim o verbo ACREDITAR veio de uma evolução lingüística (chamada metaplasmo por aumento) do verbo latino creditare (creditar, dar crédito). E da mesma forma que esse aumento da vogal ‘A’ significa negação nos casos:

• Apatia (falta de phatos, paixão);
• Abiótico (sem vida);
• Agnosticismo (ignorância ao conhecimento gnóstico);
• Abolir (encerrar) e bulir (mudar de lugar);

Trago o pensamento no qual acreditar é o contrário de dar crédito, “pagar pra ver”, apostar, arriscar, investir etc., pois não acreditar, desacreditar é tão imobilizante quanto acreditar, a estática é quase a mesma, no primeiro caso você fecha os olhos e diz que não há nada pra ver, no segundo você ainda de olhos fechados diz que está vendo.
Porém, não se assustem, ter FÉ é diferente, pois TER é algo do qual tomamos para nós, é passível de ser presenciado, a fé é o que faz uma criança pequena saltar de braços abertos sem hesitar de que será agarrada por alguém em quem ela tem confiança, isso está além da CORAGEM, pois coragem já é quando há a consideração do machucar e também é até maior que a ESPERANÇA, pois a esperança é quando voltamos o olhar para fé.
Portanto, como quer convencer sobre seu ponto de vista e na verdade, com o verbo acreditar, você nem viu ainda?
Outro problema está na regência habitual do verbo ACHAR, pois veja como ele é usado:

• O maior problema do Brasil é a corrupção, portanto eu acho/achamos que o povo deve se informar mais.



O verbo achar é usado quando se perde alguma coisa:

• O Brasil ao longo de sua história perdeu cada vez mais a ética que só poderá ser achada, quando nós virmos que o sofrimento nos olhos dos outros é também da gente.

A partícula ‘que’ e pronomes entre o verbo achar faz ele perder sua força de expressão, pois se você acha o Brasil corrupto, você nem achou os lugares dessa corrupção, já que um país é um abstrato de nação toda nação é uma pluralidade, como também não encontrou o que é o Brasil e o que são os brasileiros.
Com isso, podemos afirmar que o desenvolvimento da dissertação é a caracterização do cenário onde a humanidade lutará e podemos ressaltar ainda que esse cenário é natural-geográfico e geopolítico-urbano.
Atenção não fanatize sua linguagem não pare de usar na sua fala diária os verbos apontados sem ter compreendido o sentido disso, porém evite-os na escrita, pois eles, como foi mostrado, limitam o texto. Sejamos precisos, mas sem preciosismos.
Não precisamos saber tudo sobre o tema, podemos ter incertezas, mas lembre-se sempre duvidar já é uma ação produtiva é, por essa razão, melhor do que “ter dúvida”, haverá justiça se no nosso texto perguntarmos, indagarmos, questionarmos com sinceridade (dúvida real) ou para simpatizar o leitor (pergunta retórica). Na maioria das vezes é nesse momento mesmo em que a INSPIRAÇÃO – INDIGNAÇÃO parece se manifestar. Conseguiu imaginar?


3. CONCLUSÃO = LUTA

Depois de tudo que dissemos... você já deve ter percebido que numa dissertação contextualizada com o tempo histórico e com o espaço sócio-geográfico muita coisa deve ser feita para que os erros sejam corrigidos, os males sanados e a infelicidade possa voltar para sua caverna e adormecer por uma eternidade...
Essa imagem poética pode parecer apenas um sonho do poeta, mas é na verdade o que todos querem, mesmo os mais torpes e bestiais pensam estar em condescendência com o correto e este é o mal da CONVICÇÃO.
A convicção é o que podemos chamar de “fé cega”, pois ela tem tanta força a ponto de comandar exércitos poderosíssimos, porém para a morte... A convicção é dogmática, intolerante e autoritária ela não convence, ter no seu individualismo um afastamento do leitor que se pergunta: “aonde esse ‘cara’ quer me levar?” e mesmo que esse lugar seja o céu... Pela maneira obrigatória na qual ele foi apresentado, o céu mais se parecerá com um inferno.
Vejamos juntos o que diz os seguintes verbos:

• CONVERTER: verter para outra direção:
A transposição do rio São Francisco é um projeto de conversão de parte da sua vazão.
• CONVERTER: conseqüência, resultado:
A transposição do Velho Chico converterá em melhoria da existência daqueles que terão acesso à água.
• CONVERTER: mudança de convicção:
Não me restam dúvidas que agora o homem é mais poderoso que a natureza.
O avanço da ciência me dá a convicção de que hoje somos melhores

• CONVENCER: vencer em conjunto;

A vida não é meramente existir, a vida é um sentimento de união.
Não podemos fazer da dor do cárcere a impunidade dos bandidos assassinos e corruptos.

“Me dá a tua mão
Vem viver, vem lutar lado a lado
Me dá a tua mão
Me protege e terás proteção
Minha mão... meu irmão”
(Humberto Gessinger)

O que aprendemos de tudo isso? Apreendemos que a vitória só é dada ao convencer, que é dialético, nós só convencemos se estamos convencidos e só estamos convencidos se sentirmos com sinceridade a capacidade de convencer alguém e isso é mútuo, é interno e externo, é individual e coletivo, é o que nos faz humanos... gregários... e o que sustenta a civilização. A sinceridade é o caminho para a confiança.
E confiantes vamos à luta. A conclusão da dissertação é uma luta que poderá nos levar a vitória, mas só de vermos o caminho da justiça somos agraciados pela glória de lutar.
Agora fica mais claro que a convicção sendo a vitória sobre a vitória (com-victoris) só pode resultar em derrocada derrota, porque quem chuta o adversário no chão se abaixa mais do que ele.
Na conclusão decida-se sobre COMO LUTAR, uma vez que O QUE LUTAR já foi apresentado na introdução (origem e fim da luta) e O PARA QUE LUTAR já foi demonstrado no desenvolvimento (motivos da luta atual).
Essa luta para ser justa tem que ser uma LUTA POR JUSTIÇA. Não há justiça sem misericórdia, afinal misericórdia é o amor que o miserável traz ao mundo. Etimologicamente MISERICÓRDIA é a compaixão para com o coração do miserável. Agora não façamos confusão... o mendigo e o mísero não são necessariamente o miserável...
Vejam os dois pratos na Balança de Libra, na BALANÇA DA JUSTIÇA eles comprovarão o que estou dizendo. O equilíbrio exato é a justiça - misericórdia é o bom senso e maturidade na sua redação.
Como já dizia Alberto Caeiro (heterônimo de Fernando Pessoa):

“Pensar é está doente dos olhos”

Vamos então aprender uma coisa sobre dissertação para nunca mais esquecermos:

DISSERTAÇÃO É VISÃO DISSERTAÇÃO É VISÃO DISSERTAÇÃO É VISÃO
DISSERTAÇÃO É VISÃO DISSERTAÇÃO É IMAGINAÇÃO DISSERTAÇÃO É VISÃO

Na introdução você viu o tempo.
No desenvolvimento o lugar.
Na conclusão a luta.



Vendo o TEMPO você viu a origem e o final do que ELES fizeram
De como eles lutaram, verbos no passado é que trazem a recordação
Bem-vindo ao texto

Vendo o LUGAR você viu as CAUSAS que trouxeram a luta até os dias atuais
Motivado por ver, verbos no presente para não repetir erros ancestrais
Bem-ficado ao texto





Vendo a LUTA você viu a si mesmo APAGAR-ME

apagar-me
diluir-me
desmanchar-me
até que depois
de mim
de nós
de tudo
não reste mais
que o charme

Paulo Leminski

EU

eu
quando olho nos olhos
sei quando uma pessoa
está por dentro
ou está por fora

quem está por fora
não segura
um olhar que demora
de dentro de meu centro
este poema me olha

Paulo Leminsk


E saberá o que é preciso fazer, verbos no futuro afinal não há só EU nem só VOCÊ.

Dissertação O que fazer?
Defesa de um ponto de vista
Como fazer?
Um olhar sobre: um TEMPO
um ESPAÇO
uma LUTA
 

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