POST IT - PERFUMES
“É preciso muito bem esquecer para experimentar a alegria de novamente lembrar-se.” (Bartolomeu Campos de Queirós)
Quando o grande avião abriu as portas, e comecei a descer no Aeroporto de Cancun, fui envolvido por fragrância diferente, característica, agradável, única. Procurei na memória qualquer indício de acontecimentos relacionados àquele aroma; não encontrei. Era perfume novo.
Tenho relacionamento antigo, uma história de amizade com os perfumes. Certos cheiros lembram fatos e remetem a momentos marcantes em minha vida. Para muitas pessoas as imagens é que ficam gravadas na memória e lhes trazem recordações. Comigo, isso ocorre principalmente com o sentido do olfato. O cheiro de maçã me devolve imediatamente à infância. Transporta-me aos Natais em viagem sentimental à querida Pitangui.
Meu Pai ia a Belo Horizonte para as compras e na volta trazia brinquedos para distribuir na manhã de Natal. E uma manzana argentina para cada filho: grande, vermelha, envolta em papel cinza-azulado. Eu ficava alguns dias olhando e cheirando aquela fruta mágica buscando prolongar a fantasia do Natal. Quando a consumia, dias depois, saboreando com olhos, boca
e nariz, lá pelo Ano Novo, o fazia devagarinho em atitude respeitosa, carinhosa, como num ritual.
Terminada aquela adoração à fruta mágica, rara naqueles tempos, restava ficar sonhando nos meses seguintes durante a espera pelo novo Natal. Eu gostava de conservar aquele aroma e não o deixava ir embora.
Natal tem cheiro de maçã argentina. E as maçãs argentinas, onde quer que as encontre, devolvem o Natal para mim. Em Cancun senti um novo perfume: único, inconfundível. Que só encontrarei novamente aqui. E do qual também sentirei uma nova saudade.
______
(28/11/2010)