POST IT - UM AMOR DE BOM-HUMOR

Abril de 2014. Domingo em festa para comemorar com antecipação o Dia das Mães, o derradeiro com a presença Dela.

Casa cheia em algazarra pelos reencontros entremeados nas brincadeiras das crianças de variadas idades, preponderantes daquelas que se despem por breve momento das décadas de aniversários conquistados. Todos os espaços da casa preenchidos com a presença da família de onze filhos, noras, genros, netos, bisnetos, e agregados, como define meu Filho Tavo.

Na hora do almoço, cada um dos convivas busca um canto disputando, entre tantos concorrentes, base onde apoiar o prato. Mamãe, tranquila, a tudo observava sentada na poltrona que tinha ao lado pequena mesinha, suporte dos apetrechos para o exercício diário do talentoso ofício de que mais gostava: tecer peças em crochê. No outro lado, à esquerda, sustentáculo para as conexões de sonda nasogástrica por meio da qual Ela vinha se alimentado nos últimos dois meses.

Bate à porta a enfermeira, cuidadora, trazendo a garrafa com alimentação pastosa, cor indefinida. A todos cumprimenta e diz:

-- “Dona Isabel, cheguei com a comidinha!”

-- “Qual o cardápio de hoje? Trouxe lombo com abobrinhas e batatas fritas?”

Os que não conheciam bem as espirituosas conversas de Mamãe, riram amarelo, constrangidos, tentando disfarçar estarem penalizados.

A moça instala o “prato do dia”.

-- “São servidos?”, oferece Mamãe, olhinhos miúdos, espertos, observando as reações “do povo”.

Sorrisos nervosos e tímidos são a muda resposta.

-- “Bom apetite, Vovó”, a todos liberta e libera a Neta mais nova.

A herança permanece. Sorrio até hoje, quando Dela me lembro.

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(19/11/2014)