POST IT - BONDOSO ZELO

“Só me resta agora / Esta graça triste / De te haver esperado / Adormecer primeiro.” (Cassiano Ricardo, 1947)

Não tenho saudades de minha Mãe.

Mamãe teve e criou 11 filhos. Eu o mais velho. Um deles, Cate, o segundo, brincalhão e sempre bem humorado, foi embora 2 anos antes dela. Ela não se conformou nem admitiu esta ausência: dizia com muita ênfase e convicção para todos, mesmo sem lhe perguntarem, que tinha 11 filhos! Ficou em permanente estado de “graça triste” pelo resto da vida.

"Não olho o retrato dele. Não quero comemorar nem Natal nem Aniversário nem Ano Novo. Não quero olhar o retrato dele. Olho o retrato do seu Pai. Mas marido é companheiro. Filho é outra coisa, muito diferente. Um pedaço que foi arrancado de mim. Ficou um buraco no coração que não tem jeito de tapar. Mas vamos viver, né? Vou continuar pensando nele todo dia e fazendo meu crochê."

Sua dedicação e permanente presença na vida de todos nós era sem limites.

Na infância uma de minhas irmãs padeceu de intensa dor de ouvidos: tortura que se repetiu durante alguns anos. Nunca vi minha Mãe reclamar, desesperar, maldizer. Cansada, mas serena, embalava a filha e a medicava com o que havia disponível à época com extremo zelo.

Algo parecido testemunhei anos depois quando minha Neta teve problemas respiratórios que demandavam atenção 24 horas por dia. O zelo e paciência de minha Nora me remeteram a Mamãe.

Não tenho saudades de Mamãe, mas lembranças reverentes. Foi um privilégio que não se esgota.

_______

(19/11/2014)