ENQUANTO OS CARRILHÕES REPICAM....

O céu está mais azul, os pássaros mais alegres, as flores mais perfumadas, as noites mais brilhantes, engalanadas de um luar azulado, de estrelas tão pisca - piscantes quanto as luzes coloridas que enfeitam as árvores de natal, os umbrais das janelas, as fachadas das casas, os edifícios, as ruas...

As ruas, onde não apenas pessoas com poder aquisitivo transitam, mas também gente humilde, como aquela criança que engole a saliva amarga, espiando com olhos gulosos e sem esperança, aquele bolo todo enfeitado, apetitoso, bonito, que parece tão saboroso, através do vidro da vitrine, que lhe parece a anos luz, de distância, enquanto sua barriguinha reclama, dolorida, pela falta de um pedaço de pão seco, e tirita de frio ante os olhares indiferentes; como aquela velha senhora andrajosa, usando apenas um vestidinho desgastado, sem agasalho outro que não um pano qualquer, encardido, sobre os ombros, abraçando - se, na tentativa de aquecer - se, proteger - se do vento gélido, quando não estende a mão suplicando uma migalha do que os passantes gastam em presentes, em coisas materiais, em iguarias que enfeitarão com capricho, sua ceia de natal, onde se fartarão, comerão e beberão, sem ao menos lembrar - se de que o mundo não é feito apenas de gente "bem", que enquanto os carrilhões repicam, festivamente, pelas ruas, favelas, barracos, guetos, sob viadutos, etc... os chamados "excluídos" estarão apenas sonhando com as mesas fartas das casas ricamente iluminadas, que de longe vislumbram, muitos chorando por não terem um pedaço de pão para os filhos que, acreditando em papai Noel, se encolheram em algum cantinho, para dormir, à espera do sonhado presente que nunca chegará, porque papai Noel não sabe o endereço deles; alguns orando, apesar de tudo, agradecendo a Deus a sorte que lhes foi destinada, implorando a Jesus que "no ano que vem, as coisas sejam diferentes..."... Meu Deus, onde, as tão decantadas fraternidade e solidariedade? Onde a caridade que teria que ser a tônica das atitudes do ser humano, não apenas no natal, mas em cada dia dos trezentos e sessenta e cinco que formam o ano? Porque a fome, as necessidades básicas não se manifestam, não aparecem apenas nos finais de ano! Assombra - me a indiferença, o egoísmo com que os nossos semelhantes humildes, seres humanos carentes de tudo, são tratados, quando não totalmente esquecidos, expulsos das consciências, para que não atrapalhem nem mesmo com a lembrança de que existem!! Jesus foi sempre tão humilde... Nem uma casa teve, para morar, uma cama sua, para dormir, seus braços eram seu travesseiro, seu manto esfarrapado, seu agasalho e ainda assim, deu de Si absolutamente tudo, para nos ensinar que: "Os que se exaltarem, serão humilhados, mas os que se humilharem serão exaltados", e ainda, que "Os últimos serão os primeiros.". Mais de dois mil anos e a humanidade ainda não assimilou Suas lições de Fé, Amor, Caridade, Fraternidade, Solidariedade, Desprendimento, Humildade e Paz, porque ainda hoje, grassa o egoísmo, a ignorância, mundo afora, nas guerras pelo poder de um mundinho insignificante que, num piscar de olhos, quando menos se esperar, virará poeira!! E ai daquele que nada fez pelos "pequeninos", porque sua hora terá chegado, então, de prestar contas, ao Pai.