A VITÓRIA DOS MAUS, GRAÇAS AOS "BONS"

Sobre um político que nem parece político

Políticos quase sempre são famosos por usarem pessoas em suas campanhas. Quase sempre é verdadeira, essa fama. Mas o que presenciei na campanha de Jarinho, a vereador mageense, foi justamente o oposto. Nunca vi um postulante ao cargo de parlamentar municipal ser tão usado pelas pessoas. Especialmente, por lideranças. E lamentavelmente, por lideranças religiosas. Da mesma fé que ele professa.

Jarinho fez uma campanha limpa. Não fraudou, não estabeleceu um curral, não impôs cabresto aos irmãos e liderados de sua igreja, em especial, nem de sua comunidade extra-fé. Não exigiu votos. Pediu. Não propôs troca de favores pessoais por votos. O máximo que fez foi reunir pessoas em poucos almoços e momentos de lazer, com o fim explícito e transparente de expor sua intenção e seus motivos de querer legislar.

Pagou o preço amargo de sua honestidade. Foi punido por não querer manchar seu nome com expedientes vexatórios durante a campanha. Posso dizer que foi traído pelos irmãos de fé, tanto em sua igreja quanto nas demais que firmaram com ele um compromisso. Que o fizeram ter certeza de seus votos. Se ele se deteve de fazer muitas promessas, acabou ouvindo muitas promessas. Foi ele, o político, quem recebeu tapinhas nos ombros, ouviu palavras demagógicas e obteve a garantia dos que tiveram coragem de abarrotar os ditos momentos de "boca-livre" e lazer, aclamando-o, para depois elegerem seus Barrabases. Os políticos famosos, ricos e de má fé que sempre conseguem levar vantagem entre os fiéis mal orientados pelas lideranças que sempre levam também suas vantagens pessoais.

Tenho certeza que ao vir este desabafo o Jarinho pedirá que o retire. Conheço-o o suficiente para saber o quanto é ético. Mas espero que ele demore a visitar seu blog (sou o gerenciador deste espaço), para que aqueles que o traíram (não pelo não voto, mas pela promessa da votação em massa, do apoio cerrado, e pelo material de campanha jogado fora ou escondido nas residências, enquanto o candidato era iludido) leiam e reflitam sobre o que se tornaram. Entendam, o que acho difícil, que falsidade também é pecado.

Ao Jarinho, minha solidariedade. Ao mesmo tempo, os parabéns pelos quase quinhentos votos conquistados nas ruas, entre os ditos infiéis. Foi um número razoável de votos, considerando que os seus (não me refiro a sua excelente família, mas aos irmãos da igreja) não votaram nele, excluídas as excessões, que Jarinho certamente sabe quais são. Se não fosse traído, uma boa parcela desses votos, somados aos obtidos entre os que passaram a conhecê-lo durante a campanha, meu amigo estaria eleito e o grande número de evangélicos abandonados pela oficialidade neste município teriam seu representante.

Graças a essa demagogia; à infidelidade dos fiéis e aos interesses não apreciáveis desses fiéis, mais uma vez os perigosos venceram; os maus, os fúteis e os enganadores se deram bem. Não quero estar na pele dos homens e mulheres "de Deus" que ajudaram, como sempre, na manutenção desse quadro caótico inacreditável que se arrasta em nossa cidade. Agora só resta que os maus líderes evangélicos, tão maus quanto os maus políticos, recebam seus benefícios pessoais em troca das "trinta moedas", deixando os mais simples na eterna expectativa frustrada. No fim, mesmo sendo um homem que não comunga nenhuma fé, sei que cada um dará conta de si, de alguma forma, entendendo-se, entre outras coisas, com sua consciência.

Nada mais posso, além de lamentar. É de fato escandaloso o que ocorre dentro das igrejas em épocas eleitorais, quando todos prometem a todos os candidatos o seu voto, e depois elegem os que dão ou deram mais, individualmente. É claro que existem as excessões, e considero o Jarinho uma delas, mas o todo me faz perguntar: Que diabo de deus a igreja prega?

Demétrio Sena - Ou a pedra que finalmente clama

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 11/10/2008
Reeditado em 11/10/2008
Código do texto: T1222875
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