AQUELE PALHAÇO DE PAU

A Q U E L E P A L H A Ç O D E P A U

GLÁCIA DAIBERT

Não há ninguém que não adore as crianças

e não lhes dedique carinho enorme.

É que bem queremo-as, nós nos bem quistamos.

Os enganos, as desilusões,

os desesperos e o fracasso

que todos tivemos, ante o futuro

que fôra idealizado

fazem com que a alma infantilize de novo

e se tome de inveja

pelos que apenas engatinham

sobre as misérias do mundo.

Há em cada mulher em cada homem

uma vontade de começar tudo de novo

uma saudade doida da sua meninice...

De muito longe,

cada um carrega uma impressão

que nunca mais se apagará da lembrança.

Recordo-me bem que

eu tinha uma irrestível fascinação por um brinquedo

com que por força, folgastes também:

- o palhaço de pau, que gira nos basbantes.

Quando aquele trapésio singular

pintado de verde e amarelo

vinha para a festa de meus olhos

sofria um gosto estranho.

Nas pontas de baixo,

apertava gostosamente,

e nas de cima, no cordel trançado,

o palhaço desconjuntado

desarticulava gestos imprevistos

cenas grotescas, atitudes elegantes e bizarras.

Então eu imaginava (vaidade louca)

que o universo seria para mim aquele boneco

Com a ponta dos dedos o manejaria,

dar-lhe-ia as posições que entendesse

pô-lo-ia sempre ao sabor

do meu desejo e da minha ambição

Ah!!! quem dera

ter ficado sempre pequenina

movendo a vida, aquele palhaço de pau

nas mãos macias

que ainda não tinham os calos do sofrimento...

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GLÁCIA DAIBERT
Enviado por GLÁCIA DAIBERT em 21/03/2006
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