Escravos da imagem

Há a escravidão que está diretamente ligada à manipulação da subjetividade das pessoas.

O desenvolvimento da sociedade propicia-nos cotidianamente conceitos de beleza, estética, personalidade, caráter, veiculados através da mídia e a manipulação da massa pode ser observada nos mínimos detalhes, é a poesia caótica da sociedade.

Se um artista aparece pesando “não sei quanto”, vestindo “não sei quem”, comendo “não sei o quê”, viajando para “não sei onde”, então os espectadores deste teatro de marionetes sentem-se incumbidos de uma missão: reverter seus rendimentos a fim de atingir o “status” desse artista, por que ele é “o cara” e dita os padrões necessários para uma vida “feliz”.

O lado visual geralmente sobrepõe-se a qualquer outro talento e nos tornamos monstros num mundo de tantos “corpos deslumbrantes, turbinados, belos”. A sociedade elege em quem se espelhar apenas pela embalagem e surgem então, os escravos desta imagem apolínea.

Porém, não só pelo prisma estético nossa sociedade é regida, mas muito mais pelos pré-conceitos de todos os cidadãos. Por exemplo: não é comum ver a ascensão de pessoas negras em nossa sociedade, um negro na gerência de uma empresa, na direção de uma escola, na presidência da república, pois já vêm vinculados a uma imagem negativa carregada de pré-conceitos. Sempre que estes conseguem tais conquistas, o fato é enfatizado tanto que parece algo surreal ou proibido. Há os que nem se arriscam, pois a pressão é tanta que, se falham, sentir-se-ão humilhados e, se conseguem, serão a exceção da regra, vistos com espanto e deboche pelos brancos que tudo podem.

Temos de regatar nosso caráter, nossa integridade, pois antes de brancos, pretos ou amarelos somos humanos. A igualdade social só será possível quando despirmo-nos de nossos preconceitos herdados por meios tão distorcidos, por informações mal usufruídas, por visuais vazios e degradantes, pois a beleza não se restringe apenas a um corpo escultural. O intelecto, a consciência, a responsabilidade das pessoas não são perceptíveis através da imagem de seus corpos, muito menos da cor de suas peles.

Quando todos nos unirmos por uma causa comum, pela superação dos preconceitos, pela valorização do ser humano, para a melhoria das condições de vida de todos, não desprezando os menos abastados, não criticando os incapacitados, não excluindo os limitados, ao contrário, fornecendo chances de eles dignificarem suas condições de vida, capacitando-os através do fornecimento de opções para chegarem não só ao limite do que podem fazer, mas de superar-se e surpreenderem pelo tanto da capacidade que possuem e que pré-julgamos não possuírem.

Não basta jogar toneladas de informações, há que se preparar o estômago de quem irá digeri-las, a reflexão deve fazer parte do aprendizado das pessoas, já que muitos desaprenderam a pôr a mão na consciência antes de agir.

É necessária a abolição de pré-conceitos, pré-julgamentos e de pensamentos fúteis que só equiparam uma pessoa à outra através dos padrões equivocados de cidadãos aparentemente perfeitos vistos por uma sociedade sem qualquer senso crítico.

Vânia Sousa
Enviado por Vânia Sousa em 01/05/2006
Reeditado em 05/07/2018
Código do texto: T148661
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