Perdoa!

Wilson Correia

Diz o Santo Evangelho: «Não deis aos cães o que é santo, nem jogueis vossas pérolas aos porcos. Pois esses, ao pisoteá-las, voltar-se-iam contra vós e vos estraçalhariam. Tudo, portanto, quanto desejais que os outros vos façam, fazei-o vós, também, a eles» (Evangelho de Mateus, 7).

Coitados dos cães! Não é em homenagem a eles que existem os dominicanos? Domini+canes, os cães do Senhor? Depois, minha amiga, mais que você, o cão se tornou o melhor amigo do homem. Pesquisadinha básica mostrará exatamente isso.

“Pérolas aos porcos”... Por acaso eu vivo em um chiqueiro? E se vivesse, que problema haveria nessa realidade? Ouso dizer que poucos, poucos seres neste nosso mundo seguem o exemplo de Cristo e nos dão a vida como os porcos, diuturnamente. A eles todas as pérolas, sem pestanejar!

“Tudo o que desejais que os outros vos façam, fazei-o vós, também, a eles”. Caraca! Aí está o espírito livre. De quem é dono de si, e não da vontade alheia.

Falar nisso, a vontade alheia pode ser aquela que não o vê. Nós, os humanos, somos mestres em invizibilizar os outros. Perdoa!

Nós, os humanos, somos mestres em julgar a outrem até mesmo sem tê-lo conhecido. Perdoa!

Nós, os humanos, somos mestres em ser ingratos, ignorando até mesmo a afeição ditosa de um amigo que nos louva, enquanto que lançamos na lixeira da memória a existência dele, do seu propósito, de sua proposta de companheirismo, decidido por afeição. Perdoa!

Perdoa!

Reconhecimento é coisa rara, raríssima. Virá, talvez, na forma de placa mortuária, ou, quiçá, em um discurso fúnebre farisaico e hipócrita de quem, vida afora, o relegou ao niilismo do não reconhecimento, da ingratidão, do esquecimento criminoso e vulgar.

Só os ingratos não agradecem a vida que lhes chegam de terceiros. Só as nulidades procuram igualar os outros àquilo que de nada são. Só os francos julgam a priori. Só os frouxos vendam os olhos, para não verem que a própria vida depende de uma multidão.

Perdoa!

Perdoar é ser senhor do tempo, da história e dessa vida mesquinha que nos querem pequenos, tais como aquele grão de areia que o olho natural custa a apanhar.

Perdoa o vosso obtuso olhar!