O exemplo de Ghandi e o garoto João Hélio.

Aquele garoto mirrado, nascido em 2 de Outubro de 1869, em Porbandar, na Índia Ocidental, tinha medo de serpentes, fantasmas e ladrões, era tímido e muitas vezes chegou a sentir vergonha de si mesmo.

Quase se tornou ateu, porque buscava um Deus justo, misericordioso, incompatível com a realidade que enxergava...

Certa vez chegou-lhe de presente um exemplar do Novo Testamento, embora não fosse cristão, deliciou-se com o Sermão da Montanha, afirmando: “o Sermão da Montanha veio direto em meu coração”...

Aquele homem travou lutas íntimas ferozes, sua vida foi um intenso labor por se burilar, por ser melhor, por controlar sua mente, todavia, essas lutas íntimas não o impediram de lutar pela liberdade da Índia frente ao Império Britânico.

Uma luta pacífica, calcada no amor e respeito ao próximo.

Aquele homem pequeno, mas de coração generoso, era chamado de Mahatma, do sânscrito Grande Alma.

Por isso, em 31 de janeiro de 1948, às margens das águas sagradas de Jumma, perto de Nova Deli, uma multidão aguardava a chegada do cortejo fúnebre de Mohandas Karamchand Gandhi: o líder pacifista Mahatma Ghandi, assassinado um dia antes.

Por isso, choravam homens e mulheres, famosos e anônimos, naquele dia deixava nosso planeta aquela fantástica figura humana, que deixou um legado sem igual à humanidade.

Um legado de paz, e que se faz importante relembrá-lo sempre que a violência procure guarida em nossos pensamentos, palavras ou atos.

Mahatma mostrou que as reivindicações podem ser feitas pacificamente, e que a voz da brandura pode encontrar eco e beneficiar a todos.

Ghandi lutou contra a apatia que muitas vezes caracteriza o comportamento humano. Mostrou que a paz pode caminhar ao lado da ação, porque não raro ocorre uma troca de conceitos: muitas vezes confunde-se uma atitude pacífica com inércia ,com não manifestação, com ficar em cima do muro esperando que as coisas aconteçam.

Há também o outro lado da moeda, quando confunde-se ação com confusão e violência, julgando que para agir precisa tomar o partido da belicosidade e da balburdia.

-Se és homem realmente, tome atitude de homem! Dizem alguns mais exaltados, o que trocando em miúdos significa: partir para as vias de fato, revidar uma ofensa...

No caso do garoto João Hélio, barbaramente assassinado, e que causou comoção internacional, o que deve ser feito é uma mobilização nacional pela paz, porque a força da transformação reside justamente na ação, uma ação pacífica, como fazia Ghandi, como fazia Martin Luther King...

Imagino a dor atroz que estão sentindo pais, familiares e amigos de João Hélio ,mesmo porque tenho dois filhos pequenos e me coloco no lugar dos familiares do garoto.

Contudo, embora com o coração sangrando e a saudade machucando, os familiares e amigos de João Hélio trazem consigo um precioso tesouro: consciência tranqüila. Eles não atingiram, ao contrário, foram atingidos, o reencontro com o afeto querido acontecerá, emocionando a todos e mostrando que a vida rasga o véu da morte para surgir poética em outros planos do infinito.

Diferente o caso dos autores do crime, todos eles gravaram na consciência, pesada falta, e que acarretará indubitavelmente um acerto com as Leis que regem o universo.

Pena de Morte para eles? Será que resolve?

Creio que não. Pedir pena de morte e querer vingança não trará o garoto de volta, tampouco trará alento ao coração de seus pais.

Muitas vezes encontramos na indignação humana resquícios de belicosidade, e saudades de épocas onde a barbárie estava ainda no coração humano.

O que traz a paz e conseqüentemente a segurança são pensamentos temperados com amor e atitudes coerentes com esses pensamentos.

O segredo do Mahatma: controlar a mente para que suas atitudes se equilibrem com o meio onde você vive.

Ghandi tinha como lema que cidadão consciente é aquele que procura coibir suas más inclinações: meditação, oração, interação entre corpo e mente. Muitas vezes o Mahatma saia para caminhar ao ar livre, procurando nessas caminhadas refletir diante da grande dádiva que o criador nos possibilitou: a vida!

Muitas derrocadas morais, onde a violência se materializa, estão calcadas na falta de reflexão, na carência de controlar a mente, para que essa controle os atos.

Nas atribulações diárias, onde a vida contemporânea nos imprimi uma série de necessidades ilusórias, muitas vezes nos esquecemos de nós mesmos, de recorrer à oração, de refletir um pouco nos porquês da existência.

O resultado não é difícil de prever: uma sociedade agitada, sem tempo para nada.

Onde freqüentemente o filho pergunta:

- Papai,podemos brincar?

E a resposta vem pronta, ensaiada:

- Agora não, papai não tem tempo!

Onde cônjuges não encontram espaço para o diálogo e vivem a pior da solidão que é aquela vivida a dois.

É a mente acelerada, sem um momento para se desconectar do mundo agitado. Não há tempo para brincar com filhos, papear com amigos, ler uma página edificante, ou mesmo refletir nos rumos existenciais.

Um pouco de meditação, caro leitor, certamente nos leva a ver a vida sob um prisma mais pacífico, mais sereno, mais tranqüilo.

Dirão alguns:

- Tenho dificuldades de concentração, como vou meditar, ou mesmo orar? Controlar a mente então, nem pensar!

Pois sim, tudo é questão de exercício e perseverança, basta dar o primeiro passo.

A propósito, você já fez seu exercício de reflexão hoje?

Wellington Balbo
Enviado por Wellington Balbo em 16/02/2007
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